Povos indígenas

Grupo indígena encontra mais 182 covas em antigo internato no Canadá

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Segundo a organização Lower Kootenay, sepulturas sem nomes abrigam restos mortais de crianças nativas; pelo menos 1.148 valas já foram localizadas

A Escola Missionária de St. Eugene em Cranbrook, foi administrada pela Igreja Católica de 1912 até o início dos anos 1970 (Imagem: AP)

Opera Mundi

Uma organização indígena do Canadá informou nesta quarta-feira (30) uma nova descoberta de 182 covas não identificadas no terreno do antigo internato católico St Eugene’s Mission na província de Colúmbia Britânica.

A organização Lower Kootenay disse que os corpos foram encontrados com equipamentos de radar de penetração no solo. Alguns dos restos mortais foram enterrados em covas rasas com apenas três ou quatro pés de profundidade.

Acredita-se que os restos mortais dessas 182 almas sejam de membros da Nação Ktunaxa”, disse a organização em um comunicado. De acordo com a tribo, as sepulturas sem nomes abrigam os restos mortais de muitas crianças nativas entre 7 e 15 anos, que foram arrancadas de suas famílias.

O internato foi inaugurado em 1890 e tornou-se uma escola industrial em 1912. De acordo com a Comissão de Verdade e Reconciliação, era o local de surtos recorrentes de gripe, caxumba, sarampo, catapora e tuberculose. Em 1969, o governo federal assumiu a operação da Igreja Católica e a fechou.

A descoberta em St. Eugene’s aumenta a lista crescente de túmulos não identificados. Até o momento, pelo menos 1.148 valas já foram localizadas em instituições de ensino do governo canadense para alunos indígenas, administradas pela Igreja Católica.

Na semana anterior, 751 covas foram encontradas no terreno da antiga escola Marieval, na província de Saskatchewan, no centro-oeste do Canadá. No fim de maio, já haviam sido descobertos os restos mortais de 215 crianças em um ex-colégio católico em Kamloops, na província da Colúmbia Britânica, na porção ocidental do país.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, classificou esses episódios como “uma vergonhosa lembrança do racismo sistêmico” e se desculpou pela “política governamental prejudicial” destinada a assimilar a cultura nativa.

Por sua vez, o Vaticano nunca se desculpou pelo tratamento dispensado a crianças indígenas. No entanto, o papa Francisco receberá em dezembro deste ano uma delegação de povos indígenas do Canadá, com o objetivo de “favorecer encontros de diálogo e cura“.

Essas descobertas jogam luz sobre um período obscuro da história do Canadá, onde crianças indígenas eram tiradas à força de suas comunidades para serem levadas a internatos do governo geridos pela Igreja Católica.

O objetivo era fazer essas crianças serem assimiladas pela cultura dominante no país. Além de ser obrigados a abandonar seus costumes e sua língua nativa, esses indígenas eram alvos frequentes de abusos sexuais e físicos.

Após a descoberta das ossadas em Kamloops, grupos indígenas iniciaram escavações em diversos antigos internatos por todo o país, com o apoio do governo.

De acordo com uma comissão de inquérito, pelo menos quatro mil crianças morreram nos 139 internatos para indígenas do Canadá até os anos 1990. A própria escola de Marieval funcionou entre 1899 e 1997, quando foi demolida e substituída por um colégio comum.

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