Com Doria e Covas abandonando políticas contra a violência no trânsito, São Paulo já sinaliza que pode perder os avanços de uma década
Rodrigo Gomes, RBA
Mesmo com as políticas de isolamento social aplicadas na maior parte do ano de 2020, que reduziram significativamente o tráfego de veículos, a capital paulista registrou aumento do número de mortes em acidentes de trânsito, em comparação com 2019. Foram 809 mortes no ano passado, contra 791 no ano anterior.
Para especialistas em mobilidade, a situação mostra o abandono das políticas de acalmamento de tráfego pelas gestões dos tucanos João Doria e Bruno Covas. “Este é mais um reflexo da falta de medidas enérgicas e efetivas por parte da gestão municipal com vista a reduzir a violência no trânsito”, avalia a Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo (Cidadeapé).
O Relatório Anual de Sinistros de Trânsito 2020, da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), mostra que houve queda no número total de acidentes em relação a 2019. Foram 9.837 contra 13.966, respectivamente. Porém, o número de mortes cresceu, com destaque para as de motociclistas: foram 345 óbitos em 2020, contra 297 em 2019. As mortes de ciclistas também aumentaram: de 31 para 37.
Em ambos os casos, o aumento pode estar relacionado também com a maior circulação de motos e bicicletas, em razão dos serviços de entrega, mais demandados na pandemia.
Também houve aumento nas vítimas fatais entre motoristas e passageiros de veículos: foram 104 mortes em 2019, contra 111 em 2020. O único grupo que apresentou queda no número de vítimas fatais foi entre pedestres, com 316 óbitos por atropelamento no ano passado. No ano anterior foram 359.
“Quando há menos veículos nas ruas, com muito espaço para circulação e uma fiscalização insuficiente, motoristas podem se sentir motivados a correr mais com seus veículos e desrespeitar sinais de trânsito. Já havíamos externado a preocupação com essa possibilidade logo no começo das medidas de isolamento social, uma vez que, quanto maior a velocidade no trânsito, maior a letalidade das ocorrências. O total de mortes aumentou apesar da redução no número total de ocorrências e de vítimas. Isso significa que, mesmo com menos pessoas e veículos envolvidos em ocorrências, elas foram mais fatais”, destacou a Cidadeapé.
A cidade de São Paulo vinha em uma trajetória de queda nas mortes no trânsito desde 2010. E que foi intensificada na gestão de Fernando Haddad (PT), com uma ampla política de redução dos limites de velocidades máximas nas vias, implementação de faixas exclusivas de ônibus, ciclovias e ciclofaixas, iniciada em 2014. Nos quatro anos seguintes, houve queda de mortes em todos os grupos de mobilidade, com exceção dos ciclistas em 2017, primeiro ano da gestão de Doria e Covas.
Gestões desastrosas
Em 25 de janeiro de 2017, os tucanos aumentaram o limite de velocidade máxima nas Marginais Pinheiros e Tietê. Removeram ciclovias e ciclofaixas. E interromperam as políticas de acalmamento de tráfego e faixas exclusivas de ônibus. Para a Cidadeapé, essas medidas estão diretamente relacionadas ao aumento das mortes no trânsito nos anos seguintes.
“Uma das medidas mais impactantes sobre a segurança no trânsito foi adotada pelo então prefeito Doria, em janeiro de 2017, quando anunciou o aumento dos limites de velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê, a despeito dos alertas de técnicos da área e das evidências científicas. Desde então, a prefeitura reluta em reconhecer o erro dessa ação, que se mostrou desastrosa para a segurança no trânsito, e voltar atrás nela, uma vez que as ocorrências e mortes aumentaram nessas vias desde então”, explica a organização.
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook