"Morte escoltada e assistida". Jovem de 19 anos caminhou pelado pelas ruas por 2km antes de morrer. Ele chegou a ser filmado ao lado de viatura da PRF e foi alvo de deboche até os últimos momentos de vida. Família diz que polícia omitiu socorro
Luís Carlos Sousa de Almeida, de 19 anos, morreu na última sexta-feira (4) na cidade de Porto Franco, interior do Maranhão. As circunstâncias da morte do jovem homossexual ainda não estão completamente esclarecidas e amigos e familiares acusam as autoridades policiais de ‘omissão’.
Antes de cometer suicídio, o jovem caminhou nu por 2 km pelas principais ruas da cidade. Cirlei Almeida Martins, tia da vítima, afirmou que Luís sofria de depressão profunda.
“Quero expressar minha revolta em relação à omissão de socorro. Um jovem que sai pela cidade pelado é aparente que ele não está bem. E aquelas pessoas que deveriam nos dar apoio e segurança foram omissas. Ele teve uma morte escoltada e assistida”, desabafou a tia.
Imagens de câmeras de segurança mostraram que o jovem foi alvo de deboche antes de morrer. “Várias pessoas ficaram atrás dele chamando de louco, sorrindo e ninguém o ajudou. Vimos as imagens de segurança de uma empresa e pudemos ver muitas motos atrás, gritando, sorrindo e acelerando para ver até onde ele entrava na água e ninguém, ninguém o socorreu”, disse Cirlei.
A situação também chegou a ser filmada por alguns moradores da cidade. Em determinado momento, Luís Carlos aparece ao lado de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Rodrigo Freitas, amigo de Luís Carlos há seis anos, contou que a Polícia Rodoviária Federal chegou a escoltar o jovem, mas não prestou nenhum apoio nem fez nada para impedir a morte. Ele também reclama da demora na busca pelo corpo.
“O rio está bem seco e, provavelmente, com muitas pedras. Não teve possibilidade de velório”, diz Rodrigo. Ele conta que Luís tinha histórico de depressão e não contava com apoio familiar.
“A gente precisa entender que ele vem de um contexto de mãe solo e evangélica. Então, enfrentava muitos problemas relacionados à família e não tinha amparo, somente dos amigos.”
Luís Carlos morava com o irmão e a mãe e chegou a fazer um tratamento psicológico, mas atualmente não tinha acompanhamento profissional. “Passou a madrugada até que a família descobrisse e só então começaram as buscas”, diz Rodrigo.
O advogado Gilberto Silva viu com estranheza a atitude da Polícia Rodoviária Federal. A possível omissão por parte dos agentes da PRF pode ser investigada pela Corregedoria da corporação.
“Inicialmente, é importante a gente pensar em qual risco ele estava oferecendo à sociedade. Em relação à nudez, a negligência da polícia começa por questão de ordem pública, porque a pessoa despida em via pública comete alguns crimes. Então, tem que ser contida por qualquer autoridade presente e de imediato”, diz.
Nota da PRF
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, os agentes que faziam plantão na BR-010 “tentaram ajudar e prestar auxílio ao rapaz, que rejeitava a ajuda da equipe. Ainda assim, mesmo fora da rodovia, os policiais continuaram fazendo ‘batedor’ para resguardar a integridade física do rapaz”.
A nota da PRF diz ainda que, em determinado momento, Luís Carlos entrou em uma área particular e não foi mais visto, pois a escuridão o encobriu.