Mesmo contando com uma estrutura colossal, foi mais conveniente matar Lázaro do que capturá-lo vivo. Denúncias apontam que o criminoso estaria sendo pago para aterrorizar a região, forçar moradores a abandonar suas casas e ajudar a encher o bolso de fazendeiros que queriam especular com o valor das terras
Com a morte de Lázaro Barbosa na manhã desta segunda-feira (28) após 20 dias de buscas, a Polícia Civil de Goiás terá a missão com o inquérito que apura a ligação entre proprietários de chácaras no Distrito Federal e Goiás com chacinas e latrocínios cometidos pelo criminoso.
A informação foi revelada pelo secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, em entrevista após a morte de Lázaro. De acordo com ele, a corporação opera com três principais linhas de investigação: homicídios pagos com intuito de diminuir o preço dos imóveis da região – especulação imobiliária; Lázaro contratado como jagunço de fazendeiros e, em terceira hipótese, que o suspeito era segurança particular de chacareiros.
A relação entre Lázaro e fazendeiros da zona rural de Goiás foi corroborada pela detenção de um fazendeiro na última quinta-feira (24), que, segundo apurou a Polícia Civil, ofereceu abrigo e alimento para o criminoso por cerca de cinco dias no período em que ele permaneceu desaparecido. O caseiro da propriedade detalhou para os investigadores informações sobre a permanência de Lázaro na chácara. De acordo com o secretário Rodney Miranda, o proprietário rural em questão é um dos líderes de uma organização criminosa para a qual Lázaro atuava nos distritos de Goiás.
‘Queima de arquivo’
Mesmo contando com mais de 270 policiais, drones com visão térmica, dezenas de veículos e cães farejadores, causou estranheza o fato de a força-tarefa não ter conseguido capturar Lázaro vivo. Desde os primeiros dias da operação, especialistas em segurança pública apontaram uma série de erros e a desorganização nas buscas.
“É uma região de fronteira agrícola. Terras que são disputadíssimas por quem cultiva soja, cana, celulose e também pecuária. Mesmo que Lázaro se entregasse, iam dar um ‘jeitinho’. Afinal, o que ele tinha a revelar não era interessante para as autoridades. Para as forças policiais, é muito mais cômodo fazer valer a versão do ‘psicopata satanista’. E o curioso é que muitos agentes da operação realmente acreditavam que estavam em busca de um ‘adorador do diabo’ que precisava ser abatido”.
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Para Pedro Fassoni, professor da PUC, houve ‘queima de arquivo’ no desfecho do caso. Confira, abaixo, na análise:
Ao que tudo indica, Lázaro agiu por dinheiro. Ele foi pago para tocar o terror na região, forçar os moradores a abandonarem suas casas e ajudar a encher o bolso de fazendeiros que queriam especular com o valor das terras.
Para os defensores da ordem, tudo pode ser explicado a partir dos traços de psicopatia que ele apresentava. É muito conveniente fingir que não existe uma estrutura capitalista, movimentada pela ganância e pela lógica do lucro. Vidas humanas e segurança, como sempre, são vistas apenas como variáveis do mercado, que influenciam o preço das mercadorias.
A polícia, como parte dessa estrutura identificada com a manutenção do status quo, praticou uma queima de arquivo. Foi mais conveniente matar Lázaro do que capturá-lo vivo, mesmo contando com uma força desproporcional, capaz de cumprir o mandamento básico de matar somente quando isso for inevitável.
Dizem que outro mandamento básico é seguir o dinheiro (“follow the money”), para esclarecer todas as circunstâncias de um crime. A polícia, mais uma vez, acabou protegendo quem tem o dinheiro, e apagou quem não tinha nenhum.
Existem muitos Lázaros em garimpos, terras indígenas, áreas rurais, assentamentos, comunidades e outros territórios em disputa. A violência, em todos esses casos, é o elemento legitimador desse aparelho repressivo, que está a serviço do dinheiro. Quem ganha são as incorporadoras, especuladores imobiliários, empreiteiras, grandes proprietários de terras…
Quando a árvore esconder a floresta, é sempre bom seguir o dinheiro pra entender como as coisas funcionam.
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