Redação Pragmatismo
Jair Bolsonaro 09/Jun/2021 às 11:02 COMENTÁRIOS
Jair Bolsonaro

Em minoria, Bolsonaro adota estratégias radicais para parecer forte e seguir no poder

Publicado em 09 Jun, 2021 às 11h02

Bolsonaro se fortaleceu ao despertar o ‘monstro do anticomunismo’ nas Forças Armadas. Professor e cientista social destaca que presidente conta também com a intimidação aos opositores como arma política

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(Imagem: Alan Santos | PR)

Vitor Nuzzi, RBA

“Disciplina e hierarquia militares na terra do sol – A Democracia está em risco?” era o tema do debate na noite de ontem (8), promovido pelo escritório Crivelli de advocacia, com os professores Octávio Amorim Neto e Fabiano Santos. Se a questão apresentada não teve resposta conclusiva, motivos para inquietação não faltam.

Para o cientista político e social Amorim, o atual presidente da República conta com o elemento da intimidação para se manter politicamente, além de seu propósito de “melar o jogo”.

Segundo ele, o “discurso de extrema direita para o núcleo duro” e um certo populismo econômico não são, para Bolsonaro, suficientes para governar ou mesmo vencer a eleição. Entra, então, o terceiro elemento, a intimidação aos opositores, via Forças Armadas e forças de segurança em geral, como polícias.

Minoria para minorias

Antes de tudo, diz o professor titular da Escola de Administração Pública e de Empresas (Ebape), da Fundação Getúlio Vargas, é preciso entender a “forma governativa” de Bolsonaro: um governo com minoria, que governa para minorias, excluindo vários grupos sociais de forma hostil. Não ter maioria no Congresso ou na sociedade é normal na democracia, “mas se esforçar para isso é algo distinto”, anota Amorim.

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O segundo elemento, acrescenta, se caracteriza, principalmente pela distribuição de bens para grupos específicos, como benefícios para caminhoneiros ou isenção para igrejas. Mas esses dois elementos não resolvem a “equação de governabilidade”, e aí entram as Forças Armadas, as polícias. Bolsonaro arregimentou esse apoio, entre outros fatores, atendendo a antigas demandas salariais e orçamentárias.

Força dormente

Além disso, há o fator ideológico. “(Bolsonaro) foi hábil em mobilizar a ideologia que caracteriza o Exército brasileiro desde 1935, desde a Intentona”, o anticomunismo. “Ele sabe que essa força que estava dormente é forte”, diz, e agora se manifesta por meio do antipetismo.

O presidente também enfrentou momentos difíceis na área militar, de onde vieram sinais contraditórios: o pedido de demissão dos comandantes (“Não está claro exatamente o que aconteceu”) e a saída do general Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde.

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Para o professor, Bolsonaro soube manter essa ambiguidade, “deixar a oposição com essa enorme dúvida sobre para onde vão as Forças Armadas”. Estas, por sua vez, não são vítimas: se deixaram emaranhar. Além disso, historicamente “sempre estiveram divididas em relação à democracia ou tinham setores autoritários majoritários”.

Medo de Lula?

Amorim avalia que o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, acabou sendo persuadido por Bolsonaro devido ao “medo do retorno do Lula”. Assim, desistiu de punir Pazuello por participar de evento político. E, logo depois recebeu das mãos do presidente da República com o mais alto grau da Ordem do Mérito da Defesa.

“Aí voltamos à questão histórica do anticomunismo”, comenta o professor. “O Bolsonaro conseguiu fazer acordar esse monstro do anticomunismo nas Forças Armadas”.

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“Agora, esse monstro tem que ser confrontado com os fatos”, acrescenta, lembrando que o então presidente Luiz Inácio Lula da Sila governou também com partidos à direita. Assim, se o “antilulismo” for verdadeiro, há uma mistura de fanatismo com carreirismo, avalia. “Esse é o problemão de ter as Forças Armadas no centro da arena política. O que não sabemos é o nível de fanatismo no alto comando.” Ele acredita que o Exército perdeu condições de gerir de forma autônoma sua relação com o atual presidente da República.

Já a oposição, acrescenta, tem que unir esforços em busca de uma frente democrática – que não tem que se traduzir em coligação eleitoral. E atrair, quem sabe, o “centrista deprimido”. O cientista político observa que a ação de Bolsonaro vai contra as instituições. Por ser paraquedista de origem, observa, aprendeu a combater cercado, no campo do inimigo.

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