Nos dois casos, a PM classificou apressadamente a morte como suicídio no Boletim de Ocorrência e as famílias contestam a versão oficial. Macalé era arquiteto e Lacerda trabalhava como designer de moda
Igor Carvalho, Brasil de Fato
A família de Cleber Eduardo Lacerda, designer de moda de 32 anos, não acredita que o jovem tenha tirado a própria vida no dia 22 de fevereiro deste ano, se jogando do Viaduto Sumaré, na zona oeste de São Paulo, como afirma a Polícia Militar no Boletim de Ocorrência registrado na 23ª Delegacia de Polícia.
O jovem foi enterrado como indigente no dia 3 de março, enquanto os parentes o procuravam. Sabrina Gomes não descarta que seu irmão, que era gay, tenha sido vítima de homofobia e refuta a tese policial.
“Para a família, ele nunca falou nada, era muito fechado, mas nunca deixou transparecer nada. Para gente, ele estava normal. Um final de semana antes, ele foi em uma festa de inauguração de um comércio do meu primo. Todo mundo falando que ele estava feliz, alegre, não dá para entender”, argumenta Gomes.
A morte de Lacerda se assemelha ao caso do arquiteto Luiz Felipe Bernardes dos Santos, o Macalé, que foi encontrado morto no mesmo local, o vão do Viaduto Sumaré, no último dia 30 de maio. A Polícia Militar disse, no Boletim de Ocorrência, que o motivo do óbito foi suicídio. Mas a tese foi rechaçada por amigos, que pedem investigação do caso.
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Gomes procurou a reportagem do Brasil de Fato após a veiculação da notícia da morte de Macalé, quando percebeu que as características dos dois casos eram parecidas.
A irmã de Lacerda tem tentado reconstruir os últimos passos do designer e considera improvável que ele tenha chegado sozinho no Viaduto Sumaré.
Lacerda foi visto pela última vez por volta de 1h30, em um bar na rua Alba, no Jabaquara, zona sul de São Paulo, a 1,4 km da estação de Metrô do bairro. Ele foi visto por um amigo, que afirma ter conversado com o designer por alguns minutos.
Entre 1h30 e 5h32, quando seu corpo foi encontrado, não há registro sobre seus passos. O celular de Lacerda não foi encontrado com seu corpo, o que reduz as possibilidades da família em reconstruir as últimas horas do designer.
Lacerda, que não tem carro e nem moto, reside no Grajaú, bairro da zona sul de São Paulo, que fica a pelo menos 30 quilômetros do Viaduto do Sumaré.
“Eu não acredito que ele tenha chego lá de metrô, porque abre 4h40. E quem conhece, sabe que do Jabaquara até a estação não dá menos que 1h50. Eu acredito que alguém jogou ele lá para baixo“, afirma.
Depoimento e campanha
Na próxima quarta-feira (9), Patrícia Brasil, companheira de Macalé, irá depor na 23ª DP, onde está registrado a morte do arquiteto foi registrada como suicídio. Os amigos do arquiteto vivem a expectativa de que as investigações avancem e respondam as perguntas não solucionadas do caso.
Uma das expectativas do grupo é que as câmeras de segurança da região, em especial da saída da estação do Metrô Sumaré, que fica no viaduto, sejam solicitadas pela polícia, Os amigos lançaram um abaixo-assinado virtual para pedir celeridade nas investigações.
“Luiz Felipe não teria motivo algum para partir agora por vontade própria. Cadê as imagens das câmeras de segurança próximas ao viaduto? Ele era uma cabeça preta pensante e influenciadora! Um gênio da raça! Estava feliz e cheio de planos. A passagem de Luiz Felipe Macalé por esta vida não pode ter sido em vão ou cair no esquecimento. Vamos cobrar!”, afirma o texto da campanha.
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