Quem é o serial-killer do DF que está fugindo de 200 policiais
Serial-killer promove fuga cinematográfica há 8 dias e deixa rastro de sangue e destruição por onde passa. Operação conta com mais de 200 policiais, cães e até helicópteros. Testemunhas que sobreviveram ao contato com Lázaro Barbosa traçam perfis distintos do criminoso. "Ele não está brincando, atira para matar", diz criminóloga
Lázaro Barbosa Souza, de 33 anos, passou a ser chamado de “seril-killer do DF” após cometer uma série de assassinatos e fugir de um cerco de mais de 200 policiais. A operação para capturar o homem ainda conta com cães farejadores e helicópteros.
Apenas nos últimos dias, Lázaro matou pelo menos 4 pessoas, estuprou uma mulher e baleou outras três vítimas — duas em estado grave. A fuga de Lázaro ocorre numa região de matagal de Cocalzinho (GO), no entorno do Distrito Federal.
As 17 fazendas locais estão ocupadas por forças policiais para garantir a segurança da população”, informou a Polícia Militar do DF. “As tropas estão no local fazendo o cerco”.
Na tarde de domingo (13), ele quase foi preso na rodovia BR-070, próximo à cidade de Edilândia (GO), a 82 km de Brasília. Ele havia furtado um carro em uma chácara de Cocalzinho e abandonou o veículo, um Corsa vermelho, depois de avistar um ponto de bloqueio montado pela polícia na rodovia.
Os crimes recentes
Na madrugada de quarta-feira (9), o empresário Cláudio Vidal de Oliveira, 48 anos, e os filhos dele, Carlos Eduardo Marques Vidal, 15, e Gustavo Marques Vidal, 21 foram encontrados mortos em uma chácara na região conhecida como Incra 9, em Ceilândia, no DF. A esposa de Vidal, Cleonice Marques, 43, foi sequestrada e estuprada e seu corpo só foi encontrado na tarde de sábado, em um córrego próximo a Sol Nascente, na Ceilândia.
Na quinta-feira, Lázaro Souza também teria entrado armado em uma residência que fica a 3 km de distância da chácara onde cometera os três assassinatos. A proprietária da chácara e o caseiro estiveram sob a mira do criminoso por mais de três horas. No local, obrigou os reféns a fumarem maconha, e fugiu levando mais de R$ 200 reais, celulares, jaqueta e carregador de celular.
Na sexta, o homem fez mais um refém e rouba um carro em Ceilândia, no DF, e vai para a cidade de Cocalzinho (GO), onde incendeia o veículo. Segundo investigações, lá ele teria contado com a ajuda de um comparsa.
Lázaro entrou na fazenda de Cocalzinho, a cerca de 110 km da Capital Federal na tarde de sábado. O local pertencia à família de um soldado da PM de Brasília. O criminoso manteve o caseiro como refém. “Amarrou meu filho, o obrigou a cozinhar e a fumar maconha”, relatou a mãe do caseiro ao jornal Correio Braziliense.
Lázaro teria ainda ingerido bebida alcóolica, destruído o carro do rapaz e cortados os fios de wi-fi. Por volta das 19h, invadiu outra residência, baleou três pessoas, roubou duas armas e munições. Às 23h30, policiais foram acionados para uma ocorrência de incêndio em uma residência na região. A vítima diz que Lázaro ateou fogo na casa.
Um grupo de policiais militares de Goiás chegou à fazenda para abordar o criminoso. Mas houve a reação com 15 disparos de arma de fogo na direção dos agentes e ele conseguiu fugir.
Em 17 de maio deste ano, segundo a polícia, Lázaro fez uma família refém na mesma região, também ameaçando as vítimas com faca e arma de fogo. Nesse crime, ele mandou as pessoas ficarem nuas e, das 19h até meia-noite, ele prendeu os homens no quarto e as mulheres “ficaram servindo jantar para ele”, segundo a Polícia Civil.
Em 26 de abril, Lázaro invadiu uma casa no Sol Nascente, trancou pai e filho no quarto e levou a mulher para o matagal, onde estuprou a vítima, diz a polícia.
Perfil de Lázaro
Imagens de uma câmera de vigilância, divulgadas nesta terça-feira (15), mostram Lázaro se escondendo da polícia em um galpão de uma chácara em Cocalzinho de Goiás. Testemunhas relatam que ele dormiu no local e não ameaçou ninguém.
O vídeo mostra duas pessoas caminhando em um curral, onde os moradores fazem a ordenha das vacas. Lázaro aparece com uma mochila nas costas. Caminha de um lado para o outro. A chácara fica entre Edilândia e Girassol, povoados próximos de Cocalzinho. Pela manhã, ele pediu comida, mas fugiu quando os moradores foram buscar.
A criminóloga e escritora Ilana Casoy, que escreveu roteiros sobre os casos de Suzane von Richtofen e Isabela Nardoni e é uma das especialistas em serial killers no país, ressalta que Lázaro “precisa ser parado”.
“Agora ele é um cara em fuga. Ele não está brincando, claro que ele vai atirar para matar. Temos que fazer perguntas neste momento, e não dar as respostas.”
Segundo a especialista, está claro que ele é uma pessoa perigosa. No entanto, para Ilana, ainda é cedo para traçar um perfil psicológico.
“Ele é um fugitivo e precisa ser parado, ser preso porque é um cara de alta periculosidade, de grande experiência e está matando no caminho. Não é hora de pensar se ele é um serial killer, se teve uma infância traumática ou não, se ele é frio, psicótico, esquizofrênico, psicopata”, diz.
“Ele pode ser muitas coisas. Ele é um abusador em série? É obvio. Ele tem várias condenações por estupro. Agora, que tipo de abusador que ele é? Tem vários. Ainda não sabemos”, continua.
Para a criminóloga, o foco neste momento é a prisão de Lázaro. Após esse momento, ela ressalta que deve-se montar uma excelente estratégia de interrogatório para saber, por exemplo, se ele cometeu outros crimes ainda não descobertos pela polícia.
“É uma pergunta que ele que vai ter que responder. Teve outros crimes? Outros corpos que não foram encontrados? Tem vítimas que podem ficar sem resposta, pessoas que perderam pai, filho, esposa? A única chance de resposta é ele contando, e a chance é com um bom interrogatório. Que o cara é um homicida, não resta dúvida. O nosso papel é apoiar as polícias para fazer um bom trabalho tático e prender o fugitivo”, analisa a criminóloga.
Um laudo criminológico feito em 2013 sobre Lázaro destacou que ele tem características de personalidade como “agressividade, ausência de mecanismos de controle, dependência emocional, impulsividade, instabilidade emocional, possibilidade de ruptura do equilíbrio, preocupações sexuais e sentimentos de angústia”.
O documento ainda indica que Lázaro “tinha consciência de sua atitudes” e que, apesar de “assumi-las e perceber o sofrimento causado em terceiros (passos importantes no processo de ressocialização), percebe-se que todos os crimes cometidos estão diretamente relacionados a dependência química, fato do qual o periciando não tem autocontrole, haja vista uso abusivo de bebida alcoólica antes de sua reclusão e vício no crack após a prisão”.
Crimes anteriores
2007: Lázaro Barbosa foi preso em Barra dos Mendes, na Bahia, acusado de duplo homicídio. Secretaria de Segurança Pública do Estado diz que ele fugiu cerca de 10 dias após a prisão e é considerado foragido desde então.
2009: Lázaro foi preso no Complexo Penitenciário da Papuda (CPP), em Brasília, por suspeita de roubo, estupro e porte ilegal de arma de fogo.
2015: Lázaro foge da cadeia.
2018: Lázaro Barbosa foi preso em Águas Lindas de Goiás, em cumprimento de três mandados de prisão por homicídio qualificado, porte ilegal de arma de fogo, roubo e estupro.
23 de julho de 2018: Lázaro fugiu e estava foragido. Lázaro era procurado por cometer crimes de roubo, estupro e porte ilegal de arma de fogo no DF e em chácaras de Goiás.
8 de abril de 2020: Lázaro foi indiciado pelos crimes de roubo mediante restrição da liberdade das vítimas e emprego de arma branca e por tentativa de latrocínio. Ele invadiu uma chácara em Santo Antônio do Descoberto, em Goiás, e golpeou um idoso com um machado;
“Mateiro e caçador”
O secretário de segurança pública de Goiás, Rodney Miranda, informou que o criminoso é “psicopata” e tem facilidade de se esconder por ser mateiro e caçador. Chefe da SSP também disse que o investigado segue um ritual para atacar suas vítimas. “Ele leva para beira do rio, manda tirar as roupas e uns ele acaba matando”, disse.
De acordo com o porta-voz da polícia do DF, Michello Bueno, Lázaro conhece bem a região e que, por ser caçador, se esconde com facilidade. “Ele foi criado nessa região. Conhece cada detalhe. Além disso, ele é um caçador. Então, ele se esconde, dorme em cima das árvores. É um cara que tem uma expertise. Não é um bandido comum”, disse o porta-voz.