24 anos, negra, grávida de 4 meses: Kathlen Romeu morreu após ser atingida por uma bala perdida disparada por policiais. A jovem escreveu nas redes sociais horas antes de perder a vida. Namorado faz desabafo: "Sem chão"
24 anos, negra, grávida de 4 meses: Kathlen Romeu morreu após ser atingida por uma bala perdida disparada por policiais. A jovem publicou nas redes sociais horas antes de perder a vida. Namorado faz desabafo: “Sem chão”
Kathlen Romeu, de 24 anos, morreu após ser baleada na tarde desta terça-feira (8) na Vila Cabuçu, em um dos acessos à comunidade Lins do Vasconcelos, na Zona Norte do Rio. A jovem, que estava grávida de 4 meses, foi levada para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu.
A avó de Kathlen classificou o ocorrido como “um crime bárbaro”. Ela relatou à TV Globo que, junto com Kathlen, estava indo ao trabalho da filha. Naquele momento, a rua estava tranquila. De repente, elas foram surpreendidas pelo tiroteio.
“Foi tudo muito de repente. A minha neta caiu, começou muito tiro. Quando eu puxei ela caiu, eu me machuquei ainda, me joguei para proteger ela, que está gravida. Eu só vi um furo no braço dela e gritei para eles me ajudarem a trazer. Perdi minha neta e meu bisneto”, disse a mulher, chorando.
Moradores relataram que a PM chegou atirando na entrada da comunidade com um caveirão e diversas viaturas. “Estava tudo normal e de repente eles [policiais] entraram atirando. Não deu tempo pra nada, apenas correr”, revelou uma moradora.
No mesmo dia da morte, Kathlen fez uma publicação das redes sociais mostrando a barriga e desejando bom dia ao bebê.
A avó ainda revelou à TV Globo que Kathlen havia se mudado do local com medo da violência. “Aquela minha rua tá muito perigosa. Eu não queria ter perdido minha neta e perdi desse jeito estúpido. Uma garota que trabalha, que estuda, formada. Só isso que eu tenho a dizer, eu não tenho mais nada. Perdi minha neta num tiroteio bárbaro que a gente não tem culpa de nada.”
Na terça-feira, mesmo dia do crime, moradores da região fizeram um protesto na Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá. As pistas ficaram fechadas por cerca de três horas. A operação da PM que resultou na morte de Kathlen apreendeu um carregador de fuzil, munições e uma pequena quantia de drogas.
Impunidade
Em condição de anonimato, uma moradora do Complexo de Lins Vasconcelos disse ao Pragmatismo acreditar que não haverá responsabilização criminal pelo assassinato da jovem. “O pior de tudo é saber que ninguém será punido pela morte de Kathlen. É duro dizer, mas infelizmente a morte dela foi em vão. Não interessa ao Estado investigar a morte de um preto, pobre, morador de favela. O que não faltam são casos de PMs com diversas mortes de inocentes no currículo que, ao invés de serem presos, ganham promoção”, relatou uma moradora.
A revolta da comunidade é justificável. A Polícia Militar é uma das instituições onde a impunidade é mais presente. Estudos mostram que mais de 90% dos casos de mortes cometidas por agentes do Estado não são investigados ou acabam arquivados.
As ações policiais no Rio de Janeiro raramente passam pelo escrutínio das autoridades competentes, seja a Polícia Civil ou o Ministério Público, quando resultam em mortes. Trata-se de um cotidiano de impunidade que estimula toda sorte de abuso por parte dos agentes públicos.
Repercussão
Marcelo Ramos, namorado da vítima, lamentou a morte da amada e do bebê que os dois esperavam. “Nunca será esquecida, meu amor, você, a Maya/Zayon sempre irão morar dentro de mim, estou completamente sem chão, às vezes é difícil entender a vontade de Deus, mas sei que você está melhor que nós. Aqui só vai ficar saudades e as lembranças de você, a pessoa mais radiante e animada que eu conheci na minha vida, vou vencer por você. Que Deus me dê forças. Eu te amo eternamente”.
“Essa foto acabou comigo. Kathlen Romeu, 24 anos, grávida de 4 meses, morta durante operação policial no Rio de Janeiro. Uma notícia que se repete com tanta frequência que dá náusea. Inocentes. Pretos. Mortos. Operação policial. O Estado brasileiro não está em guerra contra as drogas. Está, desde sua formação, servindo ao extermínio da população preta e periférica. Não dá mais pra fingir que não. Luz e amor para a família e os amigos de Kathlen. Vidas Negras Importam. E é um absurdo e um inferno ter que dizer isso”, declarou o ator Ícaro.
“Eu tentei, mas não consegui postar foto da Kathlen, não tive coragem, olhar sua beleza, olhar sua barriga carregando uma vida faz minha cabeça quase explodir de dor! Que tristeza meu Deus, até quando vamos aguentar isso?? Meus sentimentos a família, sinto muito muito!”, escreveu a cantora Preta Gil.
“O nome dela era Kathlen Romeu. Uma moça q eu não conhecia. 24 anos. Estava grávida. 4 meses. Ela visitava a familia. Ela morreu. Um tiro. Duas mortes. Mas não foi uma bala perdida. Porque existe um alvo. Humanos. Humanos pretos. Eu não consigo parar de pensar na Kathlen. Seu sorriso nesta foto. Ela abracada com o pai do seu filho. Q morreu antes de nascer. A gente não pode se acostumar com isso. Não pode. Não quero. Não vou! O punhado de fuzis q a polícia recuperou na tal operação nào valem a vida de Kathlen e seu bebe. Não valem a vida q eles tinham pela frente”, escreveu Helena Klang.
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