Direita

Bolsonaro justifica encontro com neta de ministro de Hitler: “eleita democraticamente”

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Foto de Bolsonaro sorridente ao lado de neta de ministro de Hitler repercutiu no mundo. Entidades judaicas lamentaram o encontro e o presidente brasileiro tentou se justificar. A mulher já defendeu que guardas alemães devem atirar em refugiados que cheguem ao país, inclusive mulheres com crianças

Beatrix von Storch e Bolsonaro

Repercutiu internacionalmente o encontro do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com a deputada alemã Beatrix von Storch, vice-presidente do partido de extrema-direita AfD.

Em mensagem publicada nas redes sociais, a parlamentar de extrema-direita agradeceu a Bolsonaro “pela amistosa recepção” e disse ter ficado impressionada com a “clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos do nosso tempo” que o presidente mostrou.

“Em um momento em que a esquerda está promovendo sua ideologia por meio de suas redes e organizações internacionais em nível global, nós conservadores devemos trabalhar mais estreitamente em rede e defender nossos valores em nível internacional”, disse.

Na última quinta (22), a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) já havia exibido, também nas redes sociais, uma foto com a parlamentar alemã, feita durante um encontro em Brasília. Horas depois, o também deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, fez o mesmo.

Beatrix von Storch é, pelo lado materno, neta de Johann Ludwig Schwerin von Krosigk, que serviu como ministro das Finanças da ditadura nazista de Adolf Hitler por mais de 12 anos.

Inicialmente um conservador tradicional, Schwerin von Krosigk foi nomeado para o posto nos derradeiros meses da República de Weimar, mas acabou abraçando o nazismo com a ascensão de Hitler em 1933.

Na posição de ministro das Finanças, Schwerin von Krosigk foi responsável por confiscar propriedades de judeus e explorar financeiramente áreas conquistadas pela Alemanha nazista.

Após o suicídio de Hitler, em abril de 1945, Schwerin von Krosigk foi ainda alçado ao posto de “ministro-chefe” (equivalente a chanceler) no efêmero governo do almirante Karl Dönitz, que havia assumido o cargo de presidente do que restava da Alemanha.

Concentrado em uma área do norte do país que ainda não havia sido conquistada pelos Aliados, o gabinete durou apenas alguns dias, e logo seus membros foram capturados por tropas britânicas.

Von Krosigk seria mais tarde julgado e condenado pelo Tribunal de Nuremberg, na etapa conhecida como o “julgamento dos ministros”, entre 1948 e 1949. Ele foi sentenciado a dez anos de prisão por crimes de guerra, mas foi beneficiado por uma anistia em 1951. Em 1977, morreu.

Críticas e justificativa

Nesta quinta-feira (29), Bolsonaro recebeu as críticas que sofreu por causa do encontro com a extremista alemã. O presidente também minimizou o fato de Von Storch ser neta de Johann Ludwig Schwerin von Krosigk.

“Semana passada tinha um deputado chileno e uma deputada alemã visitando a Presidência. Poxa, tratei, conversei, bati um papo”, disse Bolsonaro a apoiadores no Palácio da Alvorada. “Vai que a deputada alemã é neta de um ex-ministro do Hitler. Me arrebentaram na imprensa. Acho que a gente não pode ligar um pai a um filho, muitas vezes, um fez uma coisa errada, ligar ao outro.”

Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) lamentou “a recepção dada a representante do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) em Brasília”. “Trata-se de partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto”, disse a entidade israelita.

Atirar em refugiados

O passado nazista da família de Beatrix von Storch passou a ser destacado pela imprensa alemã a partir de 2014, quando ela foi eleita deputada europeia pela AfD — três anos depois, em 2017, ela foi eleita para o Bundestag (Parlamento alemão), representando Berlim.

Em 2016, Von Storch manifestou aprovação à mensagem de um usuário do Facebook que havia perguntado se guardas de fronteira deveriam atirar em refugiados que chegassem ao país, inclusive mulheres com crianças.