Doméstica é humilhada por patroa após abandonar serviço para socorrer a filha
Humilhações começaram quando doméstica precisou deixar o apartamento da patroa às pressas para socorrer a filha de quatro anos que estava passando mal
Caroline Nunes, Alma Preta
Duas empregadas domésticas se dizem humilhadas pela ex-patroa por meio de mensagem de texto. As irmãs, Ana de Souza e Maria de Souza, são moradoras de Paraisópolis, periferia da Zona Sul de São Paulo. Elas afirmam que os ataques da contratante começaram quando Ana teve que deixar o apartamento às pressas na sexta-feira (25) para socorrer a filha de quatro anos, que estava passando mal.
Na data, a funcionária relata que próximo às 5h da manhã sua filha começou a passar mal, com vômitos e tremedeira. Preocupada com a saúde da criança e, para não também prejudicar a rotina da patroa, ela mandou uma mensagem para avisar e justificar a ausência.
“Ela [a patroa] falou que era para eu medicar a menina e ir trabalhar. Eu avisei que a minha filha ficava com uma babá de 16 anos, que não sabia agir caso a criança piorasse, e ela dizia que era para eu arrumar uma babá mais qualificada e ir trabalhar. Eu estava sem cabeça. Empregadas também são mães”, explica Ana.
A empregada seguiu o conselho da patroa, medicou a filha e foi para o trabalho no Itaim Bibi, região nobre de São Paulo. Ao chegar no apartamento, soube que o estado da criança havia piorado e que poderia ser um caso de hospitalização. Ana então pediu à patroa que solicitasse um carro de aplicativo, para chegar mais rápido em casa e socorrer a filha. O art. 12 do Decreto 3048 determina que empregadas domésticas podem se ausentar do ambiente de trabalho para acompanhar filhos ou cônjuges ao hospital.
“Ela [a patroa] ficou brava, disse que eu a estava obrigando a pedir um uber para mim e eu não fiz isso. Levei minha filha ao hospital e ela mandou mensagem o dia inteiro, me incomodando e sendo debochada comigo. Me senti humilhada, pois eu só estava preocupada com a minha filha. Ela também é mãe, deveria entender”, desabafa a profissional.
Maria conta que passou a perceber que a irmã Ana se sentia cansada pelo excesso de funções e a estimulava a pedir um aumento. Apesar de um histórico de atitudes grosseiras relatadas por outras empregadas que já passaram pela casa, Maria relembra que foi ela mesma que indicou a irmã para a casa. Ela já havia trabalhado anteriormente lá por um curto período e inclusive cobriu a ausência de Ana enquanto estava afastada por ter contraído Covid-19, em 2020.
“O meu amor pelo filho dela é imenso e por isso eu gostava de trabalhar lá, mesmo me sentindo sobrecarregada às vezes. Fui contratada para fazer a limpeza, mas ela [a patroa] passou a atribuir mais funções, como a de babá e cozinheira sem aumentar o meu salário”, relembra Ana.
Mensagem com humilhações
Segundo Maria, no final de semana a patroa passou a mandar mensagens desrespeitosas para Ana e até para o marido dela. “Ana só chorava, dizia que não queria mais ir trabalhar lá por estar se sentindo humilhada e a bloqueou. Foi então que eu entrei em contato para entender as razões que faziam ela tratar minha irmã assim e ela me enviou a mensagem ofensiva na segunda-feira”, lembra.
Nas mensagens trocadas, a patroa e Maria discutem e a contratante pede para que Ana “faça as coisas corretamente e peça as contas”. A patroa acusa as irmãs empregadas de coação e diz que irá entrar com processo judicial contra elas.
Leia também:
Coronavírus: Doméstica morre após não ser dispensada pela patroa infectada
Patroa demite doméstica por usar banheiro e joga fora talheres usados por ela
Já Ana diz que não pretende entrar com processo contra a patroa, motivada pelo carinho que ela nutre pelo filho da ex-contratante e o respeito pelo ex-patrão, que sempre a tratou bem. Já Maria, que foi a quem a patroa se refere como “desquitada e invejosa” na mensagem, afirma que pretende seguir em frente com o processo.
“Eu não quero um centavo dela sequer. Eu quero justiça. Quero que um juiz coloque juízo na cabeça dela para que nunca mais ela aja dessa forma com nenhuma empregada. Somos pobres sim, moramos na comunidade, mas somos honestas”, relata Maria.
Para repercutir as informações, a Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a patroa. Em um primeiro momento, ela disse não ter nada a declarar sobre a mensagem, apenas afirmou que não foi ela quem enviou e que se tratava de algo forjado pelas irmãs. Depois, ameaçou processar a agência de notícias e a repórter caso o nome dela, fotos ou imagem de seu filho fossem divulgados.