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Fazendeiro pode ter sido mandante de chacina cometida por Lázaro, indicam mensagens

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Parte da imprensa e autoridades policiais espalharam a versão de um Lázaro 'satanista' que agia movido por forças ocultas, mas investigações revelam que o criminoso era um jagunço que atuava a mando de fazendeiros, empresários e até políticos

Parte da imprensa brasileira, sobretudo os programas sensacionalistas policialescos, espalhou em rede nacional a tese de que Lázaro Barbosa, 32, era um ‘satanista’ que agia movido por forças ocultas.

Durante as buscas pelo criminoso, essa versão também foi reforçada por autoridades policiais. “Se ele é satânico, forças policiais são anjos”, disse um major da PM durante as buscas pelo criminoso.

O avançar das investigações começa a revelar, porém, que Lázaro era um jagunço que atuava a mando de fazendeiros ricos, empresários e até de políticos.

A Polícia Civil apurou que Lázaro fazia parte de uma organização criminosa. “Nessa organização criminosa, a gente já levantou que pessoas importantes participam dela. Nós temos empresários, fazendeiros, políticos…”, conta a delegada Rafaela Azzi.

Um dos suspeitos é o fazendeiro Elmi Caetano que, de acordo com as investigações, escondeu Lázaro em uma de suas propriedades. A polícia encontrou uma mensagem de voz no celular do fazendeiro que indica que o criminoso usava a fazenda como esconderijo. “Ele está dormindo lá naquele barraco onde a mãe dele morava”, dizia Elmi na gravação. Elmi Caetano foi patrão de Eva Maria de Sousa, mãe de Lázaro.

Segundo as investigações, Elmi Caetano pode ser o mandante de uma chacina cometida por Lázaro, em Ceilândia, no Distrito Federal. O fazendeiro Cláudio Vidal e os dois filhos, Gustavo e Carlos Eduardo, foram assassinados nas terras da família, no dia 9 de junho. A mulher de Cláudio, a empresária Cleonice Marques de Andrade, foi feita refém e levada para um córrego, onde foi estuprada e encontrada morta, no dia 12 de junho. Foi esse o crime que motivou a caçada a Lázaro que mobilizou 270 policiais e custou milhões de Reais aos cofres públicos.

“Considerando que havia um laço anterior, que o Lázaro já era conhecido do proprietário e que na entrevista o proprietário fala que aquela família devia um dinheiro a ele, nós não descartamos a hipótese de que ele tenha realmente usado Lázaro para cobrar a dívida, e em não recebendo, matar aquelas pessoas”, explica Rafaela Azzi.

‘Queima de arquivo’

Mesmo contando com mais de 270 policiais, drones com visão térmica, dezenas de veículos e cães farejadores, causou estranheza o fato de a força-tarefa não ter conseguido capturar Lázaro vivo. Desde os primeiros dias da operação, especialistas em segurança pública apontaram uma série de erros e a desorganização nas buscas.

“É uma região de fronteira agrícola. Terras que são disputadíssimas por quem cultiva soja, cana, celulose e também pecuária. Mesmo que Lázaro se entregasse, iam dar um ‘jeitinho’. Afinal, o que ele tinha a revelar não era interessante para as autoridades. Para as forças policiais, é muito mais cômodo fazer valer a versão do ‘psicopata satanista’. E o curioso é que muitos agentes da operação realmente acreditavam que estavam em busca de um ‘adorador do diabo’ que precisava ser abatido”.

Para Pedro Fassoni, professor da PUC, houve ‘queima de arquivo’ no desfecho do caso. Confira, abaixo, na análise:

Ao que tudo indica, Lázaro agiu por dinheiro. Ele foi pago para tocar o terror na região, forçar os moradores a abandonarem suas casas e ajudar a encher o bolso de fazendeiros que queriam especular com o valor das terras.

Para os defensores da ordem, tudo pode ser explicado a partir dos traços de psicopatia que ele apresentava. É muito conveniente fingir que não existe uma estrutura capitalista, movimentada pela ganância e pela lógica do lucro. Vidas humanas e segurança, como sempre, são vistas apenas como variáveis do mercado, que influenciam o preço das mercadorias.

A polícia, como parte dessa estrutura identificada com a manutenção do status quo, praticou uma queima de arquivo. Foi mais conveniente matar Lázaro do que capturá-lo vivo, mesmo contando com uma força desproporcional, capaz de cumprir o mandamento básico de matar somente quando isso for inevitável.

Dizem que outro mandamento básico é seguir o dinheiro (“follow the money”), para esclarecer todas as circunstâncias de um crime. A polícia, mais uma vez, acabou protegendo quem tem o dinheiro, e apagou quem não tinha nenhum.

Existem muitos Lázaros em garimpos, terras indígenas, áreas rurais, assentamentos, comunidades e outros territórios em disputa. A violência, em todos esses casos, é o elemento legitimador desse aparelho repressivo, que está a serviço do dinheiro. Quem ganha são as incorporadoras, especuladores imobiliários, empreiteiras, grandes proprietários de terras…

Quando a árvore esconder a floresta, é sempre bom seguir o dinheiro pra entender como as coisas funcionam.