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Haiti: Em nome da democracia

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Claudy Bastien* | Tradução: Camila Koenigstein

Falemos sobre o Haiti, o primeiro país negro independente do mundo e o segundo no continente americano, no entanto, o cenário dramático e de terror “diminui” com frequência a importância do feito. Hoje, o Haiti se encaixa perfeitamente na definição de Max Weber sobre os Estados Nacionais falidos. Ou seja, onde o estado nacional não detém o monopólio da violência e controle do seu território.

Desde os anos 90 até hoje, o Haiti enfrenta uma onda de autoritarismo, entendida nos termos de Pérez-Liñán e Mainwaring como um governo que viola à força um ou mais critérios democráticos sistematicamente. No entanto, o objetivo desta nota não é apenas repudiar o assassinato do ex-presidente Jovenel Moise na quarta-feira, 7 de julho. Apesar da péssima gestão, necessitamos defender os valores democráticos cada vez mais escassos no continente.

Quando o monopólio da violência escapa do Estado Nacional, somos confrontados com uma desordem onde tudo pode ocorrer. Nesse contexto, o Haiti, durante o últimos meses, enfrentou, além da crise política, uma crise de segurança quase em todo o seu território, o que provocou confrontos entre grupos armados que sequestraram e mataram civis, pessoas inocentes, que pagaram com suas vidas a falta de uma governabilidade honesta e humanitária.

Enquanto o falecido, Jovenel Moise, concentrava todos os poderes em suas mãos, com o parlamento ultrapassado, e o judiciário ao seu gosto, percebeu que não conseguiria conter o caos e o derramamento de sangue que os grupos armados impuseram ao país.

Em face disso, a rejeição dos poderosos e a oposição de uma faixa da população colocou sua legitimidade em questão de maneira cada vez mais contundente.

Quando Moise, perdeu o apoio popular, não conseguiu realizar seu plano para ordenar o desastre socioeconômico, e viu o seu poder em risco, e também sua própria vida.

É importante ressaltar que não é a primeira vez que um presidente haitiano no poder é assassinado. Em 28 de julho de 1915, o presidente Vilbrun Guillaume Sam foi morto pelas massa descontente, enquanto Jovenel Moise foi assassinado por mercenários estrangeiros. Segundo fontes oficiais, o Estado haitiano não tem
controle de seu pequeno território em torno de 27.750 km2, o que possibilita a fácil entrada de sicários.

Repudiamos este assassinato porque não podemos continuar a praticar a política desse modo, vale dizer que quando não concordamos com um presidente, sua punição não tem que ser derrubá-lo a todo custo.

Embora, seu mandato tenha sido marcado pela corrupção e incompetência, é inconcebível celebrar a sua morte como solução para os problemas do país, uma vez que, em um regime democrático, é necessário respeitar as regras do jogo sem trapacear e defender interesses pessoais. É por isso que em uma democracia, quando os atores políticos não compartilham o programa de um governo e têm evidências irrefutáveis ​​de que o governo é corrupto, eles batalham nas urnas para substituí-lo, eles apresentam suas evidências perante a justiça para que o julguem, mas não mandem matar o líder.

Aqui, o conceito de democracia é entendido na perspectiva de Vallès, ou seja, a “prática ou atividade coletiva que regula os conflitos entre os membros de uma comunidade e faz as decisões que dela decorrem ”.

A pobreza e a desigualdade não se resolvem com demagogia, mas com um plano em que os atores acordam.

A liberdade de imprensa não tem que ser um canal de propaganda, difamatório e
superficial, mas uma liberdade responsável que se encarrega de suas afirmações e suas acusações.

É hora de parar a hemorragia da política que matam e expulsam os jovens, que privilegia um establishment falido, que não promove o conhecimento e não investe em desenvolvimento sustentável.

A democracia não é possível se não há indivíduos que a defendam, portanto, não devemos esperar para repudiar este ato, e não importa a posição ideológica de cada indivíduo. Num país democrático, as ideias são confrontadas mas principalmente, respeitadas!

Este é o momento de buscar o melhor para a nação. A direita e a esquerda necessitam condenar veementemente o que ocorreu. Já não podemos aceitar atos fascistas, a sabotagem das instituições e o assassinato de nenhum politico. Ocorrências como esta só diminuem as possibilidades de uma sociedade mais igualitária, onde os direitos humanos prevaleçam sobre os interesses pessoais e corporativos.

*A colunista cedeu o espaço para o jornalista haitiano Claudy Bastien | Apoiado por : Jackson Jean

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