Blogueira esbanjava vida de glamour nas redes sociais, mas tudo era bancado com dinheiro de estelionato. A jovem se irritava quando acessava contas bancárias de vítimas com pouco dinheiro
Anna Carolina de Sousa Santos se apresentava nas redes sociais como ‘influenciadora’ e empreendedora’ e tinha milhares de seguidores no Instagram. Na vida real, porém, a jovem integrava uma quadrilha que aplicava golpes para roubar dinheiro pela internet e por telefone.
Além de Anna, Yasmin Navarro, Mariana Serrano de Oliveira, Rayane Silva Sousa e Gabriela Silva Vieira foram presas em um apartamento no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ali, funcionava uma “central de telemarketing”, que servia para aplicar golpes em suas vítimas.
As jovens entravam em contato fingindo ser da administradora do cartão de crédito, e conseguiam dados bancários de vítimas. O golpe consistia em dizer que havia sido detectada uma fraude nas compras feitas no cartão, e que a vítima deveria passar alguns dados para resolver o problema. Elas ainda mandavam um suposto motoboy até a casa da pessoa a ser lesada para pegar o cartão. Com todos os dados e o cartão das vítimas em mãos, elas faziam compras, saques em contas bancárias, pix a até empréstimos.
Modus operandi e deboche
Os itens apreendidos pelos policiais revelaram como agia e se organizava a quadrilha. Em um dos prints que integra o inquérito policial, e que ajudou a embasar a decisão da Justiça de decretar a prisão preventiva das jovens, elas debocham de uma das vítimas que tinha pouco dinheiro na conta.
No print, trocado em um grupo do WhatsApp intitulado Apto 302 — o mesmo em que elas foram presas em flagrante —, elas trocam impressões sobre a vítima da vez e debocham quando encontram alguém com pouco dinheiro em conta.
Ao se deparar com uma mulher de 88 anos, que só tinha R$ 330 na conta, Yasmin Navarro repassa os dados da vítima no grupo e marca a amiga Carol.
Um número, que não é o de nenhuma das cinco mulheres, debocha da “sorte” da blogueira em se deparar com vítimas com pouco dinheiro em conta. “Carol tá com azar”, diz. No que Yasmin pergunta se já comprou passagens para uma determinada ação e debocha:
A troca de mensagens aconteceu em uma sexta-feira, que seria um dia de grande atuação da quadrilha, como mostra outro print. Neste, a conversa começa com um lamento de Mariana Serrano de Oliveira, seguido pela concordância de Rayane, sobre ligar para números furados e inexistentes.
“Tá ruim para falar mesmo, muito número que não existe”, diz Mariana, que é paulista. “Mesmo jeito que a de vocês, mas vambora”, anima a carioca Rayane. Yasmin intervém na conversa e lembra de como as coisas devem ser feitas para que elas obtenham o dinheiro que desejam.
“Bora meninas, 15h. Tem que estourar de segundas. Dinheiro para o FDS [fim de semana]. Porque o trampo de sexta só cai na segunda”, alerta ela. A mensagem vem acompanhada de novo deboche de Rayane sobre a possibilidade de ganhar o dinheiro das vítimas: “Chega me tremo”.
Os agentes encontraram arquivos de Excel com mais de 10 mil dados de vítimas em poder do grupo. Um caderno com anotações indicava ainda um pagamento de R$ 416.516,30 para um homem e folhas com a logo do Banco do Brasil, que deveriam ser apresentadas pelo falso motoboy para ajudar a enganar as vítimas.