Anderson Pires*
A seleção da CBF chega a mais uma final do campeonato da Conmebol. A competição que foi cancelada na Argentina e Colômbia, acabou desembarcando no Brasil, visto que, o governo local desconsidera a pandemia e trata a questão com desdém conhecido internacionalmente.
Dessa forma, não existe país mais apropriado para a realização do evento chamado Copa América. Não bastasse isso, a intermediadora no Brasil, a CBF, é um exemplo de corrupção e histórico criminoso, que atualmente enfrenta mais uma crise, visto que, seu presidente foi afastado por denúncias de assédio sexual e moral, feitas por uma funcionária da entidade.
Para completar, as principais estrelas do time da CBF fazem parte da legião de seguidores do presidente. Temos o principal jogador, Neymar, que seria um exemplo de ascensão de classe pelo mérito esportivo, sem qualquer compromisso em combater a desigualdade, ou posicionamento político que defenda a necessidade de um olhar diferenciado para população mais pobre de onde veio originalmente. Neymar é só mais um entre tantos defensores do bolsonarismo, que propaga uma falsa moral, mas acumula acusações por crimes fiscais, caixa dois e estupro.
Vale lembrar também que, depois de Neymar, o mais popular dos jogadores brasileiros na atualidade, o Gabigol, expressou seu desrespeito as mortes de centenas de milhares de pessoas em seu país, aglomerando em um cassino clandestino, onde foi pego pela polícia.
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Como bons jogadores, a seleção da CBF ainda chegou a blefar dizendo que pediriam dispensa coletiva da participação na Copa América. Provavelmente, alguém dobrou a aposta e todos guiados pelo bravateiro Tite rumaram negando a propagação da covid-19 até a final da competição.
Num país em que o Presidente presta homenagens a torturadores e milicianos, o evento é quase um congresso de capacitação para o crime e desrespeito a humanidade. Mas alguém pode dizer: e o futebol o que tem com isso? A seleção é brasileira, temos que torcer pelo nosso país.
Essa é exatamente a questão: torcer pelo país. No momento em que vivemos não cabe fazer qualquer concessão a desumanidade. Torcer pela seleção de Neymar, Gabigol e Bolsonaro é perfilar com todos que promoveram o genocídio de mais 550 mil pessoas. É referendar os diversos posicionamentos políticos que negaram a ciência e promoveram a propagação da doença. Torcer por quem foi negligente ou omisso com relação a compra de vacinas que teriam evitado a morte de milhares é tripudiar com quem sofreu tanto.
A seleção da CBF não me representa. Não distingo o jogador do ser humano. Não existirá nenhum ganho para o país em reforçar a imagem de súditos do bolsonarismo, como bem frisou Casagrande. Esses serão os únicos ganhadores, enquanto pessoas morrem sem qualquer empatia por parte dos mesmos.
Hoje, torço para que o Brasil tenha a chance de expressar sua revolta. Mais que a derrota em um evento privado, é a oportunidade de deixar claro que maior que qualquer fanatismo cultural que o futebol carrega, existe um povo indignado, cansado de tanta hostilidade, que não vai ser com gols que cessará a angústia, a fome e a opressão. Já aviso que não serão atos de demagogia como faixas ou minutos de silêncio que amenizarão a postura covarde dos que participaram desse espetáculo de falta de humanidade. Mais que gols ou vitórias em campeonatos, a maior contribuição que poderiam ter dado ao Brasil era um exemplo de coragem. Antes mesmo do jogo começar foram derrotados. Podem ganhar quantas finais forem, mas perderam a chance de entrar pra história.
*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.
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