Jornalista esclarece 'imprecisão' de foto que viralizou no Afeganistão
O "antes" e "depois" de uma jornalista da CNN apresentando uma reportagem em Cabul continha 'imprecisões', segundo a própria profissional. No entanto, a chegada do Talibã ao poder, de fato, já provocou mudanças trágicas para mulheres
BBC
A imagem parecia ser um indicativo do que o Talibã no poder provocaria na vida das mulheres no Afeganistão.
O “antes” e “depois” de uma jornalista apresentando uma reportagem em Cabul mostrava a mudança: em um dia, rosto e cabelos descobertos e apenas um lenço no pescoço; no dia seguinte, véu cobrindo inteiramente os cabelos e uma “abaya”, vestido de manga comprida que vai até o chão.
A indumentária da jornalista americana da CNN, Clarissa Ward, viralizou nas redes com essa mensagem: a chegada do Talibã já estava fazendo as mulheres terem de se cobrir mais. Era um símbolo de endurecimento contra mulheres em Cabul.
Mas não era bem isso. Ward explicou que essa mensagem era imprecisa.
A foto com o rosto descoberto, disse ela, foi registrada enquanto ela fazia uma gravação em um espaço privado. Já a reportagem com o véu e a abaya foi gravada na rua. “Eu sempre usei um lenço na cabeça nas ruas de Cabul anteriormente“, disse ela, admitindo, no entanto, que não usava o cabelo “totalmente coberto e abaya“.
“Portanto, há uma diferença, mas nem tanta assim.”
This meme is inaccurate. The top photo is inside a private compound. The bottom is on the streets of Taliban held Kabul. I always wore a head scarf on the street in Kabul previously, though not w/ hair fully covered and abbaya. So there is a difference but not quite this stark. pic.twitter.com/BmIRFFSdSE
— Clarissa Ward (@clarissaward) August 16, 2021
Em uma reportagem para o canal, ela comentou que estava vestida daquela maneira por “cautela” e para ser “o mais discreta possível”. “Não quero chamar muita atenção para mim. A história é o que está ao meu redor. A história é o que os afegãos estão sentindo nesse momento incerto e desesperador.”
A chegada do Talibã ao poder no Afeganistão despertou medo nos afegãos e, principalmente, nas afegãs. Elas temem perder direitos básicos, como o de estudar e trabalhar, já que o Talibã impõe uma interpretação radical e estrita da lei islâmica que restringe severamente os direitos das mulheres.
E, com a chegada do Talibã, de fato já foram observadas mudanças para as mulheres. À BBC, mulheres narraram perda de liberdades. Uma disse que agora tem que usar burca – o traje que cobre completamente o corpo da mulher, com uma treliça estreita à altura dos olhos, e um homem precisa acompanhá-la.
Segundo o BBC Monitoring, um departamento da BBC que monitora a imprensa no mundo todo, não há mais tantas apresentadoras mulheres na TV. Durante dois dias, elas estiveram ausentes das bancadas de jornais. Até que, nesta terça (17), uma jornalista da rede privada Tolo News apareceu como âncora em um telejornal e ainda entrevistou um representante do Talibã.
A própria Ward, a jornalista da CNN, disse que um representante do Talibã deixou claro, quando ela perguntou, que o rosto de uma mulher e suas mãos deveriam ser cobertos. Em certo momento, enquanto ela trabalhava na rua, pediram para ela ficar em um canto porque ela era uma mulher.
Em entrevista coletiva nesta terça (17), um porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, disse que o Talibã irá “permitir que as mulheres trabalhem e estudem dentro de nossas regras“, sem especificar que regras são essas.