Corrupção

Reverendo chora na CPI e pede desculpas a Deus e ao Brasil: “Tenho culpa, sim”

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VÍDEO: Envolvido no escândalo das vacinas, reverendo Amilton Gomes de Paula chora e confessa na CPI. “Embaixada” do religioso foi inaugurada com homenagens a Bolsonaro

O reverendo Amilton Gomes de Paula chorou nesta terça-feira (3) durante a CPI da Covid e se disse culpado por “ter estado nessa operação das vacinas”. O religioso também afirmou que queria “vacinas para o Brasil” após a morte de um conhecido em decorrência da covid-19.

O reverendo é apontado pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti como intermediador de uma oferta supostamente superfaturada de 400 milhões de doses de vacinas de Oxford/AstraZeneca ao Ministério da Saúde.

Dominghetti se apresenta como representante da Davati Medical Supply — empresa americana sem base formal no Brasil —, que teria se juntado a Amilton para o negócio. A oferta não tinha autorização da farmacêutica.

“Eu abri a porta da minha casa num momento assim em que eu estava enfrentando a perda de um ente querido da minha família, e eu queria vacina para o Brasil. Eu me sinto… Tenho culpa, sim. Hoje de madrugada, antes de vir para cá, eu dobrei os meus joelhos, orei, e aí eu peço desculpas ao Brasil. O que eu cometi não agradou primeiramente aos olhos de Deus”, disse o Reverendo Amilton.

Amilton se pôs a chorar após o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) o questionar sobre o seu papel na suposta oferta de vacinas da AstraZeneca e dizer ter dúvidas se o reverendo faz parte de uma “tríade de golpistas” ou se realmente foi enganado, como o depoente alega.

O presidente da CPI e senador Omar Aziz (PSD-AM) chegou a perguntar ao reverendo: “Chorou e se arrependeu do quê?”. Segundo Amilton, ele se arrepende de “ter estado nessa operação das vacinas”.

Homenagens a Bolsonaro

Uma reportagem da Agência Pública revelou que a “Embaixada” do reverendo Amilton foi inaugurada com homenagens a Bolsonaro. Confira trechos abaixo:

A presença do presidente Jair Bolsonaro era a promessa mais grandiosa para a inauguração da Embaixada Humanitária pela Paz, na manhã do dia 24 de outubro de 2019. Apesar do compromisso nunca ter constado na agenda oficial da presidência, o anfitrião da festa, o reverendo Amilton Gomes de Paula, informou a alguns presentes que a ida era certa, conforme apurou a Agência Pública com pessoas que participaram do evento. No entanto, uma viagem de última hora teria atrapalhado os planos do religioso de receber o comandante da nação, ao menos segundo o que foi dito a alguns convidados. Dias antes, Bolsonaro havia partido para o exterior, numa viagem oficial que chegaria à China e ao Japão.

A ausência do presidente da República, apesar de lamentada, não impediu que Amilton conseguisse reunir, a portas fechadas, um grupo de empresários e políticos com influência no Distrito Federal. Em uma sala espaçosa e regada a salgadinhos, o grupo de homens teria discutido projetos e parcerias entre o poder público, empresas privadas e organizações não governamentais, um feito alcançado graças à capacidade de intermediação do reverendo. E foi justamente esta habilidade do religioso de mediar interesses que, em 2021, alçaria Amilton Gomes nacionalmente: reportagens revelaram que ele atuou para reunir no Ministério da Saúde suspeitos representantes da Davati Medical Supply, em uma negociata paralela de vacinas.

Na expectativa de receber Jair Bolsonaro na inauguração da embaixada, o reverendo organizou uma exposição com a pintura do rosto do presidente ao lado da sua, num dos amplos halls de paredes brancas. O local, a partir daquele dia, serviria de sede para a sua organização, também conhecida como Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários — a Senah. Os retratos são assinados pela artista plástica Ray di Castro. Ao justificar sua obra, ela disse que “o presidente Bolsonaro está apoiando totalmente [o projeto da Embaixada Mundial pela Paz]”.

A homenagem a Bolsonaro não se deteve apenas às pinturas. Uma das mais contundentes veio na fala do deputado distrital Iolando Almeida, militar reformado da Força Aérea Brasileira (FAB) eleito pelo Partido Social Cristão (PSC) no Distrito Federal. “Quero parabenizar a iniciativa do nosso presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, pelo compromisso em proclamar a paz em toda a esfera nacional”, disse ao abrir as falas das muitas figuras políticas agraciadas no evento com o diploma de “embaixador da paz”, uma honraria sem valor oficial concedida pelo reverendo.

Além do deputado cristão, outras figuras políticas e religiosas discursaram a favor do projeto de Amilton. O secretário de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal, Gilvan Máximo, afirmou que “o governo do DF estará apoiando incondicionalmente a Secretaria Nacional de Assuntos Religiosos”. Ele foi seguido pelo embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, e depois, por Ney Robson, então administrador regional do município de Águas Claras, igualmente em falas que parabenizaram a Senah e apoiaram, genericamente, a paz mundial.

Ao menos pela cerimônia, que contou com coral juvenil das Forças Armadas e muitas menções à Israel, tudo parecia certo para que o prédio em Águas Claras, cidade satélite de Brasília, funcionasse anos a fio como a sede da aparentemente renomada Senah — em um vídeo institucional, a organização é apresentada como o maior projeto de humanização do mundo. Contudo, o destino do local foi bastante diferente.

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