Redação Pragmatismo
Mundo 01/Set/2021 às 08:38 COMENTÁRIOS
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Ataque dos EUA mata 7 crianças da mesma família no Afeganistão

Publicado em 01 Set, 2021 às 08h38

Dez pessoas da mesma família morrem após ataque dos EUA; 6 eram crianças. "Por que eles mataram nossa família? Nossas crianças? Eles estão tão queimados que não podemos identificar seus corpos, seus rostos", desabafou um parente das vítimas

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(Imagem: Getty)

Ao menos dez pessoas foram mortas em uma casa em Cabul no domingo, vítimas do ataque dos Estados Unidos contra um suposto carro-bomba do grupo jihadista Estado Islâmico de Khorasan, conhecido pela sigla em inglês Isis-K. Entre os mortos, relatam parentes e vizinhos, há sete crianças, um funcionário de uma organização de caridade americana e um prestador de serviços para os militares dos EUA.

Segundo testemunhas ouvidas pelo New York Times, uma das vítimas é Zemari Ahmadi, que trabalhava para a ONG Nutrição e Educação Internacional, sediada na cidade californiana de Pasadena. Na noite de domingo, ele voltava para a casa que dividia com seus três irmãos e suas famílias após dar carona para seus colegas.

Seu carro, um Toyota Corolla branco, foi cercado pelas crianças da família no momento em que os drones americanos eram lançados. Um míssil atingiu a traseira do veículo dentro do pequeno pátio da casa dos Ahmadi, que é protegida por um muro, quebrando vidraças e fazendo estilhaços voarem.

Ahmadi e algumas das crianças morreram no pátio, e outras perderam suas vidas em aposentos adjacentes, segundo seus parentes. Ao jornal americano, uma autoridade afegã disse que três das crianças mortas chegaram a ser socorridas por uma ambulância no domingo.

Primeiro, eu achei que fosse o Talibã (…). Mas foram os próprios americanos que fizeram isso — disse Samia, de 21 anos, filha de Ahmadi, que estava dentro de casa quando sentiu a explosão e viu os corpos de seus parentes assim que saiu para verificar o que havia acontecido. — Eu vi a cena toda. Havia pedaços queimados de pele em todo lugar.

Entre os mortos, está também o noivo da jovem, Ahmad Naser, de 30 anos, um ex-soldado do Exército afegão e prestador de serviços para os militares americanos. Ele havia saído de Herat, no Oeste afegão, com a esperança de ser retirado do país com um dos vistos especiais para afegãos que trabalharam ao lado das forças ocidentais nos últimos 20 anos.

Ahmadi, por sua vez, era um engenheiro técnico do escritório local da Nutrição e Educação Internacional (NEI), uma organização não governamental cuja missão é combater a desnutrição e a fome. Segundo seus vizinhos e parentes, nem o homem nem seus parentes tinham qualquer relação com atividades terroristas.

Ao NYT, foram mostrados documentos que comprovavam o longo vínculo de Ahmadi com a ONG americana e detalhes do pedido de visto de Naser. Em um e-mail, o presidente da NEI, Stevem Kwon, disse que o seu funcionário era “bem respeitado pelos colegas e tinha compaixão pelos pobres e necessitados”. Antes do ataque, ele havia “preparado e entregado refeições à base de soja para mulheres e crianças famintas em campos de refugiados em Cabul“.

O alvo original do ataque, segundo os americanos, era um suposto carro-bomba que seria usado pelo Isis-K, um inimigo comum de Washington e do Talibã, para um novo atentado contra o aeroporto de Cabul, três dias depois de um homem-bomba do grupo terrorista se explodir no local e deixar mais de 180 mortos, entre eles 13 soldados americanos. A ação terrorista fez Biden prometer “caçar” os responsáveis. Na noite de sábado, a Casa Branca havia emitido um alerta para que as pessoas saíssem da região, justamente por causa do risco de novas explosões.

Inicialmente, os americanos afirmavam não ter conhecimento de vítimas civis no ataque de domingo, mas posteriormente o capitão Bill Urban, porta-voz do Comando Central dos EUA, disse que investigavam o incidente. Segundo ele, as vítimas podem ter sido mortas por explosivos que estavam dentro do carro-bomba. Por sua vez, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, disse que os militares americanos “não estão em posição de contestar o relato” sobre as vítimas civis.

Em uma entrevista ao canal estatal chinês CGTN, o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, disse que sete pessoas morreram em decorrência da operação americana, afirmando que o ataque dos EUA em solo estrangeiro é ilegal perante a lei internacional. O grupo fundamentalista retomou Cabul no último dia 15, voltando efetivamente ao poder quase 20 anos após ser derrubado pelas forças americanas nas semanas seguintes aos ataques do 11 de Setembro de 2001.

Se havia qualquer ameaça em potencial no Afeganistão, ela deveria ter sido informada a nós, e não [respondida] com um ataque arbitrário que resultou na morte de civis“, disse Mujahid em uma resposta por escrito.

Mujahid havia emitido uma declaração similar no sábado, após um outro ataque de drones ordenado por Biden, a primeira retaliação à explosão de quinta-feira. Os americanos afirmam ter matado “dois alvos importantes” do Isis-K e ferido um terceiro na província de Nangarhar, ao Oeste. De acordo com o porta-voz talibã, duas mulheres e uma criança teriam ficado feridas.

Os incidentes ocorrem na reta final da retirada dos militares americanos e de seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) do Afeganistão, prevista para terminar amanhã, pondo fim a duas décadas de ocupação do país da Ásia Central e à guerra mais longa da História americana. Para acelerar a operação, as forças ocidentais ainda controlam o aeroporto de Cabul e o tráfego aéreo da capital afegã.

Os resgatados são em sua maioria cidadãos estrangeiros e afegãos que trabalharam ao lado dos invasores, mas, sem voos civis, a saída de cidadãos comuns é praticamente impossível. Por dias, milhares de afegãos se aglomeraram nos arredores do aeroporto tentando fugir — e foram a grande maioria das vítimas do atentado de quinta-feira.

O ataque do Isis-K foi o incidente mais letal para as forças dos EUA no Afeganistão desde 2011, quando um helicóptero caiu na província de Wardak deixando 38 mortos, incluindo 31 militares americanos e sete integrantes das forças de segurança afegãs.

O Globo e New York Times

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