Novo documentário produzido pelo premiado jornalista Joaquim de Carvalho revela as muitas inconsistências da história oficial sobre o episódio que levou Bolsonaro ao poder central no Brasil. Seguranças que protegeram Adélio ganharam promoções, cicatriz 'mudou de local' e prontuários médicos foram escondidos
Produzido e lançado pela TV 247 na noite de sábado (11), o documentário Bolsonaro e Adélio – Uma Facada no Coração do Brasil mostra, com riqueza de detalhes, as muitas inconsistências da história oficial sobre o episódio usado pelo então candidato Jair Bolsonaro, na disputa presidencial de 2018, para fugir dos debates, provocar grande comoção entre o eleitorado e, assim, se tornar presidente da República sem ser confrontado.
Em cerca de uma hora e 44 minutos, o filme demonstra que, dois meses antes da “facada”, Carlos Bolsonaro, um dos filhos do atual presidente, e o autor do suposto atentado, Adélio Bispo de Oliveira, estiveram num mesmo local, um clube de tiro da Grande Florianópolis, em Santa Catarina.
Revela ainda como os seguranças de Jair Bolsonaro protegeram Adélio e, posteriormente, ganharam promoções e bons salários. O documentário narra ainda como os prontuários médicos foram escondidos e como o caso foi usado como arma de propaganda em favor do candidato de extrema direita.
Em seu lançamento no Youtube (link abaixo), o filme chegou a ter 15 mil espectadores simultâneos e, até o fechamento desta matéria, já havia sido visto por pouco mais de 354 mil internautas naquela plataforma. Além disso, vem recebendo elogios do público, especialmente pela fundamentação jornalística.
“Só pra constar, nunca acreditei nesse tal “atentado” da facada. As evidências de uma suposta trama sempre foram escancaradas. Obrigado, Joaquim Carvalho e Brasil247 por trazerem o tema à tona e cobrarem as explicações que nunca foram devidamente dadas. Malandragem pairando no ar.”, escreveu o professor de Direito e membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, Marcelo Uchôa.
Carluxo reage
O sucesso de Bolsonaro e Adélio – Uma Facada no Coração do Brasil já nas primeiras horas de lançamento incomodou o vereador Carlos Bolsonaro (Patriotas-RJ). Carluxo, como é conhecido nas redes sociais, classificou o filme de “fake news” em sua conta do Twitter, na manhã deste domingo (12), num protesto pouco incisivo: “teremos inquéritos ou algo na linha que qualquer um tem visto?”
Joaquim de Carvalho, jornalista cujo trabalho investigativo acumula premiações e respeito, não tem dúvida de que o caso precisa ser reaberto. “Carlos Bolsonaro deve ser investigado como um dos principais mentores da farsa”. Também neste domingo, o repórter voltou à TV 247 para comentar a investigação sobre a “fakeada” que levou Jair Bolsonaro à vitória na eleição presidencial de 2018. “Sei que muitos investigadores gostariam que isso fosse reaberto para começar uma investigação a partir de uma perícia médica no Jair Bolsonaro. Eles sabem e até antecipam que sabem que ninguém pode produzir provas contra si. Mas tem um detalhe que chama muito a atenção destas pessoas, que é a mudança de posição da cicatriz”, afirmou.
Para o deputado federal e ex-integrante da base governista Alexandre Frota, o documentário revela uma “farsa, com requintes cinematográficos, que levou Bolsonaro de oito segundos de TV para 24 horas por dia. E assim foi eleito”. O parlamentar afirma que, depois de assistir ao filme, concluiu que “Bolsonaro forjou a facada e aproveitou para tratar problema no intestino”.
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Confira Bolsonaro e Adélio – Uma Facada no Coração do Brasil:
Vídeo organiza imagens do atentado a Bolsonaro e levanta questões
Em 2018, o canal True Or Not, no YouTube, publicou o documentário A Facada no Mito. O trabalho, que não identifica seus autores, fez apontamentos minuciosamente elaborados em torno das cenas que antecederam à facada desferida por Adélio Bispo de Oliveira contra o então candidato Jair Bolsonaro, em 6 de setembro de 2018.
Mostra o comportamento da equipe de segurança, levanta questões relacionadas à “logística” em torno do autor, relembra dúvidas em torno do atendimento e contradições em torno das reações de pessoas próximas a Bolsnoaro. Adélio agiu sozinho mesmo para organizar e executar o atentado? Por que tinha tantos celulares e laptop se usava lan house? São coincidências as mortes de pessoas ligadas a sua hospedagem? E o fato de o escritório de advocacia que o defende atender também envolvidos em confronto entre policiais de Minas e de São Paulo? São listadas, enfim, muitas perguntas sem respostas, como qual teria sido o desempenho de Bolsonaro se não tivesse ocorrido o crime.
“Não somos direita ou esquerda. Não estamos acima e nem abaixo. Somos nós, somos vocês, somos eles, somos todos……e merecemos respostas”, dizem os responsáveis pelo canal, que abrem o documentário explicando não se tratar de uma “acusação”, mas de levantamento de pontos de vista que permitam “uma narrativa diferente da divulgada”.
Os responsáveis observam que até o momento a Polícia Federal apresentou uma conclusão que “deixa de fora muitas questões”. “Questões que queremos dividir com o público para que possamos exigir as devidas respostas.”
Para eles, o assunto não pode ser tratado como crime comum. “Trata-se de um crime de segurança nacional contra um candidato eleito presidente. Além de, como veremos, pode tratar-se de um crime de falsidade ideológica que poderia levar à cassação do mandato presidencial.”
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