Para empresários, Bolsonaro inviabilizou o Brasil. A avaliação é de representantes dos setores do varejo, automotivo, têxteis, plásticos, aéreo, turismo, telecomunicações e infraestrutura. “A imagem do país já não está boa, e esses últimos eventos criam maiores preocupações em nossas matrizes”
As instabilidades institucionais que afetam o país e que ganharam nova proporção após os atos de Sete de Setembro deixam o setor produtivo mais longe da retomada.
Executivos e presidentes de associações afirmam que a tensão entre Poderes dificulta a atração de investimentos, mina os esforços para aprovação de reformas e piora o ambiente de negócios.
A turbulência é mais um problema para atividades afetadas por escassez de matérias-primas, crise hídrica e os efeitos da pandemia, segundo representantes de setores que vão do varejo, ao setor automotivo, têxteis, plásticos, aéreo, turismo, telecomunicações e infraestrutura. As informações são do jornal O Globo.
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A reação geral é de cansaço com as crises em série, e o recado é claro: o empresariado quer um ambiente de estabilidade que permita a retomada de atividades.
Veja a avaliação dos empresários:
‘O ambiente que estamos passando não é o melhor para defender projetos junto às matrizes’
O presidente da Anfavea, a associação das montadoras, Luiz Carlos Moraes, diz que está difícil defender investimentos em projetos junto às matrizes no momento, especialmente porque há ociosidade em diversas unidades e concorrência de países com custo de produção menor, logística mais eficiente e ambiente político mais tranquilo.
— O ambiente que estamos passando não é o melhor para defender projetos junto às matrizes — disse Moraes, citando que a instabilidade traz volatilidade ao câmbio e à Bolsa, o que pode adiar investimentos.
Ele lembrou que o setor já está com dificuldades por causa dos problemas de fornecimento de peças. Moraes explica que a fuga de investimentos é um tema que sempre preocupa o setor.
— Esperamos que o Supremo, do ponto de vista jurídico, encontre uma solução e, do ponto de vista político, que o Congresso tenha a decisão mais sábia possível, ouvindo a sociedade. A imagem do país já não é boa, esses últimos eventos criam maiores preocupações em nossas matrizes.
‘Precisamos focar em confiança, geração de emprego e retomada da economia, principalmente após a pandemia’
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, frisa que é importante ter “equilíbrio e calma no ambiente institucional” no Brasil agora:
— Precisamos ter foco em confiança, geração de emprego e retomada da economia, principalmente depois da pandemia. A instabilidade institucional aumenta a insegurança jurídica, o risco-Brasil, traz danos à imagem, como agora, com muitas fronteiras fechadas para brasileiros em função da reputação do Brasil
‘Bolsonaro puxou demais a corda, a ponto de que pode não ter volta. Isso tira o foco da agenda de reformas’
Para o presidente da Abiplast, do setor de plásticos, e vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, o presidente Jair Bolsonaro foi longe demais nos discursos do Sete de Setembro.
— Bolsonaro puxou demais a corda, a ponto de que isso pode não ter volta. É muito ruim porque tira o foco de uma agenda de reformas que o país precisa, de recuperação econômica — afirmou, destacando que é preciso esperar agora a “poeira baixar” para ver qual o melhor caminho a seguir do ponto de vista político.
‘O momento é de botar água na fervura porque quem perde é o país’
A turbulência dos mercados financeiros vai contaminar os negócios, destaca o presidente da Abit, do setor têxtil, Fernando Pimentel. Ele cita o aumento da Taxa Selic e o impacto no mercado de juros futuros, que afeta o crédito.
— O custo do capital está mais alto, e isso prejudica todas as decisões de investimento. Toda essa polarização não é simples de resolver, mas deve ao menos ser atenuada. O momento é de botar água na fervura porque quem perde é o país e quem mais perde são os mais pobres.
‘O nervosismo está à flor da pele. O setor produtivo precisa de tranquilidade para trabalhar’
O presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), Nabil Sahyoun, afirmou que o clima de instabilidade política atrapalha o andamento das reformas.
Ele lembra que o Senado cancelou as sessões nesta semana em razão da turbulência e destaca que as reformas são cruciais para criar postos de trabalho. O país ainda tem taxa de desemprego de 14,1%.
— O nervosismo está à flor da pele com as consequências da pandemia na economia, crescimento da pobreza, desemprego. O setor produtivo precisa de tranquilidade para poder trabalhar — disse.
‘Esperamos a reabertura para o mercado internacional, mas quem quer visitar um país em convulsão?’
Para o setor de turismo, o momento da turbulência não poderia ser pior. Ainda dando os primeiros passos em uma trajetória de retomada, teme que a tensão entre Poderes afugente visitantes.
—Temos eventos programados a partir de outubro e essa confusão gera instabilidade. O dólar sobe, o capital estrangeiro vai embora. Cada dia uma ameaça, nunca se viu nada igual. Esperamos a reabertura para o mercado internacional no fim do ano, mas quem quer visitar um país em convulsão? Isso é jogar a recuperação para cada vez mais longe — afirmou Alfredo Lopes, à frente da Hotéis Rio, que representa a hotelaria carioca.
Em setores de infraestrutura, a avaliação é que a crise afeta a percepção de risco acerca de investimentos bilionários que precisam ser feitos para que o Brasil avance em áreas como energia e telecomunicações.
Um executivo do setor de óleo e gás, que pediu para não ser identificado, se queixou da perda de tempo e de recursos e diz que já precisou relatar ao conselho internacional o que ocorreu no país durante o feriado.
O que está em jogo, diz, são leilões de petróleo previstos para o próximo ano. O componente político entra na formação do preço e quanto mais turbulência, menor o valor do ativo. No setor de telecomunicações, a incerteza é sobre o impacto da crise no leilão do 5G, previsto para este ano.
‘Os efeitos da instabilidade política precisam ser enfrentados com uma agenda de conciliação’
Em nota, Paulo Pedrosa, presidente da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace), defendeu diálogo para o país sair da crise.
“Os feitos da instabilidade política precisam ser enfrentados com uma agenda de conciliação para não afetar a retomada do crescimento.”
João Sorima Neto, Glauce Cavalcanti, Bruno Rosa e Ivan Martínez-Vargas, Agência Globo
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