Alguns integrantes dos atos deste 12 de setembro chegaram a culpar a 'ausência do PT' pelo fracasso. Ciro Gomes e outros convidados discursaram no carro do MBL. Bolsonaro e Damares usaram as redes para debochar das manifestações
As manifestações convocadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e pelo Vem Pra Rua (VPR) neste domingo (12) contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começaram esvaziadas pela manhã. Os atos não tiveram a presença do maior partido de oposição, o PT, das principais centrais sindicais do país e de movimentos populares do campo da esquerda.
Os organizadores dos atos convocados por movimentos de direita que apoiaram em 2016 o impeachment da presidente Dilma Rousseff esperavam grandes manifestações, principalmente com a adesão de alguns deputados e líderes de esquerda (PDT, PSB, PCdoB, entre outros partidos), motivados pelos atos pró-governo da última terça-feira. Mas, sem o apoio do PT do ex-presidente Lula ou da Central Única de Trabalhadores (CUT), a presença foi aquém do esperado nas ruas.
Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) estão entre as capitais em que ocorreram protestos desde a manhã. Nenhuma delas registrou grande presença de público. Os manifestantes foram, em sua maioria, vestidos de branco.
Nas redes sociais circulam imagens que mostram carros de som com representantes do MBL fazendo discursos. As movimentações reúnem também outros líderes de centro e de direita que romperam com o governo Bolsonaro.
Em São Paulo (SP), o ato começou por volta das 14h com centenas de manifestantes vestidos de branco e foi realizado no mesmo palco dos atos antidemocráticos pró-Bolsonaro do Dia da Independência, na terça-feira (7), que reuniu cerca de 125 mil apoiadores.
O protesto, que não teve a presença de partidos como PT e PSOL, além da CUT e movimentos populares, teve a presença de pré-candidatos à Presidência da República e ficou marcada por discursos, faixas e bonecos ofensivos ao ex-presidente Lula (PT).
Os manifestantes fizeram uma série de discursos a favor da chamada “terceira via”, marcado pela palavra de ordem “Nem Bolsonaro, Lula”, presente em uma faixa levada por militantes do Partido Novo.
O Vem Pra Rua Brasil posicionou um boneco inflável do ex-presidente petista vestido de presidiário unido a Bolsonaro, trajado com uma camisa-de-força.
Entre os possíveis candidatos no pleito presidencial de 2022, estiveram presentes o atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), o presidenciável Ciro Gomes (PDT), os deputados federais Simone Tebet (PMDB) e André Janones (Avante), o senador Alessandro Vieira (Cidadania) e João Amoedo (Novo).
Em cima de trios elétricos, discursaram também líderes de partidos e de movimentos ligados à esquerda e ao centro, como o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) e a deputada estadual Isa Penna (PSOL).
No Rio de Janeiro (RJ), poucas centenas de pessoas se reuniram pela manhã na praia de Copacabana, muitos vestindo camisas brancas em sinal de neutralidade, enquanto outros carregavam bandeira do Brasil, usavam cores LGBT, camisas de “Lula 2022” e gritavam “Fora Bolsonaro”.
Em Belo Horizonte (MG), manifestantes se reuniram na Praça da Liberdade. O protesto começou às 10h, e continuou pelo restante da manhã. A maioria dos presentes usavam roupas brancas, e levavam placas com dizeres de “Fora Bolsonaro”, “Democracia sempre” e “Terceira via, sim”.
Bolsonaro zomba de atos pró-impeachment
Em conversa com interlocutores, o presidente zombou da pouca adesão de manifestantes. Seus principais alvos nas piadas foram os membros do MBL.
Conforme apurou o DCM, a equipe bolsonarista preparou um esquema para desmoralizar os protestos de hoje. Os apoiadores do presidente teriam que ficar nas redes sociais e encontrar falhas dos atos. No início, houve fortes ataques entre a união do MBL com integrantes do PDT e PCdoB.
Com o passar do tempo, usaram imagens de locais que aconteceram os manifestos com pouco público. Os maiores alvos foram as organizações do Rio de Janeiro e Brasília. No começo da tarde, a Avenida Paulista virou protagonista. Com a presença de cerca de 5 mil pessoas – segundo a PM – Bolsonaro respirou aliviado.
Ele acompanhou com pessoas próximas toda movimentação em São Paulo. Ao perceber que a direita não conseguiu levar o público para rua, fez piadas. “O japonês e o menino do Dória não vão apanhar na bunda do Moro”, falou o presidente aos risos.
As brincadeiras também rodaram as redes sociais, tudo planejado com a alta cúpula do bolsonarismo. A ideia de ligar o MBL à esquerda até ficou em segundo plano. Agora as provocações vão girar em torno do público presente. O entendimento é que foi uma demonstração de fraqueza dos organizadores dos atos de hoje.
Apesar das brincadeiras, Bolsonaro teve um sábado tenso. Pelo barulho formado em cima dos protestos, ele esperava cerca de 50 mil pessoas na Avenida Paulista. E pelo menos 15 mil no Rio de Janeiro. Mesmo abaixo dos que foram às ruas apoiá-lo em 7 de setembro, ele sabia que esses números seriam bons para o MBL.
Agora o presidente terá tempo maior para articular sua manutenção no poder. Ele e sua equipe também vão trabalhar para que os manifestos dos partidos de esquerda não sejam grandes o suficiente para derrubá-lo. Agora é aguardar para ver.
Damares e ministros ridicularizam atos pró-impeachment
A Ministra de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos usou o Twitter para alfinetar as manifestações. Porém, ela cometeu o equívoco de dizer que os protestos eram de esquerda. Quem organizou os eventos foram grupos de direita, como MBL e Vem Pra Rua.
“Eu juro que ia ficar quieta rindo sozinha, mas daí lá vem o Ministro Fábio Faria provocar e não aguentei! Então lá vai: CHORA ESQUERDA! Se estão rindo do que Fábio postou é porque não viram as gargalhadas que o Ministro Gilson Machado Neto está dando por aí. Se ele liberar eu posto”, escreveu.
Esquerda recusa participação
Os atos do MBL e do Vem Pra Rua foram inicialmente convocados contra Bolsonaro e, também, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para facilitar a adesão de partidos, movimentos e lideranças à esquerda, os grupos decidira, mudar a proposta da manifestação. Agora, a afirmação é que a única bandeira é o impeachment do atual presidente. A guinada, contudo, não convenceu os principais grupos da esquerda.
Entre as centrais sindicais, somente a Força Sindical, UGT, CSB e Nova Central decidiram convocar seus filiados às manifestações. A principal central do país, a CUT, não participou dos atos.
Nos movimentos populares de esquerda também não houve adesão. Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Coalizão Negra por Direitos, Uneafro, Central dos Movimentos Populares (CMP), entre outros, anunciaram que não estarão na avenida Paulista neste domingo.
O PT e o PSOL também não vão aos atos. As direções das duas siglas se disseram contrárias à possibilidade de engrossar os atos liderados pelo grupo do deputado federal Kim Kataguiri (MBL-SP). A deputada estadual Isa Penna (PSOL) contrariou a própria sigla e marcou presença na manifestação.
Veja a reação nas redes sociais:
Com Brasil de Fato e DCM
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