PGR denuncia ao STF deputado bolsonarista por ter forjado o próprio atentado. Laudos periciais, relatórios e informações policiais indicam que tudo não teria passado de uma farsa
Poder360
A Procuradoria Geral da República (PGR) denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o deputado federal Loester Trutis (PSL-MS) por supostamente ter forjado o próprio atentado. Se a Corte aceitar a denúncia, o político se torna réu por comunicação falsa de crime, porte ilegal de arma de fogo e disparo de arma de fogo.
A investigação começou em fevereiro 2020, depois de o deputado afirmar que foi vítima de uma emboscada na BR-060, que fica entre Sidrolândia e Campo Grande, ambos em Mato Grosso do Sul. O carro dirigido por um assessor foi alvo de tiros nos vidros traseiro e lateral.
Em manifestação enviada à ministra Rosa Weber, relatora do caso no Supremo, o vice-procurador-geral Humberto Jacques de Medeiros afirma que provas contrariam a versão apresentada pelo deputado.
“Diversos laudos periciais, relatórios e informações policiais, além de oitivas, revelaram a real dinâmica dos fatos e refutaram a versão inicialmente apresentada pelos denunciados à Polícia Federal”, diz o parecer.
Na versão apresentada pelo congressista, pessoas em um outro veículo alvejaram seu carro. Laudo pericial, no entanto, diz que um dos disparos só pode ter sido feito por alguém que estava a pé.
Ainda segundo a investigação, é improvável que o congressista não tivesse sido atingido se realmente estivesse no carro alvejado. O veículo descrito pelo deputado com autor dos disparos foi procurado e não foi localizado. A PGR também diz que Trutis e seu assessor Ciro Fidelis mentiram durante depoimento.
“Em verdade, todos os elementos de prova indicam que o deputado federal Loester e seu assessor Ciro Nogueira Videlis, utilizando-se, provavelmente, de uma pistola Glock 9 mm, não encontrada, tenham simulado/forjado a suposta tentativa de homicídio, em estrada vicinal localizada nas proximidades da rodovia BR 0-60 e, em seguida, teriam se deslocado para esta Polícia Federal com fito de registrar o ocorrido”, diz trecho de um relatório policial.
Trutis, que tem como uma de suas principais bandeiras a flexibilização do porte de armas de fogo, chegou a publicar fotos do veículo em que estava com marcas de tiros na lateral e nos vidros traseiros, quando houve o incidente. Ele está em seu primeiro mandato na Câmara e foi eleito com propostas conservadoras, na esteira do que defende o presidente Jair Bolsonaro.
Ainda em fevereiro de 2020, o parlamentar disse ao Globo ter reagido a um total de nove disparos, incluindo os cinco que teriam atingido seu carro. Na ocasião, falou em “susto” e “tremedeira”. Seu assessor, Ciro Fidelis, o acompanhava e conduzia o veículo. Ninguém saiu ferido, segundo a ocorrência registrada na PF naquele dia.
Em nota, o deputado negou as acusações e disse confiar “no poder da verdade”. Ele também afirmou que é “vítima de um refinado conluio de autoridades locais, que induziram o PGR e a ministra [Rosa Weber] a erro”.
Eis a íntegra da nota:
“Confio no poder da verdade. Sou vítima de um refinado conluio de autoridades locais, que induziram o PGR e a ministra a erro. Testemunhas essenciais não foram ouvidas, e provas foram destruídas ou manipuladas, como por exemplo o GPS do carro que eu ocupava, que foi formatado pela locadora. Ou mesmo o veículo alvejado, que não foi preservado pela polícia técnica, tendo sido devolvido à locadora, reformado e vendido. Em ambos os casos me foi cerceada qualquer possibilidade de proceder perícia complementar e independente. Tudo isso foi feito com a autorização da Polícia Federal do Mato Grosso do Sul, um verdadeiro absurdo jurídico.
Desde o primeiro dia, meu mandato se pautou no combate ao crime organizado e no fortalecimento das Instituições de Segurança Pública que combatem quadrilhas que assolam o Estado do Mato Grosso do Sul há mais de 30 anos.
Por fim, espero ansiosamente que as provas possam ser analisadas fora do MS, e os atos ilícitos dessa investigação – que nunca teve o intuito de apontar o autor da tentativa de assassinato que sofri, e sim tenta promover um assassinato de reputação e da minha vida política – sejam finalmente demonstrados.”
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