Diretor-geral da Polícia Federal afasta delegado responsável por investigar o inquérito das fake news e o filho caçula do presidente Bolsonaro, Jair Renan
O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, decidiu substituir o delegado Hugo de Barros Correia do cargo de superintendente do órgão no Distrito Federal.
É a superintendência do DF a responsável por dois dos principais inquéritos que hoje preocupam o presidente Jair Bolsonaro: o inquérito das fake news, que mira em aliados do presidente, e o que tem como alvo suposta prática de tráfico de influência envolvendo o filho “04”, Jair Renan. Para o lugar de Correia, Maiurino deve indicar um delegado do Rio de Janeiro, reduto da família Bolsonaro.
Uma das investigações tocadas pela superintendência era um inquérito administrativo aberto no âmbito do TSE para apurar ataques ao sistema eleitoral e crimes abuso de poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação social, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos.
O caso foi aberto depois da live em que o presidente Jair Bolsonaro lançou uma série de informações falsas sobre as urnas eletrônicas.
Foi no âmbito dessa apuração que a superintendência sugeriu ao TSE a ideia de barrar a monetização de canais com conteúdo político, o que atingiu aliados do presidente.
“A prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecidos pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo número de visualizações”, diz a PF em um relatório enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Aparelhamento da PF
No poder, Jair Bolsonaro parece não gostar do conceito de autonomia da Polícia Federal. No entanto, em 2018, quando ainda era candidato, o capitão reformado dizia apoiar a independência da PF.
Em vídeo gravado pelo candidato a deputado estadual pelo Paraná Fernando Francischini à época da campanha presidencial em 2018, Bolsonaro diz a plenos pulmões: “Imagina a PF sem autonomia, como estaria nosso país neste momento? Fico honrado pelo trabalho desempenhado nessa operação conhecida como Lava-Jato”.
No vídeo, Delegado Francischini fala da PEC 412, sobre a autonomia da instituição, e dos “dos desmandos do PT e as tentativas de controlar uma polícia de estado, e não de governo”. O candidato Bolsonaro completa: “Na questão apontada pelo Francischini estamos juntos por uma PF independente”.
De acordo com o ex-juiz Sergio Moro, Bolsonaro sempre quis trocar o comando da PF para ter acesso ao diretor-geral, interferindo, justamente, em sua autonomia.