Grávida de 7 meses morre após usar medicamento abortivo; namorado foi preso
Grávida de 7 meses, jovem de 20 anos foi encontrada morta pelos pais dentro do quarto. "No Brasil do aborto criminalizado, apenas as mulheres ricas conseguem realizar o procedimento de maneira segura", desabafou médico
Uma jovem de 20 anos, grávida de sete meses, morreu depois de usar um medicamento para abortar em Votorantim, no interior de São Paulo. Seu namorado, de 22 anos, foi preso em flagrante suspeito de auxiliar a namorada. O caso foi registrado nesta terça-feira (26).
Estudante de Engenharia de Produção, Ana Carolina Pereira Pinto foi encontrada morta pelos pais na casa onde viviam. Segundo o boletim de ocorrência, a família achou a jovem em seu quarto. De acordo com o relato, os pais entraram no quarto porque o alarme da filha começou a tocar e, como ela não desligava, foram verificar qual era o problema.
Conforme os pais contaram à polícia, a jovem teria feito o uso do remédio em uma pousada em Sorocaba, em que estava com o namorado, no último domingo (24).
No dia seguinte, segunda-feira (25), Ana Carolina enviou mensagens ao companheiro relatando dores e mal estar. O rapaz respondeu pedindo para que ela não contasse aos pais e que “resolveriam no dia seguinte”.
A jovem, infelizmente, não resistiu. O namorado foi preso em flagrante e levado para a delegacia de Votorantim, onde está à disposição da Justiça.
Medicamentos abortivos
As pesquisas em ferramentas de buscas por medicamentos abortivos apresentaram crescimento no Brasil nos últimos anos. A constatação foi feita pela plataforma ‘Consulta Remédios’ O Conselho Federal de Medicina alerta que abortos induzidos fora do ambiente clínico com medicamentos sem receita ou por meio de métodos alternativos configuram uma ameaça à saúde das mulheres.
Um dos grandes riscos é que as mulheres apliquem o autogerenciamento para aborto, buscando informações sobre como fazer isso em fóruns de discussão sem auxílio médico, já que, no Brasil, o aborto só é permitido em casos específicos. Ele só é legal em episódios de risco de vida, gravidez resultante de estupro e anencefalia fetal, e proibido em todos os demais casos. A pena para a gestante que provocar o aborto é de um a três anos e para o médico de três a dez anos.
“No Brasil, apenas as mulheres ricas conseguem abortar de maneira segura. As pobres são atiradas no desespero da desassistência e da precariedade, submetidas à risco de morte e a julgamentos e apedrejamentos. Eis a hipocrisia da criminalização do aborto no país”, desabafou um médico ginecologista em condição de anonimato.
‘Kit’ pela internet
O namorado de Ana Carolina disse em depoimento que comprou um ‘kit abortivo’ pela internet depois que a namorada e ele tomaram a decisão de interromper a gravidez. Ele também informou que, durante o procedimento, os dois tiveram a orientação de uma “técnica” através do WhatsApp a respeito do que deveriam fazer.
O rapaz passou por audiência de custódia nesta quarta-feira (27) e, como cedeu o aparelho celular, está colaborando com as investigações e não tem antecedentes, foi solto e vai ser investigado em liberdade, segundo a Polícia Civil.