Homem de confiança de Pazuello no pior momento da pandemia, Airton Soligo Cascavel era considerado nos bastidores como o 'ministro da Saúde de fato' no governo Bolsonaro. Justiça aceitou denúncia contra Cascavel por estupro da própria neta
Caio Barbieri, Metrópoles
Após a Justiça de Roraima transformar em réu Airton Soligo, mais conhecido como Airton Cascavel, por suspeita de violentar a própria neta de 3 anos, a mãe da vítima afirmou que a família está devastada. O empresário é um dos nomes mais poderosos de Boa Vista.
A mãe da criança, que terá o nome preservado, informou ter acionado o Conselho Tutelar para determinar alguma ação preventiva, uma vez que a Justiça ainda não definiu quais medidas protetivas serão tomadas a fim de evitar novos episódios. Após a separação, o pai pode ver a menina aos fins de semana.
“Eu sinto que falhei no meu papel de mãe. O que ocorreu com a minha filha virou uma assombração na minha família, que está devastada. Uma criança de 3 anos relatar dores na parte íntima e dizer que o avô a tocou naquela região… Não sei mais o que fazer”, disse a mãe da criança.
Ela explicou que dois exames realizados no corpo da menina tiveram resultados inconclusivos. “Como uma criança de 3 anos inventaria que o próprio avô a tocou nas partes íntimas ao reclamar de dores? Ela reclamaria se fosse dor na perninha, no braço, mas não foi o caso”, continuou.
Segundo ela, Cascavel já foi acusado pelo mesmo crime em outros dois casos, num deles chegou a ser denunciado na Assembleia Legislativa de Roraima (Ale-RR) pelo deputado Renan (Republicanos). De acordo com a ocorrência, Airton Cascavel teria lambido a boca de outra criança, a qual relatou o episódio.
Réu
A decisão de transformar Cascavel em réu é da Vara de Crimes Contra Vulneráveis, do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima (TJRR). O empresário também é alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 por ter ocupado o cargo de assessor do Ministério da Saúde durante a gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello.
De acordo com o boletim de ocorrência registrado pela mãe da criança no dia 14 de setembro, a menina de apenas 3 anos foi visitar o pai na casa do avô nos dias 12 e 13 de setembro e, ao voltar para casa, teria se queixado de dor na região íntima.
O relato dado pela genitora ao Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (NPCA) da Polícia Civil indica que Cascavel teria tocado no órgão sexual da menor, quando feriu a vítima. O caso corre em segredo de Justiça.
O Ministério Público estadual denunciou Airton Cascavel na terça (21/9). Para o juiz, o ex-secretário vai responder pelas acusações de estupro de vulnerável com agravante de ser parente da vítima.
Relação com Pazuello
O empresário Airton Antônio Soligo, conhecido como Airton Cascavel, teria atuado informalmente como o “número dois” do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
O executivo teria participado de agendas públicas e reuniões administrativas com o ex-ministro, exercendo influência sobre decisões da pasta. Após a informalidade vir à tona, Pazuello o nomeou como assessor especial, cargo ocupado de junho de 2020 a março de 2021.
Cascavel era apontado por gestores estaduais e municipais como o “ministro de fato” da pasta, por ser quem resolvia muitas das questões burocráticas e logísticas do ministério.
Após a demissão de Pazuello, Cascavel foi nomeado como secretário de Saúde do governo de Roraima. Quando assumiu o posto, deixou em Brasília o veículo particular para uso do ex-ministro e da infectologista Laura Appi. Os dois foram fotografados saindo juntos do Hotel de Trânsito de Oficiais.
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