Caso ativista australiano seja extraditado, pode ser condenado a 175 anos de prisão; defesa diz que acusações são 'estritamente políticas'
IMaRFI
A partir desta quarta-feira (27), a justiça britânica examina um recurso de apelação apresentado por Washington para obter a extradição do fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, após um pedido inicial ter sido recusado em janeiro. A audiência é crucial para o australiano, avalia o jornal francês Libération, pois Assange pode ser condenado a 175 anos de prisão caso a extradição seja concedida.
O processo sobre as denúncias do WikiLeaks já dura mais de dez anos. Assange é acusado de ter publicado, entre 2010 e 2011, quase 500 mil documentos confidenciais do Exército americano sobre as guerras do Iraque e Afeganistão, além de 250 mil telegramas diplomáticos e documentos sobre prisioneiros de Guantánamo. A exposição dos dados contou com a colaboração da imprensa no mundo inteiro.
Assange é acusado principalmente de ter “incitado” a militar transexual Chelsea Manning, na época Bradley, a acessar informações secretas e proporcionar os vazamentos de 2010, colocando em perigo fontes da administração americana. A defesa contestou e denunciou, durante o processo, que as acusações eram “estritamente políticas”, lembra o jornal Libération.
No final de junho de 2020, Washington acrescentou novas acusações contra Assange, como a de “conspirar” com hackers e “hacktivistas” para obter dados confidenciais.
Estado psicológico
O australiano obteve uma vitória importante em janeiro, quando a juíza britânica Vanessa Baraitser rejeitou o pedido de extradição aos Estados Unidos. Ela levou em conta um relatório apresentado pela defesa sobre o estado psicológico do fundador do WikiLeaks – problemas de autismo, depressão e tendências suicidas. Para a magistrada, uma prisão de segurança máxima nos EUA poderia piorar o estado mental de Assange.
Sem surpresa, Washington apelou da decisão e conseguiu que o testemunho do psiquiatra que elaborou a perícia fosse reexaminado. No relatório final, o psiquiatra britânico Michael Kopelman não menciona o relacionamento de Assange com Stella Moris, uma das advogadas que se tornou sua companheira, e os dois filhos do casal.
Em seu recurso, Washington questiona a confiabilidade de um especialista que testemunhou a favor de Assange sobre a fragilidade de sua saúde mental atual. De fato, o psiquiatra reconheceu que enganou a Justiça ao “ocultar” o fato de que seu cliente se tornou pai durante o período em que esteve na embaixada do Equador em Londres.
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A análise da apelação americana, que vai durar dois dias, é um dos últimos recursos de Washington. Se fracassar, restará apenas a Suprema Corte britânica.
Assange continua detido na prisão de alta segurança de Belmarsh, no leste de Londres, desde a sua espetacular prisão na embaixada do Equador, há dois anos. Ele ficou no prédio consular durante sete anos, enquanto a Suécia pedia sua prisão por violência sexual contra duas mulheres. Posteriormente, o processo sueco foi arquivado.
Em meados de outubro, uma coalizão de 25 ONGs, entre elas Anistia Internacional, Human Rights Watch e Repórteres sem Fronteiras, fizeram um apelo para que o governo de Joe Biden abandonasse as acusações lançadas durante o governo de Donald Trump. Mas Washington mantém sigilo a respeito, diz o Libération.
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