Cinema

Homem tumultua sessão de Marighella, xinga espectadores e leva saraivada de garrafas e latas

Share

VÍDEO: Sucesso do filme Marighella tem também levado bolsonaristas às salas de cinema. Em João Pessoa, homem passou toda a sessão interrompendo o silêncio necessário com provocações e xingamentos

Cena do filme Marighella, em que o militante é baleado e preso em um cinema no Rio de Janeiro pouco depois do golpe de 64

Um militante bolsonarista pagou ingresso para assistir ‘Marighella’ nesta segunda-feira (8) em João Pessoa (PB). De acordo com testemunhas, o homem passou toda a sessão das 18h fazendo algazarra dentro da sala de cinema, esbravejando contra o filme e xingando espectadores.

“Com os créditos subindo, as luzes acenderam e ele desceu da última fileira até próximo à telona chamando quem aplaudia de ‘comunistas, comunistas'”, descreveu o jornalista Dércio Alcântara.

Ainda segundo o jornalista, o bolsonarista provocou tanto que acabou levando uma chuva de garrafas plásticas e latas e saiu correndo da ‘sala 8’ para não ser agredido fisicamente. “Mas ainda levou uns tabefes”, acrescentou Dércio.

“Em uma das cenas do filme, Marighella é preso em um cinema do Rio de Janeiro sob os gritos de ‘abaixo a ditadura’. Ontem, no Cinépolis de João Pessoa, houve uma inversão e foi um filhote da ditadura quem levou a pior”, pontua o jornalista.

Recepção

Nas bilheterias, embora esteja sendo exibido em apenas 275 salas, a película dirigida por Wagner Moura já é considerada um sucesso de público. Em poucos dias, Marighella se tornou o filme brasileiro mais assistido do ano, de acordo com levantamento do jornal O Globo. Como comparativo, ‘Eternos’ está ocupando 1,7 mil salas.

O interesse do público por ‘Marighella’ foi alimentado pela irritação de integrantes do governo pelo tema da produção. Ao mobilizarem disputas de narrativas nas redes sociais, eles acabaram fazendo propaganda da produção.

Rodado em 2017, o longa teve pré-estreia mundial no Festival de Berlim de 2019 e, inclusive, até já foi exibido nos EUA, onde atingiu 88% de aprovação da crítica, na média apurada pelo site ‘Rotten Tomatoes’. No Brasil, no entanto, o filme foi censurado pelo governo Bolsonaro.

“Foi um democrata”

O diretor Wagner Moura afirmou que falta conhecimento da figura de Carlos Marighella para algumas críticas recebidas. “Eu afirmo categoricamente que Marighella era um democrata. (…) Quem estudou a história desse personagem específico (sabe)… Marighella levou um tiro no cinema, quando ele levou esse tiro, ele gritou “Viva a democracia”. Ele foi preso quatro vezes lutando contra um regime ditatorial. (…) Ele morreu combatendo uma ditadura militar. No mínimo, respeite”, declarou.

Wagner rechaçou, ainda, as críticas que afirmam que ele “heroificou” Marighella. “Quem fala isso não viu o filme. Marighella é colocado em xeque por todo mundo o tempo inteiro. Eu fiz um filme de um personagem que eu tenho admiração e tenho admiração por pessoas complexas”.

Protagonizado por Seu Jorge, “Marighella” retrata a história de Carlos Marighella, um dos principais opositores da ditadura militar no Brasil. Guerrilheiro, ele foi o responsável por liderar um dos maiores movimentos de resistência contra os ditadores, até ser assassinado em 1969, durante uma emboscada feita por policiais.