Redação Pragmatismo
Educação 26/Nov/2021 às 18:34 COMENTÁRIOS
Educação

Professora da Bahia recebe intimação policial por 'doutrinação feminista'

Publicado em 26 Nov, 2021 às 18h34

Professora da Bahia recebe intimação policial por 'doutrinação feminista' após queixa de aluna sobre 'conteúdo esquerdista'. A educadora passou mal ao ser intimada e foi hospitalizada. Estudantes protestam

Uma professora de filosofia do colégio estadual Thales de Azevedo, em Salvador (BA), recebeu uma intimação para comparecer à Delegacia de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca) após uma aluna apresentar queixa sobre o conteúdo apresentado em sala de aula, com temas relacionados a questões de gênero, racismo, assédio, machismo e diversidade.

Segundo a Associação dos Professores Licenciados do Brasil (APLB), seção da Bahia, a educadora precisou ser levada a um hospital para atendimento médico após receber a intimação e ficar emocionalmente abalada.

A direção da escola divulgou nota de repúdio e afirmou que a intimação fere a liberdade de cátedra e a autonomia pedagógica.

A aluna teria procurado a delegacia acompanhada da mãe por discordar dos temas abordados durante as aulas de filosofia. Um grupo de professores da escola afirmou que, antes de registrar a queixa, a aluna tinha um comportamento pouco amistoso e perseguia a professora.

A mãe da aluna relatou, de acordo com a Polícia Civil, que a filha teria sofrido constrangimento na escola. Disse ainda que, em decorrência de sua opinião política, a adolescente teria sido hostilizada por colegas e impedida de participar de atividades em grupo, sob consentimento da professora. As pessoas envolvidas no caso estão sendo ouvidas na unidade especializada.

O sindicato disse que seu departamento jurídico foi acionado por um grupo de professores e observou atitudes “inamistosas e de perseguição” por parte de uma estudante contra uma docente de filosofia do colégio Thales de Azevedo.

A APLB diz que há tentativas de intimidação, coação e pressão psicológica para “cercear a livre expressão e tumultuar aulas e algumas atividades propostas pelos professores“. Para a associação, essas tentativas são protagonizadas por grupos de extrema direita.

A associação afirma também que, em outra ocasião, a mãe da estudante que procurou a polícia invadiu o espaço de aula online de inglês para exigir explicações sobre a temática apresentada, que na avaliação dela seria feminista.

“A direção da APLB-Sindicato lamenta profundamente as ocorrências e reitera o apoio jurídico e psicológico à professora, exigindo a apuração dos fatos ocorridos”, diz nota da associação.

Leia também: Prefácio à (Anti)História da doutrinação ideológica nas escolas brasileiras

A APLB-Sindicato, legítima representante dos trabalhadores e trabalhadoras em Educação vem a público manifestar toda a sua solidariedade e apoio jurídico aos docentes da Escola Estadual Thales de Azevedo por tentativas de intimidação, coação e pressão psicológica por grupos de extrema direita que tentam cercear a livre expressão e tumultuar aulas e algumas atividades propostas pelos professores e professoras“, disse o sindicato em nota.

‘Perseguição’

A entidade informou ainda que, em agosto, um grupo de estudantes e seus responsáveis emitiram uma nota atacando professores e palestrantes após um seminário online realizado pela escola. Em outra ocasião, segundo o sindicato, a mãe da aluna que registrou a ocorrência invadiu o espaço de uma aula online da disciplina de inglês para exigir explicações sobre a temática, que, para ela, seria inadequada por se tratar de feminismo.

O coordenador-geral da APLB, Rui Oliveira, esteve na escola nesta quinta-feira ao lado do representante jurídico do sindicato para apurar as denúncias. Segundo ele, uma manifestação está sendo programaa para semana que vem em frente à escola e à delegacia, na mesma data prevista para o depoimento da educadora. Ela foi encaminhada ao Hospital da Bahia após ter um pico de pressão.

Isso é uma forma de intimidação, que fere o direito de fala e a liberdade de cátedra. Estamostomando todas as medidas jurídicas e políticas“, afirmou Oliveira ao Globo.

A equipe gestora do colégio repudiou, por meio de nota, a intimação à professora da instituição por “ferir a liberdade de cátedra e autonomia pedagógica, princípios constitucionais fundamentais”.

Infelizmente, as alegações de que os conteúdos curriculares das ciências humanas são de cunho ‘esquerdista’ e os conteúdos de linguagens são de ‘doutrinação feminista’ têm provocado o enviesamento dos conhecimentos historicamente construídos e dos fenômenos sociais, em silenciamento dos docentes“, diz a nota.

Reunião com secretário

O secretário da Educação do Estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues, se reuniu nesta sexta-feira com a professora, o corpo docente e os gestores escolares na unidade escolar. De acordo com a secretaria, a pasta acionou a Procuradoria Geral do Estado (PGE), que prestará toda a assistência jurídica à educadora e a acompanhará na oitiva. A equipe de psicólogos da SEC também foi colocada à disposição.

A SEC destacou que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) assegura o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, além de garantir o livre exercício da docência. Disse ainda que os conteúdos ministrados pela professora em sala de aula estão em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Referencial Curricular do Estado, acompanhados pela Coordenação Pedagógica da escola.

“A SEC acompanha o caso e manifesta solidariedade à professora e ao corpo docente, bem como reafirma o compromisso com a livre docência, a pluralidade de ideias, o livre debate e a democracia“, disse em nota.

Saiba mais: Como o “Escola Sem Partido” confunde os desatentos e a opinião pública

Veja a íntegra da nota da escola:

A Secretaria da Educação do Estado (SEC) informa que:

– Ao tomar conhecimento da intimação de uma professora do Colégio Estadual Thales de Azevedo, em Salvador, o secretário da Educação do Estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues, acompanhado pela assessoria jurídica da SEC, se reuniu com a servidora, o corpo docente e os gestores escolares na unidade escolar, na manhã desta sexta-feira (19).

– A SEC acionou imediatamente a Procuradoria Geral do Estado (PGE), que prestará toda a assistência jurídica à professora e a acompanhará na oitiva.

– Também foi disponibilizada a equipe de psicólogos da SEC para assistência à professora e à comunidade escolar.

– A SEC destaca que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) assegura o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, além de garantir o livre exercício
da docência.

– Os conteúdos ministrados pela professora em sala de aula estão em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Referencial Curricular do Estado e são acompanhados pela Coordenação Pedagógica da escola.

– A SEC acompanha o caso e manifesta solidariedade à professora e ao corpo docente, bem como reafirma o compromisso com a livre docência, a pluralidade de ideias, o livre debate e a democracia.

Assessoria de Comunicação da SEC

Em nota, a Polícia Civil informou que as pessoas envolvidas no caso estão sendo ouvidas na unidade especializada, e destacou que cabe ao órgão investigar qualquer registro em suas unidades, agindo de modo imparcial ao apurar ocorrências que chegam a seu conhecimento.

Nesta sexta-feira (19), um grupo de estudantes do Colégio Estadual Thales de Azevedo fez uma manifestação em apoio à professora intimada.

Professora Bahia recebe intimação policial doutrinação feminista
Estudantes protestam em apoio a professora (Imagem: Reprodução | TV Bahia)

Com FolhaPress e Globo

Siga-nos no InstagramTwitter | Facebook

Recomendações

COMENTÁRIOS