Acre: Duas técnicas de enfermagem foram afastadas após serem flagradas fazendo comentários de deboche durante o atendimento a uma paciente que tentou suicídio
O pronto-socorro de Rio Branco, no Acre, afastou duas técnicas de enfermagem que foram flagradas menosprezando uma paciente que havia tentando o suicídio.
Uma outra paciente que estava internada no local decidiu filmar o incidente após se sentir indignada com os comentários das profissionais de saúde.
Dançando, uma das enfermeiras diz: “Têm pessoas para fazer cirurgia, doenças graves, querendo se tratar, querendo se curar, viver, e a gente passando dor de cabeça com pessoa querendo morrer. O mundo é tão bom, a gente tem é que viver. Eu quero viver até quando Deus permitir, porque eu me amo.”
As duas técnicas de enfermagem sugerem que a paciente deveria ir para o Hospital de Saúde Mental (Hosmac). No entanto, no pronto-socorro onde ocorreu o episódio funciona o Núcleo de Prevenção ao Suicídio, que somente nos três primeiros meses deste ano chegou a atender 158 pessoas.
Em nota, a direção do pronto-socorro afirmou que as duas profissionais de saúde foram afastadas dos cargos e que a unidade não compactua com esse tipo de conduta.
“Os fatos estão sendo apurados para que todas as providências legais sejam tomadas garantindo o contraditório e ampla defesa. Por fim, reafirmamos a nossa finalidade em atender os casos de urgência e Emergência e enfatizamos o nosso compromisso com a saúde pública do Estado do Acre”, afirma a nota.
Também em nota, a Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) informou que vai abrir um processo administrativo (PAD) para apurar a conduta das servidoras que realizaram o atendimento da paciente.
‘Falar é a melhor solução’
No Brasil, todos os dias cerca de 32 pessoas dão fim a própria. O número corresponde a uma morte a cada 45 minutos. O CVV (Centro de Valorização da Vida) faz um trabalho pioneiro na área de prevenção ao suicídio desde 1962, com a ajuda de cerca de 3 mil voluntários que trabalham atendendo mais de 10 mil ligações diárias (Disque 188).
Um estudo feito pelo CVV apontou que, para cada suicídio, um grupo de até 20 pessoas é impactado diretamente. “As pessoas que são impactadas são consideradas pessoas de risco porque são sobreviventes de um suicídio. Elas precisam de ajuda também porque costumam relatar sentimento de culpa por não ter percebido os sinais”, explicou Carlos Correia, voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) há 27 anos.
Apesar dos mitos envolvendo o tema, a prevenção ao suicídio avança. Na década de 1980, um estudo nos EUA afirmava que essas mortes poderiam ocorrer por imitação. E esse trabalho reforçou a ideia de que “não podemos falar sobre o assunto”. Mais de 30 anos depois, a Organização Mundial da Saúde vai na direção contrária, dizendo que, sim, precisamos conversar sobre o suicídio.
Falar de suicídio, na maioria das vezes, é falar de depressão. Falar de depressão, no entanto, não necessariamente é falar de suicídio.
Referência na área, um estudo dos cientistas José Manoel Bertolote e Alexandra Fleischmann publicado há mais de 15 anos no periódico científico “World Psychiatry”, do Associação Mundial de Psiquiatria, até hoje é citado por especialistas.
Os pesquisadores analisaram os dados de 15 mil pessoas que se mataram em todo o mundo, entre 1959 e 2001. A conclusão: o maior percentual dos casos estava ligado à depressão (35,8%) e, em segundo lugar, estavam os transtornos decorrentes do abuso de substâncias lícitas (álcool) e ilícitas (drogas).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma cartilha com recomendações para a prevenção do suicídio. Nela, são apontadas 15 causas frequentes que influenciam na retirada da própria vida, como o uso de álcool e drogas, perda ou luto e outros transtornos mentais, como a esquizofrenia.
A maior parte dos casos são executados por pessoas com depressão, independente de sexo, faixa etária ou qualquer outra característica.