Vereador conservador que desmaiou durante discurso faz exame toxicológico
Vereador do PSL se exaltou e desmaiou após ter seu nome relacionado a uma fake news sobre ideologia de gênero. Diego Espino acabou virando alvo de milícias da própria extrema-direita e se viu obrigado a fazer exame toxicológico para prestar contas aos radicais bolsonaristas
Gil Alessi, El País
Um político conservador que se diz contra a “ideologia de gênero” e cita o grupo de rap Racionais MC’s em discursos se tornou o novo alvo de ataques que seguem o modus operandi das milícias digitais bolsonaristas. O vereador Diego Espino (PSL), de Divinópolis, interior de Minas Gerais, se tornou vítima de uma campanha de desinformação e fake news após protocolar, na segunda-feira, um projeto de lei que garante às pessoas transexuais da cidade o direito de usar seu nome social. A reação não demorou: “Um militante de direita radical me mostrou um meme e perguntou se era verdade”, disse o vereador em entrevista ao El País.
Na imagem estava uma foto de Espino com a bandeira do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQIA+, com os dizeres “Vereador Diego Espino apresenta projeto para implantar ideologia de gênero em Divinópolis. Você quer isso para Divinópolis?”. A resposta de Espino foi dada na tribuna da Câmara em um vídeo que viralizou nas redes sociais —e no qual ele confunde identidade de gênero com “opção sexual”.
O vereador se explica aos berros. Diz que apresentou “um projeto nesta casa, para quando a pessoa, quando é transgênero, quando escolhe sua opção sexual, a gente tem que respeitar isso, ao invés de ser chamada pelo nome de batismo, de registro, ser chamada pelo nome social. Só isso”. Mais à frente, ele se diz contrário à “ideologia de gênero” associada a ele no meme difundido nas redes sociais: “Nunca fui a favor de ideologia de gênero”. Por fim, Espino passa mal e desmaia, indo ao chão da tribuna em meio às bandeiras de Minas, Divinópolis e do Brasil.
O termo “ideologia de gênero” usado por ele e pelo meme foi criado por setores conservadores da Igreja Católica em meados dos anos de 1990 e adotado nos últimos anos por políticos e militantes de extrema direita no Brasil e no mundo. É utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro, por ministros do Governo, militantes e parlamentares de forma genérica para se referir às iniciativas de promoção da diversidade sexual, de gênero e sexualidade em qualquer ambiente —especialmente o escolar. No entanto, especialistas apontam que este tipo de campanha reacionária tem como efeito dificultar a identificação e o diálogo sobre abusos sexuais cometidos contra crianças e jovens, ao amedrontar e deixar inseguros professores para abordar estes temas.
No mesmo dia em que Espino ganhou a Internet como o “vereador que desmaia na tribuna”, mais desinformação circulou nas redes sociais, com acusações de que ele estaria sob efeito de álcool ou drogas quando fez seu discurso inflamado na Câmara. Nesta sexta-feira, o parlamentar divulgou um vídeo no qual se dirige a um laboratório para realizar a coleta de sangue para testagem de entorpecentes, com o objetivo de desmentir a informação. O resultado ainda não foi divulgado.
“A intenção era se utilizarem disso para me descredibilizar”, diz. Ele faz questão de reafirmar seu ponto de vista com relação ao meme que o deixou ultrajado: “Já passou esse projeto de gênero aqui [na Câmara] e eu votei contra. Sou contra. Só que no sentido de identidade [de gênero] sou a favor, a pessoa trans tem direito de usar o nome que quiser”. Em um vídeo publicado em suas redes sociais, o vereador afirma que “na época de Jesus Cristo já existia o respeito, já existia o certo. Já existia o homossexualismo. Ninguém tá inventando nada aqui não. As pessoas têm que respeitar.”
Espino não é o primeiro parlamentar conservador a cair em desgraça com a base bolsonarista radical e entrar na mira das milícias digitais. Em 2019, a deputada federal Joyce Hasselmann rompeu com o mandatário e instantaneamente se tornou alvo de ataques machistas e misóginos por parte dos filhos de Bolsonaro e seus seguidores. Ela chegou a acusar o gabinete do ódio comandado por Carlos Bolsonaro, que é investigado em inquérito do Supremo Tribunal Federal por disseminação de fake news, de estar por trás da campanha difamatória. Em junho, Hasselmann deixou o PSL, e em outubro se filiou ao PSDB. Em menor escala, também sentiram o poder do rolo compressor das milícias digitais os deputados federais Alexandre Frota (PSDB-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP), ambos bolsonaristas arrependidos.
Mas ao contrário de Hasselmann, Frota e Kataguiri, Espino não quer se indispor com apoiadores radicais do presidente. Indagado sobre quem estaria por trás da campanha de difamação contra ele, o vereador se nega a mencionar nomes. “Eu não sei exatamente de onde vieram esses ataques. Eu não gosto de nada que é radical, nem para A nem para B”. Ele também prefere não dizer se apoia o presidente.