Cinco acontecimentos reais que inspiraram o filme 'Não Olhe para Cima'
Ao contrário do que imaginaram alguns bolsonaristas indignados, filme que satiriza os perigos da idiotice não foi inspirado no atual presidente brasileiro ou em nenhum outro personagem do país
via Diario do Nordeste
Leonardo DiCaprio pode não ter incendiado a Amazônia, mas anda incomodando quem odeia a Ciência. Estreia natalina da Netflix, “Não Olhe Para Cima” satiriza o apocalipse ao denunciar que a idiotice e a ganância acabarão com o planeta.
A obra reúne grandes nomes como Maryl Streep, Jennifer Lawrence, Cate Blanchett e Mark Rylance. O longa-metragem vem gerando debate por conta da semelhança com acontecimentos e personagens da atualidade.
Tudo começa quando a cientista Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) descobre um cometa em rota de colisão com a Terra. Como o impacto será mortal e a humanidade eliminada, ela e o Doutor Randall Mindy (DiCaprio) tentam alertar as autoridades dos EUA.
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Alguns eventos reais (confira abaixo) inspiraram o diretor Adam McKay a contar essa história. Negacionismo, culto a celebridade, teorias conspiratórias e um presidente inapto explicam que o cometa de “Não Olhe Para Cima” pode estar mais perto do que imaginamos.
1. DONALD TRUMP — A presidenta Orlean (Meryl Streep) faz referências a outros nomes que comandaram a Casa Branca. A lista inclui Ronald Reagan, George W. Bush e até Barack Obama. Porém, a identificação direta é com o Donald Trump. Assim como o homem laranja, Orlean é uma ex celebridade de reality show que ascendeu à política. Antes de se tornar mandatária, seu grande êxito em vida foi ter sido capa da revista Playboy. O discurso anticientífico da personagem ganha eco em casos no qual Trump minimizou temas como pandemia e as mudanças climáticas.
2. DONOS DA TECNOLOGIA — Em “Não Olhe Para Cima”, Peter Isherwell é o líder de uma empresa revolucionária que se intromete no caso do cometa. O ator Mark Rylance usa de uma fala mansa e assustadora para desenvolver essa mistura de guru visionário e menino rico criado no Vale do Silício. Sua empresa domina o ramo de celulares e influencia as decisões do governo. Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, Tim Cook e Steve Jobs são diluídos nessa lista de influenciadores. Personalidade do ano de 2021 da “Time”, Elon Musk também está na parada. Assim como o CEO da Tesla e da Space X, Isherwell quer dominar o ramo das viagens espaciais.
3. COVID-19 — No filme, o cometa é uma metáfora à catástrofe climática. Como o roteiro de Adam McKay e Davis Sirota foi escrito antes da pandemia, a Covid-19 passou a ser um aspecto a ser analisado na obra. Principalmente a forma como o vírus foi encarado pelas autoridades. Certas situações reais interferiram no processo. “Independentemente de como você votou, acho que todos temos que admitir que ver o presidente dos Estados Unidos lançar a ideia de ingerir água sanitária para lidar com uma emergência médica é uma situação incomum”, declarou McKay.
4. ANTICIÊNCIA — Em determinado momento da história, Doutor Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) adverte que amigos cientistas estão perdendo o emprego por afirmarem a existência do cometa. O próprio título do filme explora esse clima nada amistoso contra a ciência. No filme, uma série de publicações conspiratórias passa a descredenciar as pesquisas e negar que o cometa exista realmente. São os defensores do movimento “Não Olhe Para Cima”, que literalmente pregam que para o problema deixar de existir, simplesmente olhem para o chão.
As manifestações “anticiência” representadas no filme atacam a credibilidade científica visando defender posições econômicas, políticas e até religiosas. As redes sociais são o território de disseminação destas desinformações.
5. “TUBARÃO” (1975) — Sim, o clássico filme de Steven Spielberg foi uma referência na hora de construir “Não Olhe Para Cima”. Em entrevista para o The New York Times, Adam McKay revelou que o clima de Tubarão iniciou sua imaginação a respeito do projeto. “A ideia de um filme de desastre em que as pessoas não necessariamente acreditam que o desastre está chegando”, contou o realizador. No trabalho de Spielberg, mesmo avisados da ameaça do tubarão, as autoridades locais deixam as pessoas visitarem as praias. Tudo isso com a desculpa de “proteger a economia”.