Fome cresceu 30% em um ano na América Latina e Caribe, segundo a ONU
Insegurança alimentar já atinge mais de 59 milhões de habitantes na região; prevalência na América Latina e no Caribe é a maior dos últimos 15 anos
ONU
Um novo relatório publicado pelas Nações Unidas aponta que a fome na América Latina e no Caribe atingiu seu ponto mais alto desde 2000.
Os dados mostram que houve mais 30% de pessoas sem acesso a alimentação entre 2019 a 2020, atingindo 59,7 milhões.
De acordo com o representante regional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a região enfrenta uma situação crítica de segurança alimentar.
Segundo Julio Berdegué, nos últimos seis anos, houve um aumento de quase 79% no número de pessoas que vivem com fome.
Atualmente, a prevalência na América Latina e no Caribe é a maior dos últimos 15 anos. Embora ligeiramente abaixo da média mundial, o estudo mostra que apenas entre 2019 e 2020, a taxa de famintos subiu em 2%.
Hunger is spreading in Latin America & the Caribbean.
An alarming 269% increase in severe hunger due to #COVID19 lockdowns is on the horizon if we don’t act now.
— David Beasley (@WFPChief) July 17, 2020
Brasil
Entre 2018 e 2020, o Brasil apresentou uma das percentagens mais de baixa de desnutrição no continente, sendo inferior a 2,5%. Países como Cuba e Uruguai possuem dados semelhantes.
O Haiti é o país com a maior taxa, superando 48%. A Venezuela vem na sequência, com 27% e a Nicarágua aparece em terceiro lugar, com mais de 19%.
Insegurança alimentar
O relatório também aponta que a insegurança alimentar afetou 41% da população na região em 2020. O número representa 60 milhões de pessoas a mais na situação em comparação com 2019.
O aumento total é de 9%, o maior em relação a outras regiões do mundo. Apenas na América do Sul, o número subiu 20,5% nos últimos 6 anos.
Os casos de insegurança alimentar severa, ou pessoas que ficaram sem comida ou passaram um dia ou mais sem comer, atingiu 14% no último ano. São 92,8 milhões afetados, contra 47,6 milhões em 2014.
O relatório aponta que a insegurança alimentar afetou homens e mulheres de forma desigual. Em 2020, 41,8% das mulheres na região enfrentaram o problema, em comparação com 32,2% dos homens.
A lacuna tem crescido nos últimos seis anos, subindo drasticamente de 6,4% em 2019 para 9,6% em 2020.
Sobrepeso e obesidade
Os dados também mostram que outras formas de desnutrição aumentaram na região: um em cada quatro adultos sofre de obesidade na América Latina e no Caribe.
Entre as crianças, o sobrepeso subiu nos últimos 20 anos e já atinge 3,9 milhões, sendo que 7,5% possuem menos de cinco anos. O grupo é 2% maior que a média mundial. O problema é maior nos países da América do Sul, onde 8,2% dos menores tem excesso de peso.
A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) lamentou que a região esteja “perdendo a batalha contra todas as formas de desnutrição”.
Segundo Carissa Etienne, para acabar com a fome e proporcionar bem-estar e vida saudável para todos, é necessário transformar os sistemas agrícolas e alimentares e fornecer dietas saudáveis.