Montador de móveis é vítima de racismo na casa de cliente após supostamente ter chegado atrasado. Além dos xingamentos, o trabalhador também foi agredido fisicamente no imóvel de luxo. Em desabafo, a vítima disse que nunca tinha passado por uma situação de racismo tão clara
Um trabalhador negro foi vítima de racismo em um imóvel de classe média alta em São Luís do Maranhão no último sábado (4/12). Jarenildo Silva, que é montador de móveis, foi xingado e chegou a ser agredido fisicamente na casa do cliente.
Ao chegar no local para trabalhar, um grupo de amigos do proprietário da casa fazia uma comemoração e um deles iniciou uma provocação sobre Jarenildo estar atrasado. A provocação evoluiu para insultos, chacota e agressões físicas.
“Eu já tinha sofrido [racismo] em outros momentos, em outros lugares alguém apontar o dedo, chamar de ‘neguinho’, mas chegar ao ponto que chegou, não. Mais de 20 minutos de gritaria, muito palavrão, ‘negro burro’, ‘seu merda’, ‘você nunca vai chegar a lugar nenhum’, ‘você nunca vai pisar no lugar onde eu piso’. Foi muito humilhante”, desabafou.
Jarenildo registou um boletim de ocorrência e em seguida procurou a Comissão de Promoção da Igualdade da Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão (OAB-MA).
O montador não só denunciou o crime como também publicou um vídeo sobre o caso nas redes sociais. A coragem para enfrentar a repercussão da agressão que sofreu, conta, vem da família. “Hoje fui eu. Amanhã quem pode ser? O meu filho, meu sobrinho. Ou isso pode parar lá na frente ou essas agressões físicas e verbais lá na frente podem ser bem piores”, finalizou.
A socióloga Joana Coutinho pontua que as punições para o racismo ainda são muito raras no Brasil. “O racismo é considerado crime. Ele é um crime. Mas as punições pelo racismo são tão raras que as pessoas se sentem muito livres para cometerem atos de racismo e por outro lado, em geral, as vítimas de racismo não denunciam e não denunciam exatamente pelas mesmas razões”.
O presidente da Comissão da Verdade Sobre a Escravidão da OAB, Erik Moraes, contou que o racismo no Maranhão se caracteriza por ser do tipo recreativo, exercido como se fosse uma brincadeira, recorrendo ao elemento do humor para que exercer violência sobre uma pessoa.
O racismo está tipificado como um crime específico, mas ele se manifesta também nos dados de outros crimes no Brasil. Segundo o Atlas da Violência, a cada 10 pessoas assassinadas no Brasil, 7 são negras. Em 2019, elas representaram 77% das vítimas de homicídio.
Até a publicação deste texto, os nomes dos agressores não foram divulgados pelas autoridades. A Polícia informou que nenhum dos acusados foi preso.