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Polícia Federal demite delegada que mandou extraditar Allan dos Santos

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PF exonera delegada da Interpol que atuou na ordem de prisão de Allan dos Santos. Responsável por incluir nome do blogueiro bolsonarista na lista de foragidos internacionais, Dominique disse estar incrédula: "Sensação de revolta e injustiça"

O blogueiro Allan dos Santos

A Polícia Federal decidiu exonerar a delegada Dominique de Castro Oliveira, que atuava junto à Interpol e foi responsável pela ordem de prisão internacional do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.

De acordo com o jornal O Globo, Dominique foi informada nesta quarta de que seria demitida do posto e deveria retornar à Superintendência da PF no Distrito Federal. Ela foi a responsável pelo processamento da ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para incluir o mandado de prisão na lista de difusão vermelha.

“Há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada. Supostamente eu fiz algum comentário que contrariou. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse qua não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu”, afirmou a delegada.

Dominique é reconhecida pelos colegas pela produtividade. Na Interpol, ajudou a capturar foragidos internacionais da máfia ‘Ndrangheta. O trabalho na organização de polícia internacional não tinha prazo determinado para acabar.

Em nota, a Polícia Federal negou que o remanejamento da delegada tenha relação com o processo de extradição de Allan dos Santos, mas não explicou o motivo da troca.

Até agora, a Interpol ainda não incluiu o nome do blogueiro Allan dos Santos na lista internacional de procurados da Justiça.

Em 9 de novembro, o Ministério da Justiça já havia exonerado a delegada da PF Silvia Amelia da Fonseca do cargo de diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional. Ela também esteve envolvida no pedido de extradição de Allan dos Santos.

Prisão de Allan dos Santos

Em 21 de outubro, Moraes determinou a prisão de Allan, que está nos Estados Unidos. O ministro mandou o Ministério da Justiça iniciar imediatamente o processo de extradição e ordenou que a PF incluísse o mandado de prisão em uma lista da Interpol.

Allan dos Santos é investigado em dois inquéritos que tramitam no STF: o que apura a divulgação de fake news e de ataques a integrantes da Corte e o que mira a ação de milícias digitais que atuam contra a democracia.

No despacho em que pede a prisão do blogueiro, Moraes escreveu que “a utilização de seu canal nas redes sociais, usado como verdadeiro escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas, aliado ao fato de ter se ausentado do território nacional durante as investigações, passando a perpetrar suas condutas criminosas dos Estados Unidos da América, tem conferido a Allan Lopes dos Santos uma verdadeira cláusula de indenidade penal para a manutenção do cometimento dos crimes já indicados pela Polícia Federal, não demonstrando o investigado qualquer restrição em propagar os seus discursos criminosos”.

Sobre o blogueiro, o magistrado também anotou que “o poder de alcance de suas manifestações tem contribuído, de forma inequívoca, para a animosidade entre os Poderes da República e para o ambiente de polarização política que se verifica no Brasil, com verdadeiro incentivo para que as pessoas pratiquem crimes”.

Veja a íntegra da manifestação divulgada pela delegada após a exoneração:

Acabo de ser comunicada de que a direção determinou minha saída da INTERPOL e apresentação na SR/DF. Supostamente eu fiz algum comentário que contrariou. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse qua não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu.

Naturalmente, o sentimento que me invade neste momento não é o melhor. Além da incredulidade, há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada, inclusive por não ter nenhuma função de confiança na INTERPOL, nem mesmo a substituição da chefia. Porém, ao comentar minha “expulsão” da INTERPOL com um colega muito admirado, ele me devolveu a seguinte pergunta: “O que você fez de certo?”

Nos 16 meses em que trabalhei na INTERPOL fui a delegada que mais produziu, sendo que em alguns meses produzi mais que todos os demais delegados, juntos.

No recorde de prisões de foragidos internacionais que batemos esse ano, 9 de cada 10 representações foram elaboradas por mim.

Pela minha atuação no Projeto I-CAN (International Cooperation Against ‘Ndrangheta) recebi elogios do Ministério da Justiça italiano e da Secretaria-Geral da INTERPOL, em Lyon.

Mesmo com a trágica morte de meu companheiro Victor Spinelli, em maio passado, não peguei um único dia de licença médica e apenas 15 dias após sua morte trabalhei duro, entre lágrimas, para prender o número 01 dos foragidos internacionais da ‘Ndrangheta no mundo.

Isso sem falar das relações pessoais e institucionais sólidas que criei: com os adidos estrangeiros, com o STF e PGR, com as representações regionais e com os analistas do “salão”. Nunca uma pergunta ficou sem resposta ou uma demanda deixou de ser atendida por mim.

Eu tenho uma história de mais de 18 anos de atuação na Polícia Federal como Delegada de Polícia Federal, a grande maior parte na atividade-fim, como investigadora, chefe de equipe, coordenadora de operações e, principalmente, líder. Coisas que só podem ser valorizadas e respeitadas por quem sabe discernir e já fez o que é certo.