Em sua última publicação nas redes sociais, aventureiro disse que estava enfrentando ondas fortes e a força do vento. "Custa-me energia física. Mas não se preocupem, não estou em perigo"
O aventureiro Jean Jacques Savin, de 75 anos, foi encontrado sem vida dentro da cabine de sua canoa no último sábado (22). O francês tentava atravessar o Oceano Atlântico a remo em uma expedição iniciada em 1º de janeiro.
O francês comemorou seu aniversário a bordo de sua canoa “Audacious”, no dia 14 de janeiro, e partiu de Sagres (sul de Portugal) com o objetivo de “se divertir com a velhice”.
A equipe de Savin não tinha notícias dele desde a noite de quinta-feira (20), quando o aventureiro ativou seus sinalizadores de socorro perto do arquipélago dos Açores.
A morte do francês foi anunciada em uma página que narrava sua viagem. “Infelizmente, o oceano desta vez foi mais forte do que nosso amigo. Ele, que tanto amava navegar e o mar”.
Savin planejou passar 100 dias em um barco de oito metros de comprimento com um posto de remo no meio para cruzar o Atlântico. O objetivo era chegar à Martinica (Caribe) em pouco mais de três meses.
Ele teve que mudar sua trajetória em até 900 km por conta dos ventos dos primeiros dias e, em sua última publicação, Savin disse que estava enfrentando ondas fortes e a força do vento. “Custa-me energia física. Mas não se preocupem, não estou em perigo!”, escreveu o francês em uma rede social.
Outras aventuras
Em 2019, Savin passou quatro meses em um barco em forma de barril de três metros de comprimento e 2,10 de diâmetro para atravessar o Atlântico, impulsionado apenas pelo vento e pela corrente. Ele foi o primeiro a conseguir tal façanha.
O equipamento, especialmente concebido para a proeza, tinha apenas dois metros de altura e uma área de 6 metros quadrados. Ele se inspirou na façanha de seu conterrâneo Alain Bombard, que há quase 70 anos tentou reproduzir a experiência de um náufrago e se lançou no mar praticamente sem infraestrutura.
“Foi uma comunhão comigo mesmo e com a natureza. Pude me esvaziar durante quatro meses e gostaria que o Atlântico fosse ainda mais extenso e o trajeto fosse de 7 mil quilômetros, e não 5,5 mil, porque foi uma plenitude. Foi fabuloso”, contou o aventureiro e ex-militar paraquedista.
Sujeita aos caprichos da natureza, a aventura durou um mês a mais do que o previsto – o que significa que o francês ficou sem mantimentos. Ele capturou muitos peixes ao longo do trajeto, mas os equipamentos para pesca também terminaram. O projeto só não foi abortado porque dois navios pararam para dar alimentos a Savin.
No caminho, apreciou como poucos a biodiversidade marinha e a experiência de viver ao lado dos peixes. “Eu tinha quatro janelinhas e a tampa do tonel, como se fosse um imenso aquário, que era a minha televisão. Pude ver uma baleia, tartarugas, duas baleias jubarte e o tonel até foi atacado por um tubarão. Mas o que mais vou lembrar é dos cardumes de pequenos peixes que me acompanharam durante dois meses, cada um”, relembra o francês. “É nesses momentos que a natureza dialoga com você. A cada vez que eu saía para limpar o casco do tonel das algas, os peixes ficavam com medo, no início. Mas, logo, eles perceberam que a limpeza trazia comida para eles e vinham direto na minha mão. Era uma alegria, uma felicidade para eles.”
A comunhão com seus “amigos peixes” foi tal que, ao ser resgatado por um petroleiro americano, no fim da viagem, Savin saltou novamente à agua para dizer adeus aos companheiros de viagem.
“A gente acaba se apegando a qualquer coisa, quando não tem nada em volta e a comunicação com o exterior é tão limitada”, indica. “Mas o que mais me fez falta foi não ter encontrado nenhuma sereia. Poderíamos ter passado uma boa noite”, brinca o marinheiro, que ao ser perguntado sobre se a idade não foi uma barreira, respondeu que ela “é apenas um número”. “Idade é um estado de espírito.”
Ao contrário do que possa parecer, Savin garante: não teve um único momento de tédio. “Os dias passam super rápido. A contemplação é simplesmente magnífica. Todos os dias, o nascer e o pôr do sol são diferentes, o mar está sempre mudando”, frisa. “É um prazer incrível poder nadar com 6 mil metros de profundidade abaixo dos seus pés. Você está no meio daquele imenso azul, que te embebeda.”