Por suas competências, Carluxo chegou a ser cotado como porta-voz do pai, logo depois da eleição. Teríamos o primeiro especialista em WhatsApp no cargo. Com status de ministro
Moisés Mendes*, em seu blog
Bolsonaro está sob pressão do centrão para que Carluxo não seja o estrategista das mídias virtuais e sociais na campanha. Em 2018, foi tudo com ele.
É uma situação exemplar dos tempos que vivemos desde muito antes da eleição de Bolsonaro. Carluxo não é especialista de nada, mas foi mais do que estrategista de mídias, foi o cara da comunicação do esquemão de em 2018.
A comunicação sempre foi uma área decisiva em qualquer setor, em empresas, governos, partidos, igrejas e campanhas.
Porque um trabalho pode ir pro brejo sem uma boa comunicação. O que a extrema direita descobriu antes de todo mundo, com a ascensão de todo tipo de fascismo com a ajuda da internet?
Que é possível estabelecer comunicação com a maioria da população com frases curtas, bobagens, memes, ataques, mentiras, difamações. Foi o que fizeram na campanha eleitoral de 2018.
A direita descobriu o que Saramago um dia previu: que a comunicação entre as pessoas, na era digital, seria por urros. E Saramago morreu antes da explosão do WhatsApp e coisas parecidas.
O especialista em marketing eleitoral, que dizem ainda existir, não teria significado algum na campanha de Bolsonaro. É só saber urrar.
Carluxo, seus amigos, mais os robôs acionados em todo o mundo e os tiozões mobilizados pelo bolsonarismo fizeram o serviço. Que especialista que nada. Basta um Carluxo e milhões de tiozinhos do zap.
Ainda tem Telegram, Twitter, Instagram, TikTok e outros assemelhados. Disparam a mensagem e, como diz a direita, cria-se e propaga-se a narrativa. É só passar adiante.
Saiba mais:
VÍDEO: Bolsonaro diz que “fake news são parte da vida”
Filho de Bolsonaro espalha informações falsas sobre Haddad
“Denúncia contra Bolsonaro configura caixa 2 duplamente qualificado”, diz advogado
O tiozão é o mensageiro de Carluxo. Alguns, por acharem que ‘produzem’ informação, consideram-se repórteres do bolsonarismo.
Todos nós conhecemos muitos deles que têm certeza de que estão fazendo jornalismo, coisa que eles sempre desejaram na vida e finalmente conseguiram com Bolsonaro.
O tiozão se acha um repórter, mais do que uma caixa de ressonância de mentiras e besteiras espalhadas pelo gabinete do ódio.
Por suas competências, Carluxo chegou a ser cotado como porta-voz do pai, logo depois da eleição. Teríamos o primeiro especialista em WhatsApp no cargo. Com status de ministro.
Mas agora há um problema. O ministro Alexandre de Moraes, que vai presidir o Tribunal Superior Eleitoral durante a eleição, já avisou que desta vez não tem fake news.
Leia também: Gabinete do ódio promove ação orquestrada contra governador da Paraíba
“Se houver repetição do que foi feito em 2018, o registro (do candidato) será cassado. E as pessoas que assim fizerem irão para a cadeia por atentar contra as eleições e a democracia no Brasil”, disse Moraes quando do julgamento da ação que pedia a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, em outubro do ano passado.
Será mesmo? É o que poderemos testar logo adiante, quando a campanha for deflagrada. Até hoje, nenhum produtor, financiador ou disseminador de fake news foi punido.
Há um inquérito sobre fake news andando de arrasto no Supremo, e a CPMI das Fake News, instalada em setembro de 2019, foi sepultada viva no Congresso.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook