Fake news de deputado sobre 'banheiro unissex para crianças' causa demissão de diretor
Diretor de escola no DF projetou e reformou banheiros para atender crianças especiais dependentes. Apoiadores de Bolsonaro, incluindo um deputado federal, disseminaram a informação falsa de que se tratava de um "banheiro unissex para crianças". O gestor acabou demitido por conta da mentira
Alvo de uma das maiores fake news registradas até agora em 2022, o diretor Claudinei Batista dos Santos foi demitido da Escola Classe 01 do Paranoá, cidade a 25 quilômetros do centro de Brasília.
A exoneração deixou a comunidade escolar indignada e houve protestos na Secretaria de Educação do município. Claudinei perdeu o cargo por conta de uma mentira orquestrada por apoiadores de Jair Bolsonaro, incluindo o deputado federal Julio Cesar Ribeiro (Republicanos-DF), integrante da bancada evangélica do Congresso Nacional.
O assunto chamou a atenção do deputado Julio Cesar, já que a suposta “doutrinação sexual” de jovens é um dos temas favoritos dos parlamentares ligados às pautas de costumes. Sem se aprofundar no caso, o deputado pediu providências imediatas para a Secretaria de Educação, que anunciou o desligamento do diretor.
A verdade, porém, é que foram projetados banheiros para atender crianças especiais dependentes. Segundo Claudinei, que é professor, há no ambiente escolar sanitários separados por gênero para alunos maiores, mas existe também um local para crianças da educação especial, as quais necessitam de monitoria para o uso dos toaletes.
“O que acontece é que a escola, além de atender essa faixa etária (4 – 5 anos), atende crianças da educação especial, tratando-se de uma escola inclusiva. Em razão das idades e dos perfis todas as crianças sempre vão acompanhadas de seus professores ou monitores ao banheiro. Tratando-se de um banheiro adaptado a crianças muito pequenas, que jamais vão lá sozinhas”, afirmou.
“Este banheiro serve apenas para que as docentes acompanhem os menores. Não se trata de um banheiro unissex para os alunos, conforme levam a crer as fake news”, reforça.
“Nos sentimos injustiçados com a demissão do Claudinei, porque ele realmente fazia um excelente trabalho aqui na escola. Muito dedicado à instituição, atencioso com os alunos e professores. O que mais causa revolta é que acabou demitido por uma mentira”, lamentou uma professora em conversa com o Pragmatismo.
“A exoneração do diretor da escola com base nas fake news é uma atitude desproporcional e injusta. O diretor precisou emitir até uma nota pública para se defender de uma polêmica vazia e baseada em intolerância e fundamentalismo religioso. Inacreditável!”, afirmou o deputado Fábio Félix.