Filha de Olavo pede para Deus perdoar o pai por "todas as maldades" que ele cometeu em vida. Heloisa diz que não está "feliz nem triste" com o falecimento do escritor: "Comemorar a morte de qualquer pessoa é assinar atestado de total falta de humanidade"
Heloisa de Carvalho, filha do escritor Olavo de Carvalho, se manifestou nesta terça-feira (25) sobre a morte do pai. “Deus perdoe ele de todas as maldades que cometeu”, escreveu Heloisa no Twitter.
A assessoria de Olavo de Carvalho afirmou no último dia 16 de janeiro que o guru do bolsonarismo havia sido diagnosticado com Covid-19, mas que lutava para se recuperar da doença. O escritor era um crítico da vacinação e também enfrentava outros problemas de saúde.
“No dia que Olavo postou que não existia uma morte por Covid, eu perdi uma querida amiga, que era viúva e deixou três crianças com menos de 10 anos órfãs. Olavo morreu de Covid. Não tem como eu sentir grande tristeza pela morte dele, mas também não estou feliz. Sendo sincera comigo e meus sentimentos. Tô bem e em paz comigo, minha consciência e com Deus. Comemorar a morte de qualquer pessoa é assinar atestado de total falta de humanidade”, escreveu Heloisa de Cavalho.
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Durante a pandemia, Olavo de Carvalho fez diversas publicações com teor negacionista nas redes sociais. Em uma dessas postagens, escreveu: “Dúvida cruel. O vírus mocoronga mata mesmo as pessoas ou só as ajuda a entrar nas estatísticas?”.
Em sua conta no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro lamentou a morte do escritor. Nos últimos anos, como presidente da República, o chefe do Executivo ignorou a maior parte dos óbitos de artistas e intelectuais brasileiros.
“Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do país, o filósofo e professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi gigante na luta pela liberdade e farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, afirmou Bolsonaro.
“Arquiteto” do bolsonarismo
João Cezar Castro Rocha, professor titular de literatura comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), disse em junho que “o sistema de crenças Olavo de Carvalho explodiu na cultura brasileira com data marcada: 2015.”
“Nas manifestações de 2015, surgiu uma frase e gritada por manifestantes: ‘Olavo tem razão!’. Você acha que essas pessoas todas leram Olavo de Carvalho? Claro que não. Mas um sistema de crenças não é contestável pela realidade, é um sistema lógico autocentrado que, quanto mais atacado, mais se fortalece. As pessoas se convencem de que Olavo está sendo atacado porque tem razão”, afirmou Castro Rocha.
Tiago Medeiros, professor de Filosofia do Instituto Federal da Bahia (IFBA), que realizou parte de seus estudos de doutorado na Universidade de Harvard, nos EUA, afirmou que Olavo ajudou a “sofisticar” o discurso de Bolsonaro para as massas”
“Associado a Olavo de Carvalho, Bolsonaro deu caráter universal a esse conservadorismo difuso, associando a necessidade de proteção da família a uma série de movimentos ‘ameaçadores’ que acontecem mundo afora: o comunismo, a China, o tráfico de drogas, os movimentos LGBT”, afirmou Medeiros.
Odilon Caldeira Neto, professor de História Contemporânea na Universidade Federal de Juiz de Fora e um dos coordenadores do Observatório da Extrema Direita Brasileira (OEDBrasil), disse em novembro do ano passado, que a relação entre Olavo e Bolsonaro existe desde uma manifestação em apoio ao então deputado após declarações ao CQC, em 2011, na Avenida Paulista, em São Paulo.
“Aquele ato no vão livre do MASP, que trouxe desde neointegralistas a neonazistas, skinheads, outros grupos da extrema direita, indivíduos com camisas em homenagens ao Olavo de Carvalho, foram fundamentais para a extrema direita, há dez anos atrás, reconhecer que Bolsonaro era o seu grande representante”, disse.