Morte do policial Jason Rivera provoca comoção em Nova York
Policial novato assassinado em Nova York virou símbolo do crescimento da onda de violência relacionada a armas de fogo nos EUA. Disparada nas mortes violentas acontece no momento em que o país registra recorde em vendas de armamentos. Milhares de policiais foram às ruas para a despedida de Jason Rivera, de 22 anos
Nova York rendeu nesta sexta-feira (28) uma homenagem a um dos dois jovens policiais assassinados há uma semana em um tiroteio no Harlem, símbolo do aumento da violência na megalópole que o novo prefeito Eric Adams quer interromper com uma política mais repressiva.
Milhares de policiais uniformizados vindos de todo o país se aglomeraram em frente à Catedral de São Patrício e ao longo de aproximadamente dois quilômetros da 5ª Avenida, em Manhattan, sob uma chuva congelada persistente.
Diante de funcionários, familiares e policiais que assistiram à missa para Jason Rivera, de 22 anos, o prefeito Adams enalteceu a memória de um agente que chamou de “herói”. “Ele foi um herói”, disse o prefeito, que é ex-capitão da polícia de Nova York, em um ambiente carregado de emoção.
Ao término da missa, o silêncio tomou conta da habitualmente barulhenta 5ª Avenida durante a passagem do carro funerário (imagens abaixo) com o corpo do jovem policial rumo ao cemitério para ser sepultado.
Rivera foi assassinado em 21 de janeiro por um homem de 47 anos ao comparecer a um apartamento no Harlem após uma denúncia de uma briga familiar violenta. O atirador morreu na segunda-feira por causa dos ferimentos sofridos e um segundo policial, Wilbert Mora, de 27 anos, também não resistiu e faleceu na terça-feira.
As mortes violentas dos jovens policiais aumentam a pressão sobre o novo prefeito Eric Adams, um ex-capitão de polícia afro-americano de Nova York, e também o descontentamento e a frustração entre os policiais.
“É o momento mais difícil em mais de 20 anos de carreira. Os ânimos estão baixos e muita gente está pensando em se aposentar ou até mesmo em deixar a polícia”, disse um sargento.
5 policiais mortos
Cinco policiais — incluídos os dois que interviram no Harlem — foram baleados em Nova York desde 1º de janeiro, ressaltou Adams na semana passada, um integrante do Partido Democrata que assumiu o cargo com a promessa de lutar contra a insegurança.
O segundo prefeito afro-americano na história de Nova York anunciou na segunda-feira o restabelecimento das patrulhas de policiais à paisana, “unidades anticrime” rebatizadas como “unidades antiarmas”, que foram desarticuladas em 2020 após a morte do afro-americano George Floyd, assassinado por um policial branco em Minneapolis.
Sob a gestão do magnata Michael Bloomberg (2002-2013), esses policiais foram denunciados por suas operações polêmicas contra jovens negros e latinos suspeitos de portar armas.
Além dos casos contra policiais, a violência tem ressurgido na ‘Big Apple’ como um todo, algo que se acreditava pertencer ao passado. Em 14 de janeiro, também no Harlem, uma porto-riquenha de 19 anos foi assassinada a tiros por um ladrão no restaurante de ‘fast food’ em que ela trabalhava.
No dia seguinte, uma mulher asiático-americana de 40 anos foi empurrada sobre a linha do metrô por um mendigo esquizofrênico quando um trem chegava em alta velocidade à estação de Times Square. Na terça-feira, em pleno meio-dia, um homem de 35 anos foi ferido por disparos dentro da emergência de um hospital no Bronx.
A violência armada em Nova York aumentou 4,3% em 2021 em comparação com 2020, ano em que o índice já havia crescido em relação ao anterior.
O presidente Joe Biden viajará a Nova York em 3 de fevereiro para falar de sua estratégia de “luta contra a violência”, em um país onde existem mais de 400 milhões de armas de fogo nas mãos de particulares, que são uma das principais causas de morte.
Violência em todo os EUA
Nova York não é a única grande cidade americana afetada pela onda de assassinatos relacionados a armas de fogo. Só nos 25 primeiros dias do ano, 1.100 pessoas morreram vitimadas por armas de fogo, um recorde.
Cerca de 20.000 pessoas foram vítimas de homicídio em 2021, e outras 19.486 morreram em 2020. Para efeito de comparação, em 2019, antes da pandemia, os Estados Unidos contabilizaram 15.468 homicídios.
A disparada nas mortes violentas acontece no momento em que os Estados Unidos registram recordes em vendas de armamentos. Desde o início da pandemia, em 2020, os americanos compraram 41 milhões de armas. Trata-se de um salto de 64% na comparaçao com o período anterior à crise sanitária.
Observadores afirmam que a desestabilização da economia causada pelo coronavírus, somada aos protestos nacionais antirracismo e à polarização política das últimas eleições presidenciais estão por trás da disparada.
Entre os que adquiriram armas no período recente, 3,2 milhões estavam adquirindo o item pela primeira vez.
com informações da AFP