"Judiciário não pode afagar delírios negacionistas", disse juíza ao negar prisão de William Bonner. Autor da ação alegou que apresentador do JN integra organização criminosa que tem como objetivo 'falar dos impactos positivos da vacinação no combate à pandemia' e que isso significa 'induzir pessoas ao suicídio'
Um homem ingressou na Justiça pedindo a prisão do apresentador do Jornal Nacional, William Bonner. Segundo o signatário da ação, o âncora do JN e outros repórteres da emissora seriam integrantes de uma organização criminosa que tinha como objetivo falar sobre os impactos positivos da vacinação no combate à pandemia.
O autor da ação alegou, ainda, que o jornalista comete o crime de “indução de pessoas ao suicídio”, de “causar epidemia” e de “envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo”. Na análise do caso, a juíza Gláucia Falsarella Pereira Foley considerou o pedido como descabido.
“Vivemos tempos obscuros traçados por uma confluência de fatores. É preciso coragem, maturidade e consistência política e constitucional para a apuração das devidas responsabilidades pelas escolhas que foram feitas. Nas palavras de Churchill, a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais. Os inúmeros mecanismos de pesos e contrapesos da democracia nos colocaram na presente situação, mas será somente por meio dela que o Poder Judiciário, trincheira do Estado Democrático de Direito, poderá colaborar para que ensaiemos a superação da cegueira dos nossos tempos.”
Para a magistrada, o Poder Judiciário não pode afagar delírios negacionistas, reproduzidos pela conivência ativa – quando não incendiados – por parte das instituições, sejam elas públicas ou não. A juíza destacou ainda o exercício da liberdade de imprensa e o direito destes profissionais de proferir críticas.
O pedido de prisão foi feito por Wilson Issao Koressawa, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) e ex-candidato a deputado distrital. Em 2020, Wilson impetrou um pedido de prisão no Superior Tribunal Militar (STM) contra 40 autoridades consideradas críticas do atual presidente.
Flávio Bolsonaro já processou Bonner
Wilson Issao não é o primeiro bolsonarista a acionar a Justiça contra William Bonner. O próprio filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro, registrou uma queixa na DRCI (Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática) por uma suposta desobediência a uma decisão judicial por parte de Bonner e Renata Vasconcellos.
Na ocasião, a Justiça decidiu favoravelmente aos funcionários da Globo e ainda deu um puxão de orelha no filho do presidente: “Pau que nasce torto, morre torto”. Relembre o caso no link abaixo:
— Justiça arquiva processo contra Bonner e Renata e dá bronca em Flávio Bolsonaro