Sergio Moro inicia o ano na Paraíba com a dura missão de destravar sua candidatura no Nordeste e conseguir unidade dentro do próprio partido, dirigido no estado por ala mais progressista
O ex-juiz Sergio Moro (Podemos) iniciou sua jornada política em 2022 na Paraíba com a dura missão de conseguir destravar sua candidatura no Nordeste e aglutinar as dissidências dentro do seu próprio partido. Moro desembarcou em João Pessoa (PB) no início da tarde desta quinta-feira (6) e foi recebido por lideranças locais.
Na Paraíba, Moro dialogará com um Podemos progressista, que compõe a base de João Azevêdo (Cidadania) — governador aliado de Lula e cujas ações na pandemia incomodaram o presidente Jair Bolsonaro (PL).
As últimas pesquisas de intenção de voto para presidente na Paraíba revelam o tamanho da dificuldade eleitoral enfrentada por Moro na região. Em agosto de 2021, Moro somava 0,7% segundo a pesquisa Datavox/PBAgora. Em 28 de novembro, semanas após a filiação do ex-juiz ao Podemos, ele alcançou 2,4% em um levantamento do mesmo instituto, atrás de Ciro Gomes (4,5%), Bolsonaro (21,6%) e Lula (51,7%).
A manutenção de um desempenho tão frágil no Nordeste, onde estão concentrados 27% dos eleitores, arruinará as esperanças de quem acredita em Moro como uma força de terceira via capaz de alçar voos mais ousados na eleição presidencial. No entanto, o presidente do Podemos na Paraíba acredita que há muito espaço para reversão de quadro.
“Embora [os levantamentos] demonstrem percentual baixo no Nordeste e na Paraíba, temos pesquisas internas que apontam para uma boa margem de crescimento da candidatura Moro. O brasileiro, em sua maioria, ainda se encontra indeciso e no Nordeste não é diferente. O Podemos pretende mostrar que Sergio Moro tem um projeto de país, com ideias na economia, na área social. À medida em que o plano de governo passa a ser exposto, há uma tendência de reversão desse baixo percentual, até porque as pesquisas também revelam um grande número de eleitorado de terceira via”, afirmou Júnior Pires, presidente do Podemos-PB, em conversa com o Pragmatismo.
As composições de Moro com ‘bolsonaristas arrependidos’ prosperam em estados do Sul e Sudeste, mas no Nordeste a estratégia não parece que será suficiente para retirar o ex-juiz da atual zona de apatia eleitoral. Na Paraíba, por exemplo, simpatizantes do ex-juiz da Lava Jato admitem que Moro precisará, para avançar, ir muito além da aliança com o deputado federal Julian Lemos (PSL), ex-coordenador da campanha presidencial de Jair Bolsonaro em 2018.
“A aproximação com Julian Lemos é natural. Ele coordena na Paraíba um grupo suprapartidário de apoio a Moro. Todo mundo tem o direito ao arrependimento e não continuar no erro. Vale destacar que Bolsonaro também se beneficiou eleitoralmente em 2018 da pauta anticorrupção, muito atrelada a Sergio Moro. É natural que essas pessoas que acreditaram em Bolsonaro por conta desse discurso estejam agora migrando para Moro, tendo em vista o fracasso do governo Bolsonaro no combate ao crime e à corrupção”, observou Júnior Pires.
Os desafios no Nordeste
Mais do que em qualquer outra região, é no Nordeste que Moro necessita despir-se do manto de paladino da ética e da Justiça. Se a pauta da moralização representasse o ‘caminho das pedras’, por que o candidato associado ao fim da fome e da miséria estaria nadando de braçada nas projeções eleitorais? Essa é uma das questões que desperta a atenção dos marqueteiros de Moro, que correm contra o tempo para maquiar a falta de traquejo político do pré-candidato do Podemos.
É no Nordeste onde Moro enfrentará seus principais desafios, pois na região estão escancaradas as maiores contradições entre discurso e prática no cenário político nacional. Na Paraíba, o ex-juiz terá a primeira oportunidade para compreender por que o homem que ele colocou atrás das grades não apresenta sequelas do período em que esteve no cárcere.
“Parece que muita gente do Sul e do eixo Rio-SP, onde estão concentradas a mídia e as grandes empresas, esquecem que o Nordeste existe. É uma região que só é lembrada quando a eleição se aproxima”, avalia o cientista político Alberto Almeida.
Júnior Pires elogiou o fato de Moro ter iniciado sua jornada em 2022 no Nordeste. “É simbólico que tenha começado o ano eleitoral na Paraíba. Moro falará com todos os segmentos: classe política, setor produtivo, com os empresários”.
O presidente do Podemos-PB ainda rebateu a recente especulação de que Moro declinará da aspiração à Presidência caso não evolua nas pesquisas a ponto de demonstrar verdadeira competitividade para alcançar o 2º turno. “O Podemos tem um projeto de candidatura à Presidência e Moro já está nas ruas buscando isso”.
Após prestigiar a festa de aniversário de Julian Lemos, Moro deixará a Paraíba no sábado e seguirá para o Ceará e o Piauí, outros dois estados também governados por políticos de esquerda e onde o ex-juiz não terá palanque garantido para a disputa de 2022.