Silvio Santos é condenado a pagar R$ 4 milhões a Rachel Sheherazade
Na sentença, juiz entendeu que Silvio Santos utilizou o seu poder de figura notória no meio artístico e empresarial para repreender Sheherazade não somente como profissional, mas por questão de gênero, rebaixando-a pelo fato de ser mulher: "Tal conduta não reflete o que se espera em uma sociedade civilizada"
Silvio Santos e o SBT foram condenados em primeira instância a indenizar Rachel Sheherazade em R$ 4 milhões. Além de uma ação por direitos trabalhistas, a jornalista teve reconhecido pelo juiz o pedido de indenização por danos morais em razão de um episódio ocorrido no “Troféu Imprensa” de 2017.
O juiz Luis de Oliveira considerou que Silvio Santos teve uma fala misógina, de “claro constrangimento”, ao dialogar com a ex-funcionária no palco da premiação.
“Um verdadeiro ‘puxão de orelha’, em linguagem do cotidiano, em cadeia nacional, que envergonhou, como há de se convir, até mesmo o simples espectador do programa. Isso, efetivamente, vem gerando repercussões negativas até os dias de hoje”, diz o juiz na sentença.
Silvio afirmou para Rachel que ela não foi contratada para dar opiniões políticas, como a ex-apresentadora do “SBT Brasil” tinha o hábito de fazer na bancada do telejornal. O vídeo da participação de Sheherazade no “Troféu Imprensa” de 2017 está disponível no canal oficial do SBT no YouTube e já teve mais de 1,300 milhão de visualizações.
Silvio Santos: “Você começou a fazer comentários políticos no SBT e eu pedi para você não fazer mais, né, porque não pode fazer porque você foi contratada para ler notícias e não foi contratada para dar a sua opinião, se você quiser fazer política compra uma estação de televisão e vai fazer por sua conta, não é; aqui não”.
Rachel Sheherazade: “Você me chamou para opinar”.
Silvio Santos: “Não, chamei para você continuar com a sua beleza, e com a sua voz, para ler as notícias no teleprompter e não foi para você dar a sua opinião”.
O juiz entendeu que o empresário e apresentador agiu de maneira “muito deselegante e abusiva”, com “comportamento misógino” e que “utilizou o seu poder patronal e de figura notória no meio artístico e empresarial para repreendê-la não somente como profissional”.
Mas, sobretudo – como se pode concluir -, por questão de gênero, rebaixando-a pelo fato de ser mulher, a qual, segundo expressou, deveria servir como simples objeto falante de decoração.
O termo misoginia vem do grego e significa ódio ou desprezo à mulher. É uma visão sexista, que coloca a mulher em uma condição inferior à do homem.
Para o juiz, tal conduta observada em Silvio não reflete o que se espera em uma sociedade civilizada. O magistrado diz na sentença ter tido a impressão que Rachel foi levada à premiação para ser constrangida. “Sendo diminuída em público por ser simplesmente mulher que, aos olhos do referido apresentador, em razão de seus aspectos físicos, deveria se limitar a ler notícias. Apenas por isso, aliás, teria sido contratada”, afirma.
Ser idoso ou ser ‘brincalhão’, já se disse, não pode servir de passe para a prática de atos nitidamente preconceituosos, para falar o menos.
Pelas redes sociais, Sheherazade comemorou: “Parabéns aos meus advogados e a toda equipe do escritório Mainenti Grossi Froes de Aguilar pela gigantesca vitória! Ainda falamos em primeira instância, mas independentemente de qualquer coisa já me sinto vitoriosa”.