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“Tô vendo uma esperança”

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A rejeição a Bolsonaro e o flagelo da Lava Jato são motivadores para o eleitor optar pela volta de alguém que representa um período em que o Brasil foi referência de crescimento econômico, diminuição da desigualdade e protagonismo internacional

Anderson Pires*

O ano de 2021 não foi fácil. Os mesmos fantasmas de 2020 continuaram a assombrar. As dificuldades para viver no Brasil não mudaram. A pandemia teve seus piores dias com picos de mais de 4 mil mortes. O negacionismo que se instalou no Governo Federal continuou a produzir estragos e muito sofrimento. O que poderia ser mera ignorância, mostrou requintes de crueldade. Ficou claro que existe uma mescla de incompetência e muita ruindade.

O presidente Bolsonaro não deu um dia de trégua ao povo brasileiro no que diz respeito ao combate a pandemia. Fez de tudo: dificultou a compra de vacinas, desacreditou da eficácia das vacinas, promoveu aglomerações, desdenhou do uso de máscaras e brincou com a desgraça alheia. O ocupante do principal cargo no país só não espalhou mais maldade porque foi barrado pela Justiça e teve a oposição de Governadores e Prefeitos. Não fosse isso, é difícil saber qual o cenário que teríamos, provavelmente, milhões de mortes.

Não bastasse todo o estrago provocado pela pandemia, a economia brasileira passou a servir exclusivamente a especuladores. Pouco importa à inflação nas alturas, o desemprego e milhões de pessoas vivendo na completa miséria, se os ganhos daqueles que já têm tanto serão sempre maiores. Ficou mais que claro que pobre morrer de fome não é nada que provoque comoção a esse Governo.

Mas não parou por aí. Em todas as áreas tivemos exemplos de retrocesso, de ataques a democracia e de desmonte das instituições. Na cultura, em muitos momentos, remetemos aos tempos da censura mais abjeta e tacanha. Na educação, o Ministro acredita que apenas a elite deve ter acesso e que a repressão é um mecanismo aceitável. No tocante aos direitos humanos, as aberrações são diversas. Basta lembrar que temos Damares Alves como Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e na Presidência da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que chegou a chamar o movimento negro de escória maldita formada por vagabundos.

Por mais que se tente, não se consegue extrair em 2021 algo no Governo Bolsonaro que sirva de alento ou positivo. O que podemos dizer que existiu de bom? A maioria da população constatou que a aposta feita em 2018 levou o país para o caos, que não se pode brincar com a democracia e nem ser permissivo com alguém que parecia apenas um bravateiro, que na verdade é muito pior e sem qualquer freio.

Mas o que teve de bom em 2021?

Sem dúvida a quebra do ciclo lavajatista foi bom para o Brasil. Após o ex-juiz Sérgio Moro ser desmascarado junto com Dalagnol, ficou explícito que sempre usaram o Estado para fazer política e promoverem o desmonte das principais empresas do país, e, consequentemente, favorecerem interesses externos. A política que antes faziam sob o manto protetor dos cargos públicos que ocupavam, aliados a setores da mídia, agora não têm mais como esconder. Ambos serão candidatos em 2022 e a farsa foi desvendada, após toda tragédia que proporcionaram.

Em decorrência desse conjunto de acontecimentos, o ex-presidente Lula se consolida como principal alternativa em 2022. A rejeição a Bolsonaro e o flagelo da Lava Jato são motivadores para o eleitor optar pela volta de alguém que representa um período em que o Brasil foi referência de crescimento econômico, diminuição da desigualdade e protagonismo internacional.

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Não será uma eleição fácil como muitos pensam, mas parece que o próprio Lula está mais que precavido, visto que tenta construir um grande campo de alianças, capaz de contrariar até o seu eleitor mais antigo. Porém, estamos falando de quebrar um ciclo que promoveu fome e miséria. Mesmo não tendo concordância estratégica, a tática não pode ser desconsiderada quando se tem problemas tão urgentes.

Podemos constatar que apesar de tanta destruição existe esperança. Certamente, ninguém poderia atuar melhor no papel de elevar a autoestima e fazer o povo brasileiro acreditar que é possível uma nova guinada. Lula foi o mais morto dos políticos que esse país já teve. Sofreu uma tentativa de extermínio. Passou quase dois anos preso e durante esse longo período não perdeu a crença que iria desmontar a ação político-jurídica que foi vítima. Não bastasse isso, passou por todo esse processo sem perder a alegria, muito menos a capacidade de amar.

Se existe alguém inspirador no Brasil, esse é o Lula. Analisar as mazelas de 2021 é algo fácil. Não estive imune a elas. Na verdade os impactos no campo profissional e financeiro foram muito grandes. Mas quero finalizar com um olhar de esperança. Se os problemas foram muitos, estou na categoria dos privilegiados que não perderam pessoas em decorrência da pandemia. Lembro que desfruto de amigos e minha família mais próxima não tem ninguém que compactue com as práticas fascistas e antidemocráticas de Bolsonaro. Muito pelo contrário, minha mãe serve de inspiração. Não temos grupos de whatsapp, mas com certeza terminaríamos o ano sem deserções.

Também me conforta o filho que tenho. Em meio a tantas influências que nossos jovens são submetidos, que em grande parte promovem alienação, com apenas 13 anos de idade ele me surpreende com seu senso humanitário e democrático e a busca de referências na história, que me enchem de orgulho. Bento é um inquieto e sua frequência me faz lembrar da energia que já tive para lutar pelo que acredito.

Em 2021, ainda tive a chance de repensar questões imprescindíveis para qualquer pessoa. Amizades e amores são parte da nossa essência. Nesse quesito o ano foi muito generoso. Construí boas amizades, uma pequena bolha que, de certa forma, protege da desumanidade que nos cerca. E, mais que isso, tive a sorte de encontrar um amor, que me seduz e empolga diariamente.

Não foi um ano fácil, mas termino com esperança.

*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.

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