Demitido da Jovem Pan após gesto associado ao nazismo, Adrilles diz ter sofrido 'assédio moral' durante telefonema com o proprietário da emissora. Considerado o "único ex-BBB que se tornou amigo de Bial", ele contou que foi xingado e relatou que o patrão estava preocupado com perdas de anunciantes
Comentarista bolsonarista da Jovem Pan, Adrilles Jorge disse que está muito magoado com a emissora e diz ter sido vítima de assédio moral ao ser demitido. Ele foi dispensado depois de erguer a mão direita no fim do programa “Opinião”, na terça (8). O gesto foi interpretado como uma saudação nazista.
A atração discutia justamente a demissão de Bruni Aiub, o Monark, do Flow Podcast depois de defender o direito de nazistas formarem um partido. Adrilles encerrou a atração com o gesto associado ao nazismo e deu risadas. O apresentador do programa pareceu incrédulo com o que acabara de testemunhar e afirmou: “Surreal, Adrilles”.
Segundo Adrilles, o dono da Jovem Pan, Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, conhecido como Tutinha, telefonou depois do programa e o destratou.
“Ele disse: ‘É surreal o que você fez, uma saudação nazista. Você fez uma merda, uma imbecilidade’. Me chamou de imbecil, me assediou moralmente”, afirma o ex-apresentador. “Acho que ele não tinha tomado o Rivotril [remédio usado para tratar distúrbios de ansiedade] dele direito.”
Adrilles segue: “Eu disse a ele que dei apenas um tchau. Ele falou que a Jovem Pan ia perder patrocínio, anunciantes. Comunicou que eu estava suspenso.”
Depois que o telefonema foi encerrado, no entanto, Adrilles soube que na verdade estava demitido. “Fui demitido por que? Porque dei um tchau? Ou porque ele [Tutinha] não aguentou a pressão da turba, dos canceladores? Ele cedeu à grana, aos influenciadores, à turba sedenta de sangue.”
A Jovem Pan divulgou uma nota em que afirma repudiar “qualquer manifestação em defesa do nazismo e suas ideias. Somos veemente contra a perseguição de qualquer grupo por questões étnicas, religiosas, raciais ou sexuais”.
Afirmou ainda prezar pelo “livre debate de ideias, mas não endossamos qualquer tipo de manifestação que leve ao discurso de ódio e reforce ideias que remetam a um episódio da nossa história que deve ser lembrado como símbolo de um erro da humanidade que não deve jamais ser repetido”.
A emissora finaliza a nota afirmando que “nossos comentaristas têm independência para emitir opiniões, respeitando os limites da lei, opiniões estas que não refletem as posições do Grupo Jovem Pan”.
Quem é Adrilles
Adrilles Jorge foi um dos poucos ex-participantes do “Big Brother Brasil” que se tornou amigo de Pedro Bial, que apresentou o reality show por 14 anos. Eliminado com 65% de rejeição, Adrilles era visto como um figurão no “BBB”, mas de excêntrico e “culto” ele se tornou um militante bolsonarista mais preocupado em chamar atenção por ataques a personalidades da mídia e por propagar declarações polêmicas sem contexto histórico.
Pedro Bial revelou, há alguns anos, que se aproximou do mineiro Adrilles Jorge por se identificar com o ex-BBB. Os dois eram grandes amigos. “Ele é um homem inteligentíssimo, cultíssimo e foi a única amizade que eu realmente fiz no programa. Nós nos falamos sempre”, afirmou Bial. Adrilles, até então, não expunha a relação próxima com o apresentador para preservar o amigo famoso. Para o escritor, Bial era somente Pedro.
“Geralmente, eu não falo do Pedro, mas é verdade que existe uma identificação muito grande entre nós. Somos escritores e jornalistas, temos gostos parecidos e as mesmas percepções do mundo, políticas, morais e intelectuais. Criou-se uma simbiose afetiva”, disse Adrilles.
Entretanto, foram justamente “as percepções de mundo” entre eles que mudaram drasticamente a relação. Adrilles falou sobre a amizade estremecida com Bial para o podcast Cortes do +1. “Ele entrou nessa onda de criticar o Bolsonaro. Um dia ele chegou para mim ‘você virou um defensor feroz desse genocida’, aí eu falei, ‘ah Pedro, é uma coisa meio infantil essa coisa'”.
Ainda no BBB, Adrilles ganhou destaque pela obsessão que demonstrou por Tamires, que nunca deu bola para ele. O sentimento pela sister beirava a obsessão (ele até tinha uma fama de stalker), o que causou repulsa na jovem. Tamires chegou a chamá-lo, por exemplo, de “nojento”, e disse que não aguentava mais conviver com o poeta na casa. Outro momento polêmico foi uma briga com Luan (imagem acima), um homem preto. “Seu lugar é em outro confinamento, bandidinho”, disparou o escritor.
Adrilles entrou na Jovem Pan em razão das críticas ao ex-presidente Lula (PT) e dos comentários favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro. Foi contratado, portanto, como representante da direita na rádio.
Na Jovem Pan, Adrilles colecionou polêmicas ao verbalizar absurdos. Ele negou o racismo e minimizou a escravidão, pregou contra o lockdown durante a pandemia, ofendeu André Marques e criticou Marília Mendonça após a morte da cantora. Também foi homofóbico com Tiago Abravanel e disse que Felipe Neto “podia morrer”.