ELEIÇÕES 2022

Aliança Lula-Alckmin gera divergências entre movimentos e siglas da esquerda

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Cientistas políticos analisam a resistência como “normal” e que deve diminuir após oficialização da união

(Imagem: Ricardo Stuckert)

Caroline Oliveira, Brasil de Fato

A formação da chapa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como candidato à Presidência nas eleições deste ano, e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (sem partido), como a candidato a vice do petista, já conta com o apoio significativo de movimentos, partidos e lideranças da esquerda. Mas, apesar de expressivo, o suporte está longe de ser unânime.

Entre aqueles que fazem votos à unidade, está o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Alexandre Conceição.

A nossa resposta é que o presidente Lula fique à vontade para escolher o seu vice” desde que sejam respeitadas as bases de um “programa econômico e político voltado a atender as necessidades do povo para recuperar a renda e retomar a reforma agrária e a produção de alimento saudável no país. Uma aliança mais ampla possível para derrotar o fascismo do Bolsonaro será bem-vinda“, afirma ele.

O dirigente ressalta que, “independente de Alckmin, é necessário ampliar as forças para derrubar Bolsonaro. Nós fizemos mais de 130 pedidos de impeachment e não derrubamos. Fizemos diversas mobilizações e não derrubamos. Se para derrubar for necessário ampliar a base para parte da elite e do setor empresarial, nós ampliaremos”, diz Conceição.

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Compartilha do mesmo posicionamento a presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Luciana Santos. Ela afirma que o contexto político atual de crescimento da extrema-direita no país, liderada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), demanda a construção de alianças mais abrangentes.

Muitas vezes [as alianças] são necessárias para poder fazer frente a uma disputa que será bastante acirrada.” A situação “acaba unindo aqueles que historicamente atuaram em campo opostos e têm divergência em questões de agenda econômica, mas que se unem em torno de um objetivo em comum que é barrar a escalada autoritária”, afirma Santos.

A presidente do PCdoB reconhece a resistência de alguns setores da esquerda em consentir com a aliança, uma vez que PT e PSDB – partido do qual Alckmin fez parte por mais de 30 anos – sempre ocuparam espaços antagônicos no cenário político desde a redemocratização no Brasil.

O Alckmin estava no PSDB, e é natural que as pessoas se inquietem. Mas eu creio que o contexto mudou. Nós estamos numa correlação de forças mais complexa, porque estamos confrontando uma candidatura da extrema-direita“, afirma Santos.

Nem todos apoiam…

Pablo Bandeira, da Coordenação Nacional do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Por Direitos (MTD), no entanto, não vê “pontos positivos na aliança com o ex-governador de São Paulo”. Para ele, o ex-presidente Lula “deveria estar mais preocupado em compor as alianças nos estados para a formação de uma base parlamentar sólida e que dê sustentação ao governo e o retorno das políticas sociais em caso de vitória”.

Em suas palavras, “o histórico de Alckmin não favorece a composição com a esquerda. Os governos tucanos, desde FHC, tiveram uma marca de privatizações, repressão aos movimentos populares e às manifestações de rua. Pensando no programa de governo, essa composição poderá significar grandes concessões ao neoliberalismo”.

Na mesma linha, o presidente nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – que surgiu em 2004 como dissidência do PT –, Juliano Medeiros, afirmou ao Estado de Minas que “o PSOL não está disposto a dar cheque em branco a qualquer partido ou candidato”.

Nós vemos como um problema o nome de Geraldo Alckmin como vice. Ele defendeu nos últimos anos todas as políticas que afundaram o Brasil. Defendeu a reforma trabalhista, a reforma da Previdência, o teto de gastos, para não falar que foi a favor do impeachment contra Dilma Rousseff, um processo político e sem provas”, disse Medeiros em entrevista ao programa Café com Política.

Lula não pode “cometer o erro de ter como vice um novo [Michel] Temer. O Alckmin está muito mais para Temer do que para [José] Alencar [ex-vice-presidente de Lula nas duas gestões do petista]”, completou.

O ex-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), entretanto, já garantiu que é “impossível” uma traição de Alckmin a Lula. França é o principal avalista da aliança e da filiação de Alckmin ao PSB.

Resistência é “normal”

Para o cientista político e autor dos livros A cabeça do eleitor e O voto do brasileiro, Alberto Carlos Almeida, a resistência é “normal”. “O PT nunca saiu da onde esteve, na esquerda. No momento em que vem Bolsonaro e se coloca mais à direita do que Alckmin, o tucano acaba indo para o colo da esquerda. Esse tipo de resistência é altamente compreensível”, afirma.

“O país se radicalizou, tanto na política quanto na sociedade e, quando se polariza demais, fica muito difícil chegar a um consenso. O que Lula e Alckmin estão fazendo é sinalizar para os seus seguidores que é possível despolarizar, enfatizando os pontos em comum e deixando de lado os pontos divergentes, pelo menos temporariamente.”

Almeida ainda destaca a importância de Alckmin para Lula conseguir fidelizar os votos de eleitores mais à centro-direita. “O fruto eleitoral é que a aliança consolida o eleitorado, mais do que ampliar. Tem um eleitor que já declara voto em Lula e que quando vê o Alckmin, se decide pelo Lula mesmo. O Alckmin ajuda a fortalecer um voto que já está em Lula.”

Na análise de Carolina Botelho, pesquisadora do Doxa – Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), ser contra a aliança Lula-Alckmin é um “erro estratégico e histórico”.

Uma posição errada, porque na situação atual isso deveria estar em segundo plano. A composição da chapa visa algumas outras questões. Uma delas é defender o sistema democrático. É uma maneira de unir os grupos em prol de uma necessidade de mudança, de abrir o diálogo e defender o sistema político e a democracia”, afirma Botelho. A cientista política acredita que com uma inclinação vinda do Lula, os setores contrários tenderão a apoiar a aliança.

Posicionamento dos partidos PSB e PT

Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, afirmou recentemente que a decisão pela aliança será firmada em um encontro do partido e que “vai ter gente contra e gente a favor”.

A presidente já garantiu, entretanto, que a aliança não implicará em mudanças nos posicionamentos e nas agendas do partido. “O PT tem um posicionamento político claro sobre o que quer para o Brasil e está no seu programa. As alianças político-eleitorais são para enfrentar a conjuntura. Então, não tem uma questão de posicionamento político alterado, as posições do PT vão continuar as mesmas. Isso não significa um abrandamento. Nosso discurso é o mesmo que o Lula está fazendo e nossa centralidade é o povo brasileiro. Significa que a gente quer uma amplitude para a defesa da democracia”, afirmou ao Correio Braziliense.

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, é um entusiasta da aliança e da filiação. Em entrevista à BandNews, em 10 de fevereiro, Siqueira chamou a chapa Lula-Alckmin de “ideia brilhante”. “Eu acho que a ideia de Alckmin como vice-presidente, que foi ideia do ex-governador Márcio França, foi brilhante”, disse.

Mais recentemente, Siqueira reforçou que Alckmin só não irá para o PSB “se quiser”. Também disse que o ex-tucano só não será vice de Lula “se quiser”. Desde que deixou o PSDB, em dezembro do ano passado, Alckmin está sem partido. A filiação ao PSB depende um tanto das alianças aos governos estaduais. Outras siglas também fizeram seus convites de filiação, como o Solidariedade, PV e PSD, que também mostraram apoio ao PT na eleição presidencial.

No PSB, o que ainda emperra a filiação de Alckmin é o desencontro entre ambos os partidos na escolha do candidato ao governo paulista, posição desejada tanto por Márcio França como pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT).

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França afirmou ao blog da Andréia Sadi nesta segunda-feira (21), entretanto, que a escolha sobre a candidatura ao Palácio dos Bandeirantes está nas mãos de Lula. “Quem vai decidir se serei eu ou Fernando Haddad vai ser o Lula. Ele é pragmático, sabe o que é melhor e é quem vai dar a palavra final”, disse.

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