Considerada a 'mais sonhadora da família', brasileira de 22 anos teve a vida virada de ponta cabeça após prisão na Tailândia. Jovem largou emprego de carteira assinada antes de viajar. Familiares temem pena de morte e querem que o caso chegue ao conhecimento de Bolsonaro
A brasileira Mary Hellen Coelho Silva, 22, foi presa no aeroporto de Bangkok, na Tailândia, com 15,5 quilos de cocaína. A família da jovem agora teme que ela pague pelo crime com a própria vida, uma vez que o tráfico de drogas no país asiático é punido com pena de morte.
Moradora de Pouso Alegre (MG), Mary Hellen sonhava em abrir uma loja de bolos na cidade mineira. Segundo a família, ela buscava ganhar dinheiro para custear o tratamento de câncer no útero que a mãe sofre, há três anos, e já evoluiu para a fase terminal.
Mary Hellen é a filha do meio entre cinco irmãos e sempre foi considerada a mais sonhadora da família, segundo a irmã, a estudante de enfermagem Mariana Coelho, 27, com quem ela dividia o mesmo teto. A jovem parou de estudar por alguns anos. Queria usar todo o tempo para trabalhar. Em 2022, tinha decidido retornar ao colégio, onde cursaria o 1º ano do Ensino Médio.
Natural do Rio de Janeiro, a jovem já havia trabalhado em vários ramos. Vendendo roupas, na fabricação e venda de bolos e doces e como atendente de uma churrascaria, com carteira assinada. Esse foi o seu último emprego, antes de embarcar para Tailândia. Pediu demissão, segundo a família, uma semana antes da viagem, mantida em segredo por ela.
“Ela sonhava alto. Queria uma vida melhor pra ela, para a sobrinha e nossa mãe. Por isso, só pensava em trabalho. Mas tinha decidido voltar a estudar esse ano para ter um currículo melhor, né? A gente já vinha vendendo bolos e doces na rua. Estava dando certo e pretendíamos abrir ainda esse ano a nossa lojinha”, conta a irmã.
A irmã da jovem também conta que Mary Hellen nunca teve envolvimento com drogas, com nenhum tipo de crime e não tem passagens pela polícia. A família não sabia da viagem para Tailândia e ela nunca tinha sequer saído do país.
As amigas da época do colégio não conseguem acreditar na prisão. Segundo elas, Mary Hellen era tranquila, não se envolvia em confusão e era considerada querida por todos. “Ela sempre foi muito amiga de todo mundo e muito boa com todo mundo também. Era respeitosa, confiável. Desde o diagnóstico de câncer da mãe, ela vinha sofrendo bastante. Ainda estamos em choque com a prisão dela”, contou Camila Eduardo Campos, 20.
Pedido de ajuda
A família não tem advogado especializado em casos internacionais para interceder no caso de Mary Hellen e vem usando as redes sociais para pedir ajuda. “Alguma ONG, algum advogado de renome, alguma autoridade, o Itamaraty. Esse caso tem que chegar à Presidência da República. Se ela errou ela tem que pagar, mas com prisão, no país dela. Não pena de morte”, desabafa a irmã, Mariana.
“Nosso objetivo é que ela não pegue a prisão perpétua ou pena de morte”, declarou a irmã. “No domingo passado ela fez contato comigo. Ela me mandou um áudio desesperada falando que tinha sido presa na Tailândia. Pediu para eu ajudar ela de alguma forma, entrar em contato com a embaixada brasileira, com o presidente. Só que eu não tinha noção da dimensão daquilo, não sabia da gravidade”, relatou.
“A gente quer uma notícia dela, saber como ela está sendo tratada lá. Acho que a família tinha direito de pelo menos saber como ela está. Imagina a gente aqui, uma semana, sem saber o que aconteceu. A gente não sabe nada. Esse crime gravíssimo e as vezes ela não tinha nem consciência do que estava acontecendo. Eu acho que ela não sabia de nada disso, pra mim ela foi enganada, induzida”, disse.
A família faz uma mobilização nas redes sociais para tentar que o caso chegue ao conhecimento da Presidência e para trazer Mary Hellen para o Brasil, onde preferem que ela seja julgada.
Em nota, o Itamaraty, por meio da Embaixada em Bangkok, informou que acompanha a situação e presta toda a assistência cabível aos nacionais, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local.
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Além de Mary, outros dois jovens brasileiros que estavam com ela também foram presos. A Tailândia é um dos países onde o tráfico de drogas pode ser punido com pena de morte, dependendo da quantidade e das circunstâncias.
“Acho que ninguém tem direito de tirar a vida de ninguém. Pagar com a vida é muito forte, né? Uma menina de 22 anos é muito jovem”, finalizou a irmã.