Dias antes do coma, cantora Paulinha relatou mal-estar em entrevista
Síndrome do sushi? Remédio para emagrecer? Em entrevista ao maior podcast do Brasil dias antes do coma, Paulinha Abelha reclamou de mal-estar e sensação de desmaio e deixou o programa diversas vezes. A cantora morreu nesta quarta-feira; médicos dizem que conteúdo da entrevista também será considerado na investigação do caso
Três dias antes de ser internada na UTI com tontura e ânsia de vômito, Paulinha Abelha reclamou de mal-estar e sensação de desmaio (vídeo abaixo).
“Eu senti um ‘passamento’, um desmaio (antes da entrevista). Mas nada que o PodPah não resolva, está tudo ótimo. Qualquer coisa, se eu ficar tonta, eu vou ali. Mas comi igual a uma lontra, ontem jantamos um sushi maravilhoso”, disse Paulinha ao PodPah, o podcast de maior audiência de Brasil, sediado em São Paulo. Durante o programa, ela se levantou várias vezes para ir aos bastidores.
Paulinha permaneceu em São Paulo, mas continuou mal e decidiu antecipar seu retorno a Sergipe com o objetivo de consultar um médico. A cantora foi internada e, onze dias depois do início de seus sintomas, diagnosticados como um problema renal, faleceu aos 43 anos. Ela apresentava um quadro neurológico grave, respirando com a ajuda de aparelhos e fazendo diálise para filtrar o sangue.
“Ela foi ao hospital porque estava tonta e com ânsia de vômito. Tanto que num primeiro momento todos pensaram que poderiase tratar de uma gravidez. Ela também sentia dor na hora de urinar”, conta a amiga Cynthia.
A último encontro das duas aconteceu na segunda-feira, antes do coma. “A aparência dela era a mesma de sempre. Ela não estava entubada, eu falei com ela, que apertou a minha mão”.
O relato de Cynthia bate com um áudio de Paulinha para um assessor antes de embarcar de São Paulo para Aracaju. “Eu vou embarcar com fé em Deus, viu? Não fui praí porque eu tava me sentindo muito tonta. Tontura demais”, diz ela. A cantora, na sequência, tranquiliza o interlocutor: “Já falei com o gastro do meu pai, que já me passou três tipos de remédios. Já tomei”. Na gravação ela afirma ainda que ia procurar o especialista assim que chegasse em Aracaju para fazer uma consulta e alguns exames. Paulinha foi direto do aeroporto de Aracaju para o Hospital da Unimed, onde ficou até a última segunda (14), sendo transferida depois para o Hospital Primavera.
Afinal, o que aconteceu?
Os médicos que cuidaram de Paulinha Abelha ainda tentam chegar a um diagnóstico sobre o que provocou o problema renal que levou a cantora à morte, e a entrevista ao PodPah foi considerada no ‘quebra-cabeças’ da investigação.
Entre as hipóteses investigadas pelos médicos estava a intoxicação por uso de remédios para emagrecer e diuréticos. Eles confirmaram que ela estava fazendo tratamento para perder peso, com o uso de fórmula receitada por um nutrólogo. “O medicamento foi prescrito e tinha acompanhamento de um profissional de saúde”, disse o diretor técnico do Hospital Primavera, Ricardo Leite.
Segundo Leite, os órgãos afetados passaram por biópsia para ajudar no processo de diagnóstico, mas não houve conclusão a tempo. Uma possível doença autoimune, quando o próprio corpo ataca o sistema imunológico, também foi investigada. Um possível quadro de comprometimento renal crônico anterior foi descartado, assim como a ligação de bactéria ou vírus com o quadro neurológico.
Um terceira hipótese foi a Síndrome de Haff, popularmente conhecida como “doença do sushi”. Ela é provocada por uma lesão muscular que resulta na elevação dos níveis séricos de creatina fosfoquinase (CPK) e, em alguns casos, provoca escurecimento da coloração da urina, variando de avermelhada a marrom, característica que a fez ser conhecida também como “doença da urina preta”. Ela tem rápido início após a ingestão de certos peixes e crustáceos.
A doença entrou na lista de investigação porque Paulinha Abelha comeu em um restaurante na véspera de sua primeira indisposição. “Comi igual a uma lontra, jantamos um sushi maravilhoso”, disse a cantora.
A síndrome é causada por uma toxina que pode ser encontrada em peixes como o tambaqui, o badejo, a arabaiana ou em crustáceos, como a lagosta, o lagostim e o camarão. Acredita-se que esses animais possam ter se alimentado de algas com certos tipos de toxinas que, consumidas pelo ser humano, provocam os sintomas. Contudo, a toxina, sem cheiro e sem sabor, surge quando o peixe não é guardado e acondicionado de maneira adequada. Para além da Síndrome de Haff, também não estão descartadas outras infecções causadas por peixe cru.
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