Cinema

Documentário “O Golpista do Tinder” é o filme do momento na Netflix

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Filme se tornou rapidamente um dos mais assistidos do ano na Netflix e fez barulho inesperado. A julgar pelo que vem sendo compartilhado nas redes sociais, ninguém imaginava que tantas pessoas já haviam passado pelo mesmo problema, com maior ou menor prejuízo

Simon Leviev

(ATENÇÃO: Contém spoilers)

O novo documentário da Netflix, Tinder Swindler [Golpista do Tinder], estreou na última quarta-feira (2/2) e já está no top 10 da plataforma. Baseado num caso que aconteceu em 2018, o documentário segue Cecilie Fjellhøy após ‘dar match’ com um homem israelense que conheceu naquele app.

Afirmando ser filho do bilionário russo-israelense Lev Leviev, magnata de diamantes, Simon Leviev vivia uma vida repleta de luxos, ao alcance de poucos. O casal conheceu-se presencialmente no dia seguinte num hotel de luxo em Londres e Cecilie foi surpreendida por um convite para voar até à Bulgária juntamente com o “príncipe dos diamantes”, num jato privado.

“Achei que seria estúpida se dissesse não”, explica a jovem. Seguiram-se então mensagens durante todo o dia, partilha de fotografias e vídeos no WhatsApp. O multimilionário nunca ficava muito tempo parado no mesmo local, por culpa dos seus “negócios”. Ainda assim, aparentava ter sempre tempo para estar com a sua amada, Cecilie. Eram vários os gestos carinhosos, como a oferta de grandes ramos de flores, jantares nos melhores restaurantes de cada cidade, viagens em jatos privados. Simon chegou mesmo a convidá-la para irem morar juntos. “Escolha a casa”.

A relação parecia ir de vento em popa, até que um mês depois de estarem juntos, o sonho começa a virar pesadelo. O suposto herdeiro do magnata dos diamantes, alertou a companheira de que corria risco de vida e que os “inimigos” estavam a persegui-lo. Para dar mais credibilidade à história, enviou fotografias e vídeos do seu segurança, Peter, ensanguentado e ferido. Explica que cartões tinham sido bloqueados e a única solução seria Cecilie ajudar como podia. Primeiro, pediu-lhe o cartão de crédito durante duas semanas, depois incentivou-a a pedir empréstimos à American Express. Ao todo, a jovem norueguesa contraiu empréstimos em nove bancos diferentes, num total de 250 mil dólares.

Dinheiro de Cecilie era usado com outras mulheres

Os credores começaram a pressionar a jovem mas Simon acalmou-a e passou-lhe um cheque de 500 mil dólares. Inválido. Cecilie pediu então ajuda e, assim que mostrou a fotografia do namorado à American Express, a reação dos presentes não deixou margens para dúvidas: estava namorando com um homem procurado por desviar milhões.

Enquanto a jovem norueguesa pedia empréstimos, Simon esbanjava esse dinheiro na companhia de outras mulheres: Pernilla Sjoholm e Ayleen Charlotte, sueca e holandesa, respetivamente. Ou seja, o estratagema passava por um esquema de pirâmide. Pernilla tornou-se apenas uma grande amiga do israelense, tendo viajado diversas vezes com ele de jato privado e participado de luxuosas e exclusivas festas.

A certa altura, a história volta a repetir-se e o charlatão volta a fazer nova vítima. Conta exatamente a mesma história que contou a Cecilie – Peter tinha sido ferido numa perseguição levada a cabo por inimigos e tinha tido as contas canceladas.

Pernilla começou por emprestar 30 mil dólares, para além de várias viagens para Simon e “a sua equipe”. Após isso, mais uma vez, como a todas as outras, Simon deu-lhe um cheque de 100 mil dólares. Sem fundos. Nessa altura, já Cecilie procurava mais informações sobre a pessoa que a tinha enganado e burlado em 250 mil dólares.

Após várias pesquisas, encontrou um artigo finlandês sobre um “multimilionário israelense que engana mulheres” – Shimon Yehuda Hayut. Contactou o maior jornal da Noruega – VG – e a partir daí, com a ajuda de uma equipe de jornalistas, começou uma investigação.

Simon roubou mais de 10 milhões de dólares

Foi então que Cecilie e Pernilla se conheceram e conseguiram colocar o caso em evidência na mídia. A reportagem da VG tornou-se viral e a cara e a história de Simon foram compartilhadas por todo o mundo. Foi graças a Cecilie, Pernilla e ainda Ayleen que o paradeiro de Leviev foi descoberto. Depois da publicação polêmica do jornal norueguês que detalhou todos os pormenores da investigação em 2019, o israelense acabou por ficar sem armas para lutar.

Passou de “príncipe dos diamantes” a “rei dos sem-teto”, tal como escreveu numa mensagem enviada a Ayleen que, nessa altura, era a sua última esperança. Ao todo, estima-se que Simon tenha roubado mais de 10 milhões de dólares. Desde os 17 anos que enganava pessoas e era procurado pela polícia israelense.

Pouco tempo depois da investigação conjunta das mulheres vítimas dos golpes com a equipe de jornalistas, Simon foi detido pela Interpol, na Grécia, e condenado a 15 meses de prisão pelos crimes cometidos em Israel. Saiu cinco meses depois por “bom comportamento” e – a julgar pelas suas publicações no Instagram – parece não ter quaisquer problemas financeiro.

Tornou-se uma espécie de “coach financeiro” e criou um site onde vende “cursos de investimentos” a partir de 311 dólares, tem uma companheira e continua a negar todas as histórias contadas pelas vítimas. Cecilie, Pernilla e Ayleen Charlotte ainda estão pagando as suas elevadas dívidas, e Simon nunca foi acusado por estes crimes.

O filme mostra que, apesar de todos os cuidados, a internet ainda é um terreno fértil para golpistas e estelionatários que estão esperando apenas uma oportunidade para atacar. O documentário também revela que a Justiça não é para todos, uma vez que o golpista segue em liberdade e gozando de uma vida aparentemente luxuosa.

Trailer: