Estudante negro de 20 anos teve foto publicada em grupo com 54 mil pessoas e foi acusado de ter furtado celulares: "Eu vi minha mãe passando mal de nervoso, porque ela ficou muito assustada, minha irmã também, por uma coisa que eu não cometi, que um cara simplesmente coloca na rede social afirmando que fiz uma coisa dessas"
O estudante Antônio Augusto Rosa, um homem negro de 20 anos, teve uma foto publicada em um grupo do Facebook com 54 mil pessoas e foi acusado de ter furtado celulares de uma loja em Contagem, em Minas Gerais. “Ladrão roubou no Eldorado JK, se alguém conhecer favor chamar no chat“, dizia a mensagem do post.
A vítima procurou a polícia assim que soube da postagem, para registrar Boletim de Ocorrência (BO) por calúnia. Ele acredita que foi acusado injustamente por ser negro.
“Eu vi minha mãe passando mal de nervoso, porque ela ficou muito assustada, minha irmã também, por uma coisa que eu não cometi, que um cara simplesmente coloca na rede social afirmando que fiz uma coisa dessas”, lamentou.
De acordo com o BO, circuitos de segurança registrados no dia 5 de janeiro deste ano foram divulgados no Facebook e mostram o rapaz caminhando pela avenida. Em determinado momento, ele passa em frente à loja Ligeirinho Lanches.
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Segundo funcionários da loja, que preferiram não gravar entrevista, dois celulares foram furtados por alguém que estava com uma blusa preta e calça jeans.
A pessoa entrou na loja pegou os aparelhos e correu. Ao analisar as câmeras de segurança da avenida, os funcionários acharam que a pessoa que cometeu o crime era o estudante e publicaram a foto dele na internet.
Antônio contou à polícia que tinha saído de um curso de Jovem Aprendiz no bairro Eldorado, por volta do meio-dia. Enquanto seguia para o ponto de ônibus, na Avenida José Faria da Rocha, passou em frente à loja.
O local do embarque é próximo do estabelecimento. O jovem relatou à polícia que ficou por lá durante 40 minutos, à espera do coletivo 810. Mais tarde, naquele mesmo dia, recebeu ligações de amigos que o informaram sobre as acusações em páginas da rede social.
A Polícia Civil declarou que, por se tratar de crime contra a honra, os procedimentos agora ficarão a cargo do Juizado Especial Criminal. Ainda segundo eles, o suspeito do furto dos celulares já foi identificado.
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Ameaças
O estudante revelou, em entrevista à TV Globo, que sofreu ameaças após a postagem e que tem medo de passar pelo local. Além de registrar boletim de ocorrência, Antônio contratou um advogado para responsabilizar o autor da postagem judicialmente.
“Na esfera criminal, a gente está olhando a questão da calúnia – imputar um crime a alguém sem ele ter cometido – e também a questão da injúria“, disse o advogado Gilberto Silva.
Racismo estrutural
O defensor também acredita que seu cliente foi vítima de racismo estrutural. “Estamos também vendo a questão desse racismo estrutural, por ser um rapaz negro, que estava nesse local, passando num momento de chuva, e aí tem a imagem dele vinculada a um crime. É a história do Brasil, onde as pessoas negras normalmente são tratadas como criminosas“, explicou.
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