Kataguiri não quer ser identificado com o nazismo, depois de ter defendido as liberdades e o direito de opinião dos nazistas
Moisés Mendes*, em seu blog
Kim Kataguiri vai usar a tática do véio da Havan e atacar com processos em massa contra quem escreve e diz o que eles não querem ler e ouvir. O deputado anunciou processos contra 17 pessoas e 4 veículos de comunicação, em uma tentativa desesperada de intimidação.
Kataguiri não quer ser identificado com o nazismo, depois de ter defendido as liberdades e o direito de opinião dos nazistas.
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Muitos dos alvos de Kataguiri são jornalistas. Como também são jornalistas, em maioria, os alvos do véio da Havan. Mas há em ambos os casos profissionais das mais diversas áreas.
O empresário tenta desesperadamente impedir que relembrem que ele se envolveu em delitos graves. Delitos e crimes que resultaram e ainda resultam em investigações, denúncias e processos. Todo mundo sabe.
Kataguiri tenta se livrar do estigma de defensor da teoria de que o nazista pode dizer impunemente o que pensa. Em 2019, Kataguiri cometeu uma contradição em relação a essas posições ditas ultraliberais.
Investiu contra o jornalista Altamiro Borges, que havia chamado o sujeito de fascista. Processou Altamiro, que venceu o processo na Justiça.
Eu escrevi sobre esse caso e republico o link do texto agora (ao final desse artigo) por entender que o argumento pela absolvição de Altamiro é decisivo para decisões em outros episódios assemelhados.
Altamiro Borges é um dos militantes e estudiosos do jornalismo ainda chamado de alternativo. Conversei com ele semana passada, em uma live com Benedito Tadeu Cesar, na TV da Rede Estação Democracia, sobre o que podemos esperar do jornalismo num terceiro governo Lula.
E depois dessas conversas sempre fica dependurada uma pergunta constrangedora: por que os jornalistas em geral não defendem os jornalistas sob ataque dessa gente?
Também conversei em janeiro com um dos jornalistas visados pelo véio da Havan. E a pergunta ficou ali, como uma mosca incômoda: por que uma minoria se manifesta publicamente?
Por que as entidades da categoria ficam caladas? É medo? É covardia? Por que não temos mais uma entidade com o poder da ABI de Barbosa Lima Sobrinho?
Não é uma situação normal. Os ataques não são normais, e não há paralelo com outras situações em que a Justiça tenha sido usada para calar em tempos de democracia.
Na ditadura, a Justiça foi amordaçada e esteve sob controle quase absoluto. Hoje, na democracia, a tática é a do uso e abuso do poder econômico e de imunidades diversas para perseguir os que eles consideram adversários e inimigos.
O caso do Lula é o caso de Lula. Os casos de gente comum não aparecem e não ganham a mesma dimensão. Como acontecia no nazismo.
Ontem, num comentário no meu perfil no Facebook, o jornalista Flavio Aguiar observou que a resistência de gente comum ao nazismo foi muito maior do que se imagina. Mas era uma resistência fracionada, dividida e muitas vezes desorganizada.
Importa que resistiam, desesperadamente. Outros contam e recontam as histórias de velhinhos que tentavam salvar pelo menos os bichos dos vizinhos da perseguição dos nazistas em Paris.
Os vizinhos mais assustados perguntavam: por que vocês estão fazendo isso?
Os velhinhos respondiam: por que vocês não estão fazendo nada?
Vamos tentar romper esses silêncios e agir como agem jornalistas com o tamanho do Altamiro Borges.
Segue o link do texto: FASCISTAS
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).
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