Cenas do jogo de videogame Arma III foram exibidas em programa ao vivo da Jovem Pan como se fossem do conflito na Ucrânia, e ex-ministro Ricardo Salles comentou. Episódio é emblemático para ilustrar como as manipulações de imagens de guerra são essenciais na formação da opinião pública. Levantamento mostra que vídeos falsos da guerra já são os mais compartilhados nas redes sociais
A cobertura da grande imprensa brasileira sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia tem preservado o tradicional baixo nível quando se trata de geopolítica e conflitos internacionais.
Na quinta-feira (24), a Jovem Pan exibiu um vídeo de uma série de disparos de tiros contra um avião e de mísseis no céu como se fossem imagens do confronto no leste europeu. Mas, na verdade, o vídeo era parte do popular jogo de videogame Arma III.
O comentarista Luís Artur Nogueira falava sobre impactos do conflito entre a Rússia e Ucrânia na economia mundial. Enquanto ele dava suas opiniões, as imagens do videogame eram exibidas. Os vídeos exibidos na Jovem Pan News tinham a marca d’água da rede social Kwai, concorrente do TikTok.
O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também participava da bancada da Jovem Pan no momento da gafe e seguiu discursando sobre a guerra, em cima das imagens.
O jogo Arma 3 se passa na década de 2030, com a fictícia Operação Magnitude, em que militares da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Europa entram em confronto com “inimigos do leste” liderados pelo Irã e apoiados por uma coligação entre países do Oriente Médio e da Ásia.
Os trechos que foram ao ar na Jovem Pan como se fossem cenas de guerra reais viraram piada na internet, principalmente por parte de gamers que logo identificaram o erro. A publicação com parte do Jornal da Manhã que continha cenas do jogo foi removido do perfil oficial da Jovem Pan no Twitter.
Vídeos falsos de guerra
As manipulações de imagens de guerra são essenciais na formação da opinião pública sobre os conflitos. Na época da guerra do Vietnã, o governo dos Estados Unidos se preocupou em garantir que a imprensa retratasse seus soldados como heróis e pacificadores e, inicialmente, apenas fotos que os glorificassem eram divulgadas. Essa é uma maneira de manter o apoio popular a um confronto. No entanto, não foi possível sustentar a farsa por muito tempo, e logo começaram a aparecer imagens aterrorizantes das baixas estadunidenses e do terror da guerra do Vietnã — o que fez com que a opinião pública dos EUA mudasse o conceito sobre aquela guerra.
Na última quinta-feira (24), os vídeos falsos da invasão russa estavam entre os mais vistos do Facebook por todo o planeta, sendo visualizados por mais de 110 mil pessoas e compartilhados mais de 25 mil vezes.
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